Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes
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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

FILHO ÚNICO.

O primeiro atendimento psicólogíco que tive em meu consultório foi de um filho adotivo. A adoção é cercada de muita celeuma. Assim também o filho úinico. Anos atrás passou em Belo Horizonte um belíssimo e pungente filme italiano chamado "Filho Único". E este tema é recheado de muitas opiniões contrárias. Há frases do tipo: quem tem um, não tem nenhum. E outras variantes, como o fato de ser muito mimado e mal criado. Bem, li uma pequena matéria em jornal e que passo para a consideração de meus leitores.

Foi-se o tempo em que ser filho único era sinônimo de ser mimado. O mito nasceu em 1896 com o livro “Of Peculiar and Exceptional Children, do psicólogo americano Granville Stanley Hall e influenciou pesquisadores durante décadas. Nele, o especialista descrevia os filhos únicos como pouco sociáveis e superprotegidos.

Recentemente, no entanto, novos trabalhos surgiram mostrando que não existem diferenças significativas no desenvolvimento emocional dos filhos criados sozinhos daqueles educados com irmãos. E mais: um estudo feito pela Universidade de Essex, na Grã-Bretanha, com mais de 100 mil pessoas em 40 mil lares, revelou que filhos únicos são mais felizes do que aqueles que têm irmãos.

Segundo a coordenadora da pesquisa Mas Gundi Knies, as principais razões para chegar a esse resultado é que o filho único não precisa lutar pela atenção dos pais, não sofre bullying dos irmãos mais velhos, nem recebe apelidos maldosos. Além disso, tem todo o investimento dos pais, ou seja, sobra mais dinheiro para se investir na educação da criança.

Se o problema era aprender a dividir, é preciso levar em conta que a realidade mudou. Há 20 anos, a maioria das mães não trabalhava e conseguia acompanhar os filhos o tempo todo. Nesse caso, um filho único teria toda a atenção para si. “Atualmente, é cada vez maior o número de mães que trabalham e a criança tem que aprender a dividir a atenção dos pais com outras prioridades”, diz Rita Calegari, psicóloga infantil do Hospital São Camilo (SP) e colunista da CRESCER.

Outra mudança está na idade em que as crianças entram na escola. Se antes elas começam a estudar aos 6 anos; hoje, é comum irem para o berçário com 1 ano apenas. E essa é uma nova chance de conviver com outras crianças, fazer amigos e, de novo, aprender a compartilhar.

“Os filhos únicos ainda saem ganhando porque aprendem a ficar sozinhos e esse momento é importantíssimo para pensar, imaginar e formar a própria identidade”, completa Rita. O mais importante, com ou sem irmãos, é que a família seja unida. Isso, sim, é garantia de felicidade!


E, então, mudou a sua opinião?



quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O Sentido da Vida..

Elucubrações em dia chuvoso.

POR QUE ESTAMOS AQUI OU O SIGNIFICADO DA VIDA.


