Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes
Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Poesia de Cecília Meireles.

Leio poesia, com alguma frequência. Encontrei estes versos de Cecília Meireles e resolvi passar aos leitores, como um refrigério para este mês de Agosto levemente tenso. Curtam-nos.


TRÂNSITO


Tal qual me vês,

Há séculos em mim:

números, nomes,o  lugar dos mundos

e o poder do sem-fim.



Inútil perguntar

por palavras que disse:

histórias vãs de circunstância,

coisas de desespero ou de meiguice.



(Mísera concessão, no trajeto que faço:

Postal de viagem, endereço efêmero,

Álibi para a sombra do meu passo...)



Começo mais além:

Onde tudo isso acaba, e é solidão.

Onde se abraçam terra e céu, caladamente,

E nada mais precisa explicação.



“De que são feitos os dias?
- De pequenos desejos,
Vagarosas saudades,
Silenciosas lembranças.
Entre mágoas sombrias,
Momentâneos lampejos:
Vagas felicidades,
Inatuais esperanças.
De loucuras, de crimes,
De pecados, de glórias,
 - do medo que encadeia
Toda essas mudanças.”

(Pastores da terra, que saltais abismos,
Nunca entendereis a minha condição.
Pensais que há firmezas, pensais que há limites.
Eu, não.)”

Vejo então por que estranho mundo
Andei, ferida e indiferente,
Pois tudo fica no sem-fundo
Dos seus olhos de eternamente”.

“Que procuras? Tudo. Que desejas? – Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão”.

“Vim da taverna ébrio de impossível,
Pisando sonhos, beijando o vento,
Falando à pedras, agarrando os ares...
- Oh! Deixe-me ir para onde eu for:...”

CANÇÃO



Não sou a das águas vista
Nem a dos homens amada;
Nem a  que sonhava o artista
Em cujas mãos fui formada.
Talvez em pensar que exista
Vá sendo eu mesma enganada.

Quando o tempo em seu abraço
Quebra meu corpo, e tem pena,
Quanto mais me despedaço,
Mais fico inteira e serena.
Por meu dom divino, faço
Tudo a que  Deus me condena.

Da virtude de estar quieta
Componho o meu movimento.
Por indireta e direta,
Perturbo estrelas e vento.
Sou a passagem da seta
E a seta, - em cada momento.

Não digas aos que encontrares
Que fui conhecida tua.
Quando houve nos largos mares
Desenho certo de rua?
E de teres visto luares,
Que ousarás contar da lua?




3 comentários:

  1. Poesia, candura, pensar em versos, transmitir vida....
    Cecília Meireles, Mestra da poesia e da arte de manusear as palavras!
    Antônio Carlos Faria Paz - Itapecerica/MG

    ResponderExcluir
  2. Adoro Cecília! Obrigada por compartilhar.

    Nívea Braga

    ResponderExcluir
  3. Muito lindo tudo de Cecilia Meireles

    ResponderExcluir