Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes
Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Um Poema, despedindo-se de 2010

Sou um leitor esporádico de poesias. E de vez em quando tenho a sorte de cair-me nas mãos um livro de poemas que vale a pena ler. Foi asssim com Manoel Bandeira em Meus Poemas Preferidos, um outro de Cecília Meireles, ganho de presente; o naturalista - meu adjetivo - Manoel de Barros, quando frequentava a Biblioteca Infanto Juvenil para promover meu próprio livro de contos. E eis que de repente me deparo com "Os Dias", de Adriano Menezes (li-o de um fôlego só). Mineiro de São Vicente de Minas, pertinho de minha Andrelândia, que conheci pessoalmente numa manhã de curso sobre Inteligênica Emocional na Maxion. Hoje  mora em Ouro Preto, continua produzindodo, sendo influenciado pelo clima da cidade, como se pode ver neste poema a seguir. Foi publicado no Suplemento Literário do jornal "Minas Gerais", um marco cultural na imprensa mineira. Desejo que meus leitores degustem desta bela poesia de Adriano Menezes, neste - usando o chavão - apagar das luzes de 2010.


MUDA

Adriano Menezes




Depois ela disse que sentiu
uma coisa ruim
ao chegar a Ouro Preto .
Eu senti uma coisa ruim
quando ela disse. Queria
então mulher e cidade .
Eu devia desconfiar,
a escura nuvem sobre a casa
a perturbava sobremaneira,
e o passeio estreito, e as ladeiras,
talvez a falta de girafas
no Padre Faria ou
a desistência das flores
com talidomida que nos olhavam
míopes do jardim
que ainda não havia...
Se perdeu de minhas mãos.
A cidade continua comigo:
mofando livros,
avacalhando meus amores,
restituindo-me a asma.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Reflexões para Final de Ano

PARA PENSAR


Em final de ano ou início de outro, sempre nos vêm à mente idéias, reflexões, resoluções e pensamentos de como viver melhor. Aqui estão alguns textos, bem diferentes uns dos outros, mas que servem para este objetivo.

IMPERMANÊNCIA.
“Na vida do homem o seu tempo não é senão um momento; seu ser, um fluxo incessante; seus sentidos, pálidos clarões; seu corpo, prisioneiro de vermes; sua alma, um inquieto torvelinho; seu destino, obscuro; e sua fama, duvidosa. Em resumo, tudo que ao corpo pertence são águas correntes; tudo que à alma pertence são sonhos e vapores; a vida é uma batalha, uma breve permanência numa terra estranha; e depois da reputação, o esquecimento. Onde, então, o homem encontra a força para guiar e conservar seus passos? Numa coisa, numa única coisa: o amor pelo conhecimento”
Marco Aurélio em “Meditações”



Vigie seus pensamentos
(eles se tornarão suas palavras).

Vigie suas palavras
(elas se tornarão seus atos).

Vigie seus atos
(eles se tornarão seus hábitos).

Vigie seus hábitos
(eles se tornarão seu caráter).

Vigie seu caráter
(ele se tornará seu destino).



E nesta vida materialista e consumista, não faltam essas boas idéias:

Ganhe Mais. Poupe. Evite Dívidas. Invista Corretamente. Tenha Casa Própria, e Plano de Saúde.  Faça algumas concessões. Eduque-se financeiramente.  Dinheiro é Meio e não Fim.

E completando:
Os bens que alegram os seres humanos: o riso claro, a boa palavra e as comidas saborosas.

QUE TODOS NÓS TENHAMOS ESTES BENS.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Para rir, ou sorrir.

"RIR É O MELHOR REMÉDIO".

Adoro frases inteligentes, irônicas, piadas, anedotas e trocadilhos. Estes últimos, já os fiz em tempos idos. Revendo uns antigos cadernos meus, onde anotava tudo que me agradava, encontrei estas preciosidades. E, em final de ano, nada como dar um sorriso, uma risada ou no mínimo, um sorriso amarelo.. Se não me engano, o autor é Max Nunes, escritor de roteiros humorísticos da TV nos anos 60 do século passado.