O menino de cinco anos chegou perto da mãe e perguntou: qual o sentido da vida? Ela, engasgou, engasgou e não soube como responder.
Dois amigos estavam no bar, e, depois de muita cerveja, um pergunta ao outro: Por que estamos aqui? O outro responde: Ué , não é porque estamos com sede?
Queria falar de algumas coisas. Desde que, por uma diferença a mais no DNA, conseguimos raciocinar e falar, achamos que somos o centro do universo. Que somos os reis da criação. O senhor de todo o universo. A cultura judaico-cristã veio por mais lenha na fogueira ao dizer que fomos feitos “à imagem e semelhança de Deus”. Ah, depois desta ninguém nos segura. E daí pensamos que somos deuses. E ainda surge a idéia da alma. Que não vemos, não comprovamos, portanto nem sabemos se plantas e outros animais, que não os humanos, têm. Até mesmo os objetos, se quisermos ir mais longe. Só nós, homens e mulheres temos alma. (Como parêntese, parece que já teve Igreja dizendo que os negros não tinham alma, para justificar a escravidão).  Os deuses gregos também eram como os mortais. E como eles aprontavam no Olimpo. Com o desenvolvimento tecnológico, as conquistas de povos e nações, assim como territórios anexados a força ou por diplomacia, o ser humano está sentindo o tal, o “dono da cocada preta”. Mas, isto tem um preço. Se somos tão especiais, os banbanbans, tem que haver um sentido para esta vida. Afinal não iríamos estar aqui por nada. Existe um plano (eis um passo para a paranóia) Somos convencidos demais. Além dos bilhões e bilhões de pessoas que viveram antes de nós, hoje somos mais de seis bilhões de pessoas espalhadas por este planeta, mas achamos que somos únicos. Então começamos a nos angustiar. Para que vivemos? Qual o sentido de nossa existência? Começamos a teorizar: existe vida após a morte. Reencarnamos. Não são só os gatos que têm sete vidas. Temos inúmeras. Vamos e voltamos. A roda gira. Criamos um mundo espiritual. Veja como os filmes que abordam este tema são muito vistos. Procurados. Ansiosamente aguardados para responder à nossa angústia. Desejamos um sentido para nossa vida. Que alguém, um deus, ainda que sejamos criados à sua imagem e semelhança, nos dê esse sentido. Os homens de Neandertal, os hominídeos, os primeiros humanos não tinha com o que se preocupar. Nasciam, viviam e morriam. Este é o objetivo da existência: viver. Já que não sabemos porque nascemos. E nem o motivo de nossa morte. Ou melhor, como não sabemos porque morremos, criamos teorias para explicá-la, desde um “deus quis assim”, “vou pra o céu” (é interessante notar que todos querem ir para o céu, mas ninguém quer morrer), “ou vou reencarnar para melhorar”. Ah, esses humanos...Temos que ficar mais humildes. Ser menos petulantes.
Parafraseando o bêbado do bar, lá em cima, digamos: Por que estamos aqui? Ora, para viver.
Como? Ah, aí é que se abrem as grandes e fantásticas perspectivas.
E isto é tão positivo.





segunda-feira, 22 de novembro de 2010

.'UM HOMEM QUE GRITA" Filme especialíssimo

Cinéfilo, mas não crítico de cinema, quero dar minha percepção de um filme que vi neste final de semana.

UM HOMEM QUE GRITA...
Para quem está acostumado com as produções holliwoodianas, não vai gostar deste filme. Mesmo aqueles que saem do circuito cinematográfico europeu e se extasiam com os filmes iranianos vão ficar chocados. Mas vale a pena correr o risco e ir ao cinema assistir “Um Homem Que Grita”. E vá logo, antes que saia de cartaz. Não perca. Além de ser um filme africano (coisa raríssima), dirigido por um africano, com atores africanos – a única personagem não africana é uma “amarela”, uma chinesa,-  narra uma belíssima e triste história de guerra sem mortos (os únicos mortos que aparecem estão na TV), de amor filial com enorme capacidade de perdão, a globalização em seu estado maligno, o sofrimento e as reações patológicas de um pai e a importância de ser reconhecido por um feito esportivo acontecido há décadas. Ouvi expectadores comentarem que ele é lento. É. Tem um close fantástico no rosto do personagem principal. Não tem música. A não ser uma dolorosa e pungente canção árabe.
A primeira e última cena acontecem com os mesmos personagens, em um mesmo ambiente estranho à África árida (água), mas com sentimentos opostos: enquanto em uma há vida, alegria, felicidade, na outra vemos infelicidade, ausência de vida e sofrimento. E talvez até paz, diante da beleza do crepúsculo. A história se passa no Chade, com guerra entre rebeldes e forças do governo (o próprio diretor fugira de lá, carregando os pais, já envelhecidos, num carrinho de mão). No hotel, comprado pelos chineses, o zelador da piscina, um antigo campeão olímpico de natação pelo Chade, é demitido e em seu lugar é colocado o próprio filho. A partir deste momento, uma série de situações complicadas vai acontecendo, levando-o a sofrimentos e comportamentos incontroláveis.À mulher que reclama que ele mudou, responde: “o mundo mudou”. É verdade. O mundo mudou, o mundo muda. Mas temos que mudar com ele. Mudar o nosso comportamento. Mas de forma adaptativa, e não neurótica e patológica. Há momentos também de desespero e falta de fé em um Deus que, supostamente, os abandonara. Deixe a pipoca de lado e mergulhe nesse comovente filme.



terça-feira, 16 de novembro de 2010

REFLEXÕES TERAPÊUTICAS

Dois pontos que acho muito importantes como psicólogo. Primeiro, enfatizar que sempre o comando da própria vida é do sujeito. É ele que tem o leme na mão. É ele quem vai fazer o seu percurso. Segundo, ao psicólogo cabe ouvir. E fazê-lo refletir. Pincei estas frases e desejo que as leiam, reflitam e, quem sabe, ponham em prática.

Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina!” (Cora Coralina).
Estou buscando a felicidade.

REFLEXÕES PARA A TERAPIA

O resfriado escorre quando o corpo não chora.

A  dor de garganta entope quando não é  possível comunicar as aflições.

O estômago arde quando as raivas não conseguem sair.

O diabetes invade quando a solidão dói.

O corpo engorda quando a insatisfação aperta.

A dor de cabeça deprime quando as dúvidas aumentam.

O coração desiste quando o sentido da vida parece terminar.
 
A alergia aparece quando o perfeccionismo fica intolerável.
 
As unhas quebram quando as defesas ficam ameaçadas.

O peito aperta quando o orgulho escraviza.

A pressão sobe quando o medo aprisiona.

As neuroses paralisam quando a “criança interna” tiraniza.

A febre esquenta quando as defesas detonam as fronteiras da imunidade.

E as tuas dores caladas ? Como elas falam no teu corpo?

Mas cuidado....escolha o que falar, com quem, onde, quando e como...  

Escolha alguém que possa te ajudar a organizar as idéias, harmonizar as sensações
 e recuperar a alegria.

Mas tudo depende, principalmente, do nosso esforço pessoal para fazer acontecer as mudanças na nossa vida!
 

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Para ler e pensar.

Adoro a Internet. Ela possibilita mil contatos, nos faz aprender coisas, dá chances de ver pessoas que amamos e de conhecer gentes que não teríamos a mínima condição de o fazer. E também, de repente, nos vermos diante de textos interessantíssimos. Li, há algum tempo, estas frases abaixo. Gostei. Servem para, coisa rara em nossos tempos, refletir sobre nós mesmos. Se alguém já as leu, passe por cima. Ou releia-as. Não é à toa que os enviei.

Você já se perguntou por que a estrada tem curvas?
Por que é que todas as estradas não são retas?
Por que é que as ruas da cidade sobem, descem, e dobram esquinas?
 As curvas da estrada nos dão a oportunidade de ir vendo um pouquinho de cada vez.
À medida que vamos avançando, ganhando terreno, um pouco mais nos é revelado.
É assim que a vida funciona.
Ela vai lhe dando aquilo com que você consegue lidar em pequenas doses, mesmo quando você acha que agüentaria mais.
Onde quer que você se encontre, é exatamente onde precisa estar.
Mesmo quando você queria estar em outro lugar, em circunstâncias diferentes, a vida sabe que você provavelmente não conseguiria lidar com a outra situação.
 Deepak Chopra escreveu: "Sejam quais forem os relacionamentos que você atraiu para dentro de sua vida, numa determinada época, eles são os relacionamentos de que você precisava naquele momento"
Quando você estiver preparado para fazer uma coisa nova, de uma maneira nova, você fará, com pessoas novas.
Há gente à espera da pessoa na qual você está se transformando.
É provável que você ainda não esteja pronto para conhecê-las.
A cada momento específico, cada um de nós está passando pelo processo de ser e de se tornar.
Estamos aprendendo o máximo que podemos.
A estrada tem curvas e estamos sendo preparados para lidar com o que nos aguarda a cada curva.







segunda-feira, 8 de novembro de 2010

COMO CONSEGUI ME LIVRAR DO BULLYING NA ESCOLA

Todos já devem ter ouvido falar do famigerado termo "bullying". Duplamente famigerado. Primeiro pelo seu significado: tirania, perturbação, fazer sofrer, vilipendiar, agredir. Segundo, por estar em inglês. Será que não poderiamos ter um nome em português?. Ou aportuguesá-lo para "búlin". Como "football" virou futebol. Segue um de meus contos para vocês.

