TRÂNSITO
Tal
qual me vês,
Há
séculos em mim:
números,
nomes,o lugar dos mundos
e
o poder do sem-fim.
Inútil
perguntar
por
palavras que disse:
histórias
vãs de circunstância,
coisas
de desespero ou de meiguice.
(Mísera
concessão, no trajeto que faço:
Postal
de viagem, endereço efêmero,
Álibi
para a sombra do meu passo...)
Começo
mais além:
Onde
tudo isso acaba, e é solidão.
Onde
se abraçam terra e céu, caladamente,
E
nada mais precisa explicação.
“De
que são feitos os dias?
-
De pequenos desejos,
Vagarosas
saudades,
Silenciosas
lembranças.
Entre
mágoas sombrias,
Momentâneos
lampejos:
Vagas
felicidades,
Inatuais
esperanças.
De
loucuras, de crimes,
De
pecados, de glórias,
-
do medo que encadeia
Toda
essas mudanças.”
(Pastores
da terra, que saltais abismos,
Nunca
entendereis a minha condição.
Pensais
que há firmezas, pensais que há limites.
Eu,
não.)”
Vejo
então por que estranho mundo
Andei,
ferida e indiferente,
Pois
tudo fica no sem-fundo
Dos
seus olhos de eternamente”.
“Que
procuras? Tudo. Que desejas? – Nada.
Viajo
sozinha com o meu coração.
Não
ando perdida, mas desencontrada.
Levo
o meu rumo na minha mão”.
“Vim
da taverna ébrio de impossível,
Pisando
sonhos, beijando o vento,
Falando
à pedras, agarrando os ares...
-
Oh! Deixe-me ir para onde eu for:...”
CANÇÃO
Não
sou a das águas vista
Nem
a dos homens amada;
Nem
a que sonhava o artista
Em
cujas mãos fui formada.
Talvez
em pensar que exista
Vá
sendo eu mesma enganada.
Quando
o tempo em seu abraço
Quebra
meu corpo, e tem pena,
Quanto
mais me despedaço,
Mais
fico inteira e serena.
Por
meu dom divino, faço
Tudo
a que Deus me condena.
Da
virtude de estar quieta
Componho
o meu movimento.
Por
indireta e direta,
Perturbo
estrelas e vento.
Sou
a passagem da seta
E
a seta, - em cada momento.
Não
digas aos que encontrares
Que
fui conhecida tua.
Quando
houve nos largos mares
Desenho
certo de rua?
E
de teres visto luares,
Que
ousarás contar da lua?
Poesia, candura, pensar em versos, transmitir vida....
ResponderExcluirCecília Meireles, Mestra da poesia e da arte de manusear as palavras!
Antônio Carlos Faria Paz - Itapecerica/MG
Adoro Cecília! Obrigada por compartilhar.
ResponderExcluirNívea Braga
Muito lindo tudo de Cecilia Meireles
ResponderExcluir