O jóquei é um sujeito que ganha dinheiro nas costas dos outros.

Há pessoas que, por dinheiro, fazem qualquer coisa. Até trabalhar.

Há cachorros que latem fluentemente. Outros são galgos.

Garoto pobre: Moço, me dá um dinheiro.
Moço: Não. Se der, você não almoça.

Filho de rico é playboy. De pobre, é Office-boy.

Padre: Por que o senhor não vai à Missa?
Bêbado: Porque só o senhor bebe...

Radiologista é um sujeito tão mau, tão mau, que só quer ver a caveira dos outros.

No dia em que os padres puderem casar, eles serão a favor do divórcio.

O melhor momento para o divórcio é no namoro.

- Um animal raro no Brasil.
- Elefante.
- Mas não existe elefante no Brasil.
- Por isto é que é raro.

Se para conseguir emprego é preciso falar inglês, por que tem desempregado nos Estados Unidos?

Quem mata o pai e a mãe, o que é?  Órfão.

A mulher era tão feia que foi desenganada pelo cirurgião plástico.

- Você precisa aprender inglês.
- Por que ?
- A metade do mundo fala inglês.
- E não chega?

Os nossos filhos não são problemas. Problemas são os filhos que dizem que são nossos.

A vida das mulheres é curta. Não conheço nenhuma que tenha mais de 40 anos.

O uso da caxumba faz a boca torta.

Os biquínis são líquidos. Tomam a forma do corpo que os contem.

Ladrão com revolver: Me dá cem reais para eu salvar a vida de um inocente.
Vítima: Você não tem cara de inocente.
Ladrão: Não é a minha vida que está em perigo. É a sua.

O homem morreu e deixou mulher e quatro filhos. Tinha que deixar. Como é que ia levá-los?

Na mulher tudo é provisório. Até o permanente.




quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Um Conto de Natal Pós Moderno

Já li muitos contos de Natal. Entre os que me marcaram está "Presente dos Reis Magos", escrito por William Sydney Porter. É a história de um casal muito pobre e que se amava muito (Deviam ser recém casados). Ela, linda, de longos cabelos louros. Ele, desempregado. E que tem um relógio de ouro. Mas sem pulseira. Ela, então, resolve vender os próprios cabelos para comprar uma linda pulseira para o marido. Ele, por seu lado, resolve vender o relógio e comprar uma tiara para os cabelos da mulher. Bem, a história não tem um final feliz. Resolvi, então escrever um conto de Natal com final feliz. E inesperado.