COMO CONSEGUI ME LIVRAR DO BULLYING NA ESCOLA


Mas que menino afrodescendente chato e atemorizador era aquele Jorge Geraldo da minha tranqüila e sossegada infância turvelense. Isto era nome? Jorge Geraldo!! Nome duplo. Confesso que o meu também era duplo. Mas era mais bonito, mais sonoro. Ou seria a raiva reprimida? Apesar da mesma idade, ele era mais forte, sacudido e troncudo.  Parecia ter dez, e não oito como tínhamos, e, além do mais não usava óculos, como eu. E eu pelava de medo dele. E não era para menos. Jorge brigava com todo mundo na escola. Diziam até que já batera em meninos mais velhos. Até dona Betí, a intransigente professora do ensino fundamental (naquela época era primário), abafava seus gritos quando o Jotagê estava por perto. Jotagê. Ele começou a exigir que as pessoas o chamassem assim. De modo que ele pintava o sete e aprontava com todo mundo.
Eu até que não teria muito problema com ele, desde que ficasse só no medo, e não acontecesse algo de estranho numa fria e cinzenta manhã em que ele roubou minha merenda. Foi na hora do recreio, quando todo mundo saía esfomeado da sala de aula e ia comer o lanche preparado com carinho pelas nossas mães (naquela época as mães preparavam lanche para os filhos e não havia merenda escolar) e tomar um café com leite quentinho (a coca cola ainda não tinha aparecido, pelo menos lá em Turvo). De repente Jorge Geraldo, ops, Jotagê, avançou para cima de mim e me arrancou com suas garras (sei que exagero) o pão com salame de minhas mãos.
- O que é isto? – ainda falei, assustado.
- Vou comer seu lanche – rosnou, já enfiando a bocarra no pão macio – Além do mais você está gordo. (Era uma mentira deslavada).
- E o seu?
- Não tenho.
Era a primeira vez que eu tinha contato com uma pessoa do MSM, Movimento sem Merenda, germe do futuro MST. Pobre que era, ia sem lanche. Mas, e o que eu tinha com isto? Tentei-lhe tomar o pão das mãos (o que revelava minha capacidade de resistência, mas que ficou por aí),porém ele me empurrou com violência.
- Se vier, te dou um murro na cara – ameaçou-me. E para encerrar o assunto: Não conte para ninguém.
Foi duro ter que agüentar as outras aulas, com a barriga vazia e o estômago roncando alto. Quando cheguei em casa, quase desmaiando de fome, comi que nem um doido o almoço adredemente preparado. (Este advérbio é para aporrinhar os leitores). E, lógico, não contei nada. Porém, como nos dias seguintes, ele continuava roubando meus lanches, e eu já começava a passar mal de tanta fome, chegando quase a desmaiar, não resisti e contei para minha mãe. Ela ficou uma fera. Esperou, um dia, o Jorge Geraldo passar em frente de nossa casa – ele morava por aqueles lados – e o agarrou pelo braço. (Ah, que felicidade não ter o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente, também conhecido como “É Cacete no Adulto”).
- Vem cá, seo... (lembre-se de um antigo sinônimo para afrodescendente?), moleque sem vergonha...
- O que foi, Dona Marcinha, não fiz nada... (Quer dizer que, além de valentão, mentiroso -ainda estou por aqui com ele me chamar de gordo-, ele era dissimulado?)
- Como não fez? Anda roubando a merenda de meu filho. Se você fizer isto mais uma vez, vou falar com o seu pai o José Geraldo (olha aí a origem do Jorge Geraldo) e o entrego para o soldado.
- Tá bom, ta bom – choramingou o menino malvado, enquanto me olhava de soslaio.
Ah, meu Deus (naquela época acredita nele), para que fui falar com minha mãe? Ele vai me matar, ou no mínimo quebrar meus óculos e meus dentes da frente. Preciso rezar para Nossa Senhora, minha madrinha me ajudar, senão estou lascado. Só um milagre pode me salvar daquele MSM...
Bem, o milagre aconteceu. Deus escreve torto por linhas certas, ou seria o contrário. Enquanto eu temia por uma desgraça pessoal (pequena, diga-se de passagem diante da que vou narrar), uma grande desgraça ia ocorrer naquela tarde.  João Tadeu, um grande centroavante do time do Areinha, pai de Tadeuzinho (essa mania de os pais colocarem nos filhos o próprio nome), meu amigo do peito, passou mal no campo de futebol, e bateu as chuteiras. Digo, as botas. Fui uma consternação geral. O altofalante da igreja comunicou o falecimento, os sinos tocaram, o povaréu ficou todo compungido e todos se vestiram com as melhores roupas e foram para o velório – que ia varar a noite. O enterro seria no dia seguinte. E lá estava eu, como sói acontecer, para dar apoio ao Tadeuzinho e consolá-lo. A noite esfriara e o sereno caíra com um frio tal que não consegui deixar de me resfriar. Quando fui para casa, tossindo e espirrando, minha mãe me preparou uma gemada quente e dois comprimidos – ensinamentos da vovó – e fui para a cama, esquecendo do que eu poderia enfrentar no dia seguinte. Só quando me levantei é que me dei conta do perigo que me esperava: e agora. Comecei até a espirrar de nervoso. Pensei em não ir à escola. Mas era protelar o sofrimento. A angústia. Resolutamente (não disse que eu era corajoso?) fui para as aulas e na hora do recreio já saí correndo em direção do Jorge Geraldo para entregar-lhe altruisticamente o meu lanche. O nervosismo era grande, de tal forma que, quando cheguei perto dele e estendi-lhe o delicioso pão com salame, o meu psiquismo me traí e me levou a espirrar em cima do lanche.
- Eca – ele disse. - Que nojo.
- Não vai querer?.
- Não – falou secamente. Aliás a única coisa seca ali era a fala dele, diante do molhaceiro que meu espirro aprontara.
Daquele dia em diante,  oferecia sempre  o lanche para o Jotagê, mas antes ou cuspia, ou espirrava de mentirinha, ou lambia-o, e ele recusava no ato.
Pois é, o Jorge Geraldo além de valentão, mentiroso (gorda é a avó dele), dissimulado, era nojento. Não gostava de lanche espirrado...

        

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

LONGEVIDADE

Talvez entre os desejos das pessoas  nós encontramos a vontade de viver muito. Dicas, conselhos e idéias pululam por todos os cantos. Parece que nunca tivemos  tantos centenários e idosos no mundo todo. Li um texto sobre envelhecimento e longevidade que achei interessante. Passo para meus leitores.

PARA SE VIVER MAIS É PRECISO FAZER...


Antes de eu completar a frase do título, é bom lembrar que os estudos científicos apontam cinco fatores importantíssimos para a longevidade: não ser fumante, não ser hipertenso crônico, não ser obeso, não ter vida sedentária e ter relacionamentos íntimos. Quanto a estes últimos, pode ser tanto o casamento tradicional, o ficar junto, ou mesmo uma amizade profunda e verdadeira. Pessoas casadas ou que têm amigos íntimos adoecem menos e vivem mais do que as pessoas que possuem poucos relacionamentos.
Agora, porém, dados estatísticos têm revelado que quem possui mestrado e doutorado vive em média mais tempo do que quem fez só mestrado. Portanto para viver mais é preciso fazer mestrado e doutorado.
Realmente, as estatísticas mostram que as pessoas que recebem educação formal por mais tempo são mais saudáveis e vivem mais do que as menos educadas. Quais seriam os motivos? Bem, estas pessoas são mais bem informadas sobre os riscos associados a doenças (exemplo, tabagismo), a prevenção (não dirigir depois de consumir álcool), tendem a seguir mais corretamente o tratamento médico, têm maior capacidade de resolver os problemas pessoais de maneira geral. Além do mais, têm mais chance de conviver com outras pessoas do mesmo nível de educação e informação.
O cérebro instruído torna-se mais capaz ao desenvolver suas capacidades cognitivas, produz mais neurônios (as pesquisas indicam que produzimos sempre mais e mais neurônios),  cria novas estratégias para enfrentar problemas e, sobretudo, adquire mais resistência a danos. Esta resistência, ou resiliência, acontece através do fortalecimento das conexões sinápticas entre os neurônios que são efetivamente usadas. Aprender atividades novas leva ao aumento da densidade de sinapses nas áreas requisitadas do córtex cerebral.
Mesmo quando o cérebro começa a sofrer as conseqüências do envelhecimento, as capacidades mentais adquiridas através da educação permitirão à pessoa manter um funcionamento satisfatório do cérebro. Pode-se dar a isto o nome de “reserva cerebral”: a capacidade que a atividade mental tem em aumentar o número de conexões entre os neurônios. É bem possível que um cérebro rico em sinapses não vá apresentar deficiências cognitivas, mesmo quando cheio de placas senis ou atacado pelo mal de Alzheimer. A educação aumenta a capacidade do cérebro em resistir a danos, promove o bem estar e aumenta o tempo de vida. Cérebros instruídos viverão mais e melhor.