CONTO DE NATAL

Foram batidas mesmo na porta. E violentas. A campainha já não funcionava. A Cemig tinha cortado a energia por falta de pagamento. E ele abriu.
- Viemos desalojá-lo por falta de pagamento das prestações da Minha Casa Minha Vida.
- Mas – retrucou ele - , já fui até a Caixa e expliquei tudo. Estou desempregado e o seguro desemprego acabou. Era marceneiro (explicava ele, como se os outros estivessem interessados em sua história), mas a empresa me mandou embora. Os produtos chineses são os culpados. Houve demissão em massa.
- Não temos nada com isto. Viemos só fazer nosso trabalho. O senhor terá que sair.
- Mas – era sempre “mas” que ele usava, sempre explicando (não fora assim com Gabriel que veio lhe trazer a notícia do Menino?) – Mas – continuou – a minha mulher está esperando bebê, por estes dias. Maria ! – gritou ele para dentro do apartamento.
- Sim – respondeu uma menina de uns dezesseis anos, que se aproximou dos homens. Notava-se uma grande barriga.
- O quê???? É a sua mulher? Velho safado, corruptor de menores... Deixa o Estatuta da Criança e do Adolescente saber disto...
- Mas -  lá ia ele de novo explicando.
- Não tem nem “mas”, nem menos. Você, com essa idade, e essa jovem, quase menina ... E ainda com esta barba.... Aposto que é candidato do PT que perdeu as eleições. Ou no mínimo simpatizante...
- Nada disto – atrapalhou-se todo para explicar – Muito pelo contrário. Nem votei no PT. Aliás, votei na...
- Não precisa dizer – precaveram-se – Antes das eleições, até que daria para fazer alguma coisa, mas agora, você tem que sair fora..
- Não posso “sair para dentro”? – começava a ficar irônico
- Hein?
- Nada. E para onde eu vou? Como a minha mulher vai ter nenê?
- Procure o SUS. –
                                   Essas foram as últimas palavras que ele e a mulher ouviram antes de sair daquele minúsculo apartamento daquele distante e imenso bloco residencial inaugurado há tão pouco tempo. Arrumaram suas trouxinhas, o enxoval de bebê (não fizeram nem “chá de bebê”, por isto é que tinham poucas coisas), e se puseram a caminho do hospital a pé. Pois perdera o passe do ônibus e não tinha dinheiro.
- E a Carteira de Trabalho? – foi perguntando, de cara, a recepcionista, mal humorada, enquanto lixava as unhas e arrumava a caixinha onde estava escrito "Contribua para o Natal da Recepcionista".
- A firma ficou com ela.
- Então, sinto muito, não vai dar para interná-la.
- Desde quando precisam de Carteira de Trabalho no Sus ? – além de irônico, começava a ficar agressivo.-  Além do mais, ela vai ter o nenê – maneirou na fala. – O que eu faço?
- Danem-se
                                   Não era bem isto que estava pensando para a mulher, que até o momento se mantivera calada. Ela rompeu o silêncio: Vamos seguir a Estrela Guia e chegaremos a um lugar confortável.
- Ô, Maria, você não vê que com este céu todo sujo e poluído não vamos ver nenhuma estrela? Ainda mais Estrela Guia?
- E aquilo lá, o que é? – disse entre curiosa – própria de uma adolescente – e segura, característica de uma futura mamãe.
 - Oh, santa inocência – retrucou José, já um tanto impaciente. Seria a idade? – aquilo lá é uma árvore gigante de Natal.
                                   A noite demorava a cair, coisa comum nesta época do ano, por causa do horário de verão. Mas no horizonte já se avistavam grossas núvens escuras, um indicio claro de que viria uma chuva forte para molhar a terras e os corações empedernidos dos homens. Foi quando notaram um inusitado movimento na praça. Curiosos, dirigiram-se para lá. Era a Rede Globo filmando cenas de Natal. Ele se aproximou de um homem que estava dando ordens para os atores e figurantes e, apontando para a barriga da mulher, cochichou-lhe algo no ouvido. Este olhou para o velho de barba, a mocinha adolescente, quase menina, o barrigão e... abrindo a boca num largo sorriso, falou:
- Vamos filmar o nascimento de seu filho. Dar-lhe-emos um enxoval, uma caderneta de poupança, um quadro no Fantástico ou no Faustão, quem sabe até no SBT para ajudar o Silvio Santos,  estudo de graça até a Universidade, através do Prouni (se ele chegar até lá – pensou com seus botões – caso não morra antes, assassinado)
- Mas – disse desconfiado, não negando o sangue de seus antepassados mineiros – com tanta esmola o santo desconfia. Até o São José. O que terei de fazer?
- Uma coisinha simples. Você vai indicar um Programa de nossa TV.
- Espero que não seja o Horário Eleitoral Gratuito.
- Nada disto. Preste atenção.
                                   Nos dias seguintes, um senhor barbudo, de mãos grossas, fazia concorrência com o rapaz do Bom Bril e anunciava que:
- Depois que a Rede Globo entrara em minha vida com toda “Passione”, minha mulher fora para o “Araguaia”, onde teve o Menino e onde moramos numa linda casa, ganha no Avião do Faustão. E ... – completara por sua conta e risco: não adianta o Tititi, porque o filho é meu e não do Michael Jackson ou Mick Jagger.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Diferenças entre as Pessoas

A gente sempre lê algum texto sobre as diferenças individuais, características de personalidade que explicam a razão de sucesso ou fracasso, de alegria ou tristeza. Recentemente caiu em minha caixa postal esta comparação entre pessoas Proativas e Reativas. Levando em conta possíveis exageros, acho que vale a pena passar os olhos e refletir sobre o que se lerá a seguir.