Bem, tudo isto eu li em um belo livro, “Fique de bem com o seu cérebro”, de Suzana Herculano-Houzel, uma cientista carioca, autora também do ótimo “O Cérebro Nosso de Cada Dia”. Vale a pena ler os dois livros. O seu cérebro agradece.


terça-feira, 2 de novembro de 2010

Décima Quinta Cova - Meu Poema..

FINADOS.

Em nossa cultura católica, o dia de Finados é muito respeitado. Virou até feriado nacional para dar uma folga aos vivos. Cemitérios ficam apinhados. As missas fúnebres são lindas com seus Cantos Gregorianos. Não deixando passar em branco esta data, passo aos leitores um poema meu, escrito após a morte de meu pai.

Minha professora de literatura dizia que ser "modernista" é saber a quem copiar. Todos estamos aproveitando a experiência de outros, seus saberes e obras e fazendo a nossa própria obra. "Nada de novo sob o sol", já dizia há mais de dois mil anos um livro da bíblia. Anos atrás ganhei de um amigo um livro. Ele, um poeta de mão cheia, escreveu algo sobre o lugar onde o pai dele estava enterrado. Gostei demais. Peguei a idéia e também me enveredei por este tema. O poema chegou a ser publicado num livro-coletânea dos alunos do Curso de Português do "Pleno Viver", da UEMG. Apresento uma tradução em inglês, realizada por um artista/poeta de Cambridge, Inglaterra.



DÉCIMA QUINTA COVA

Mário Cleber da Silva.


Não. Meu pai não está enterrado na curva do rio,
Nem ao pé do morro que circunda a cidade.
Nem no alto do outeiro perto da igrejinha.
Ele está enterrado na décima quinta cova
.
À esquerda do esquelético pinheiro,
Que não lhe dá sombras nem ao entardecer.

As vizinhas árvores, avaras,
Nem riscam de leve seu túmulo.

Uma lápide despida de flores
Desprovida de adornos
Negra, lisa, aquecida pelo sol
Suave de manhã, inclemente à tarde

O muro fica distante, isolado pelas casas
Que, em volta, pululam, cheias de gente.
E de vida.

Meu pai está perto e longe
Das casas do bairro, da cidade
Das gentes.

À noite, a lua vem
Insone, iluminar o túmulo.
E a lápide, antes quente
Esfria. Congela.
Meu pai está enterrado na décima quinta cova,
À esquerda.

Sol e lua são seus. Por inteiro.
Ele é uma raiz Que vai crescer
Sem sombras que o impeçam
De ver, de ser a luz.




The 15th Grave –
translated by James Nesbitt

No, my father is not buried in the bend of the river,
Nor is he at the foot of the hill,
which surrounds the town,
and he isn't at the top of the knoll,
near the small church.

He is buried in the 15th grave,
The left side of the skeletal pine tree
is where he lies,
He has no shadow, not even at sunset.

The neighbour trees are all parsimonious,
They leave no scratch marks on his tomb,
not even thin ones

A flowerless tombstone,
without adornments.
Smooth, black and cold
warmed only by the severe sun,
in the afternoon
like an insect held under a magnifying glass

The wall is very far away
Isolated by the houses that surround
yet swarmed and congested by their
overlooking eyes
Full of life

Near and far is my father
Near and far from the houses
The town
The counties
All living souls

At night a sleepy moon looks down
Enlightens the grave
The tombstone
Returning to its cold state

The sun and the moon belong to him
My father
He is a seed that will grow
Prevented by nothing
Seeing and being the light
My father is buried in the 15th grave.