AS DIFERENÇAS ENTRE PESSOAS REATIVAS E PROATIVAS.

Pessoas re-ativas são aquelas que pensam e atuam dentro de padrões de causa e efeito.
Pessoas pró-ativas influenciam o meio, garantem harmonia, direcionam boas energias, iluminam tudo e a todos ao seu redor. Nunca se sentem vítimas das circunstancias. Escolhem com sabedoria as coisas que podem influir para uma mudança significativa que atenda a muitos
Quando um Proativo comete um erro, diz: “Enganei-me“, e aprende a lição.
Quando um Reativo comete um erro, diz: “A culpa não foi minha“, e responsabiliza terceiros
Um Proativo sabe que a adversidade é o melhor dos mestres.
 Um Reativo sente-se vítima perante uma adversidade
Um Proativo sabe que o resultado das coisas depende de si.
Um Reativo acha-se perseguido pelo azar.
Um Proativo trabalha muito e arranja sempre tempo para si próprio.
Um  Reativo está sempre "muito ocupado" e não tem tempo sequer para os seus parentes.
Um Proativo compromete-se, dá a sua palavra e cumpre.
 Um Reativo faz promessas e quando falha só sabe se justificar
Um Proativo diz: "Sou bom, mas vou ser melhor ainda".
  Um Reativo diz: "Não sou tão mau assim; há muitos piores que eu"
Um Proativo ouve , compreende e responde.
Um Reativo não espera que chegue a sua vez de falar
Um Proativo respeita os que sabem mais e procura aprender algo com eles.
Um Reativo resiste a todos os que sabem mais e apenas se fixa nos seus defeitos.
Um Proativo sente-se responsável por algo mais que o seu trabalho.
Um Reativo não se compromete nunca e diz sempre: “Faço o meu trabalho e é quanto basta”.
Um Proativo diz: “Deve haver uma melhor forma de o fazer. . .”
    Um Reativo diz: “Sempre fizemos assim.Não há outra maneira.
Um Proativo é PARTE DA SOLUÇÃO.
Um Reativo é PARTE DO PROBLEMA.
Um Proativo consegue  "ver a parede na sua totalidade".
Um Reativo fixa-se  "no azulejo que lhe cabe colocar


terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Minha, Minha Minas Gerais

"Minas são várias", já disse um poeta. Nascer em Minas é um privilégio. Conhecer Minas é possíel para todos os viventes. Morando no Oeste Paulista - a cidade coincidentemente fundada por um mineiro - , tive uma grande saudade de minha terra, e, aproveitando a nostalgia, escrevi esta crônica.

Minha, minha
Minas Gerais


Há quanto tempo queria falar de ti e não pude! Falar de tuas montanhas, de tuas serras, do teu ouro, do teu minério e do teu ferro, dos teus caminhos tortuosos, mas que nos levam sempre a ti, refúgio dos bandeirantes exaustos, dos romeiros cansados dos emboabas pobres, dos negros luzidios e fugidos. Quero ir ver teus profetas em Congonhas do Campo e conferenciar com eles: ser levado pelas mãos atrofiadas do Aleijadinho, que esculpiram as maravilhas mineiras e as primeiras obras genuinamente brasileiras. Dar o braço ao Mestre Ataíde, pintor renomado, cujos tons vermelhos em suas pinturas ninguém até hoje conseguiu reproduzir, e rir das caras dos seus anjos barrocos, feitos à imagem e semelhança de seus filhos mulatos e bastardos. Quero andar pela antiga Vila Rica, hoje Ouro Preto, ver o
fogo comendo o Morro da Queimada, participar da reunião dos inconfidentes, falar com José Joaquim da Silva Xavier, o líder, discutir com os poetas inconfidentes e ver as suas musas; ir até Mariana, andar pelas ruas tortuosas e tropeçar em suas pedras. Procurar o Caraça, embrenhando-me por mato e trilha virgens, e ver o Seminário, de onde saíram  mineiros tão ilustres. Quero entrar em tuas minas, enxergar na escuridão delas os duplamente mineiros. Pelas asas, de Santos Dumont, que hoje é cidade, quero passear pelas montanhas, sobrevoar seus cumes, ir ao encontro dos morros de 
Saramenha. Visitar a Manchester Mineira (Juiz de Fora), com sua famosa rua Halfeld e seu Museu Mariano  Procópio. Viver ao pé do morro que dá de frente para Governador Valadares. Subir até Montes Claros e, sentir o calor que vem do norte. Passar pelo frio do sul de tuas fronteiras. Ir até os teus zebus no Triângulo. Palmilhar Belo Horizonte, na beleza de seu traçado de cidade  programada.  Viajar pela sacolejante Rede Mineira de Viação, que teimavam em chamar de "Resto de Material Velho" ou "Ruim Mas Vai", passando por cidades bucólicas: Minduri, São Vicente de Minas, Carrancas, Andrelândia, Arantina, Quatis. Atravessar teus córregos e viadutos. Ouvir as serestas em Diamantina e sentir a sensualidade de Xica da Silva. Falar com os personagens de Guimarães Rosa, em Cordisburgo. Fazer o footing na praça mais bonita do interior, em Curvelo, centro  geográfico de tuas terras. Penetrar tuas grutas de Maquine e da Lapinha, e me deparar com Lund discursando sobre o homem pré-histórico. Fazer estátuas de pedras sabão. Tocar nos teus santos barrocos e de "pau oco”; extasiar- me com as melodias de pássaros e bichos na serra do Cipó. Acompanhar Mário Palmério no caminho para o Oeste, no Chapadão do Bugre. Olhar e admirar teus bancos e prósperos banqueiros. Ouvir o Visconde de Barbacena na cidade de seu nome. Ir até Barroso. Perder-me nas ruas tortas e curtas de São João Del-Rei e rezar nas tuas igrejas de ouro. Banhar-me nas águas medicinais de Poços de Caldas e na lama de Araxá, ouvindo os conselhos de Dona Beja. Comer o queijo do Serro. Defrontar-me com o Rio das Mortes, o Rio das
Velhas. Subir o São Francisco e aportar-me em Pirapora. Mergulhar em tuas histórias, de que estão cheias Sabará, Capelinha, Tiradentes, Minas Novas. Sofrer com o calor das usinas de Monlevade e Itabira. Conversar respeitosamente com teus presidentes, governadores e políticos.
Ouvir os conselhos de Benedito Valadares e de Alkimin sobre a difícil arte da política mineira: de não ser nem contra e nem a favor, muito antes pelo contrário. Admirar os Dragões da Inconfidência. Saborear os quitutes de tua cozinha: teu tutu com lingüiça, torresmo e couve verdinha e comer tuas broinhas e pão de queijo. Sentir o cheiro de tuas Casas Grandes e Senzalas. Ver e lamentar os sacrifícios de teus escravos. Chorar as violências cometidas contra ti na Ferrovia dos mil dias, quando rasgaram teu ventre, explodiram tuas entranhas, despedaçaram teus membros. Deixar que penetre em mim o canto dos carros de bois rangendo em  Ibertioga. Subir a Serra da Piedade e rezar diante da imagem da Virgem. Chegar a Três Corações, famosa
pelo "tricordiano" que tínhamos de aprender na escola e pelo garoto-propaganda da Pepsi. Sentir a poluição do Distrito Industrial e o cheiro fétido do Arruda na época das inundações. Ouvir, envaidecido, os poemas de teu poeta maior, Drummond, sonhando sob o teu céu escuro e pontilhado de algumas teimosas estrelas. Ver as plantações de café de Ibiá. Andar perigosamente pela região de Mantena onde se reza: "Em nome do Pai, do Filho e de Minas Gerais" (para não dizer Espírito Santo). Falar com o teu "uai". Ver seus grupos folclóricos como o Aruanda. Jubilar-me no Dia dos Reis, dançando e cantando com a folia. Presenciar tuas lutas contra os invasores. Sepultar teus filhos mortos e insepultos. Sentir o progresso no teu silêncio. Ler teus escritores, para os quais foram criados os "Concursos de Contos", e rir com teus humoristas. Cantar tua música triste e dolente. Ouvir o Coral Renascentista entoando "Peixe Vivo". Passar pela Zona da Mata, Vir até o sul, ir ao Triângulo, ao norte e ao leste. Para qualquer lado que me vire te vejo sempre, Minas Gerais, que procura caminho ou para o mar ou para a liberdade. O mar não o conseguirás, talvez; mas a liberdade tu a tens no coração de teus filhos.















quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Sobre Família

Começa dezembro. Chuva, calor, as festas de natal, as caixinhas que pululam em todo o comércio, o gari, o porteiro, pessoas que nos cumprimentam desejando um Feliz Natal  e o famoso encontro da família. Mas pode ter confusão. O texto a seguir, recebi-o via email. Achei interessante para ajudar a refletir sobre nós mesmos e sobre todos os componentes da família.



Família é prato difícil de preparar


 (de "O Arroz de Palma,de Francisco Azevedo)
Família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema, principalmente no Natal e no Ano Novo. Pouco importa a qualidade da panela, fazer uma família exige coragem, devoção e paciência. Não é para qualquer um. Os truques, os segredos, o imprevisível. Às vezes, dá até vontade de desistir. Preferimos o desconforto do estômago vazio. Vêm a preguiça, a conhecida falta de imaginação sobre o que se vai comer e aquele fastio. Mas a vida, (azeitona verde no palito) sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite. O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares. Súbito, feito milagre, a família está servida. Fulana sai a mais inteligente de todas. Beltrano veio no ponto, é o mais brincalhão e comunicativo, unanimidade. Sicrano, quem diria? Solou, endureceu, murchou antes do tempo. Este é o mais gordo, generoso, farto, abundante. Aquele o que surpreendeu e foi morar longe. Ela, a mais apaixonada. A outra, a mais consistente.
E você?  É, você mesmo, que me lê os pensamentos e veio aqui me fazer companhia. Como saiu no álbum de retratos? O mais prático e objetivo? A mais sentimental? A mais prestativa? O que nunca quis nada com o trabalho? Seja quem for, não fique aí reclamando do gênero e do grau comparativo. Reúna essas tantas afinidades e antipatias que fazem parte da sua vida. Não há pressa. Eu espero. Já estão aí? Todas? Ótimo. Agora, ponha o avental, pegue a tábua, a faca mais afiada e tome alguns cuidados. Logo, logo, você também estará cheirando a alho e cebola. Não se envergonhe de chorar. Família é prato que emociona. E a gente chora mesmo. De alegria, de raiva ou de tristeza.

Primeiro cuidado: temperos exóticos alteram o sabor do parentesco. Mas, se misturadas com delicadeza, estas especiarias, que quase sempre vêm da África e do Oriente e nos parecem estranhas ao paladar tornam a família muito mais colorida, interessante e saborosa.
Atenção também com os pesos e as medidas. Uma pitada a mais disso ou daquilo e, pronto, é um verdadeiro desastre. Família é prato extremamente sensível. Tudo tem de ser muito bem pesado, muito bem medido. Outra coisa: é preciso ter boa mão, ser profissional. Principalmente na hora que se decide meter a colher. Saber meter a colher é verdadeira arte. Uma grande amiga minha desandou a receita de toda a família, só porque meteu a colher na hora errada. 
O pior é que ainda tem gente que acredita na receita da família perfeita. Bobagem. Tudo ilusão. Não existe Família à Oswaldo Aranha; Família à Rossini, Família à Belle Meuni; Família ao Molho Pardo,  em que o sangue é fundamental para o preparo da iguaria. Família é afinidade, é a  Moda da Casa. E cada casa gosta de preparar a família a seu jeito.
Há famílias doces. Outras, meio amargas. Outras apimentadíssimas. Há também as que não têm gosto de nada, seriam assim um tipo de Família Dieta, que você suporta só para manter a linha.  Seja como for, família é prato que deve ser servido sempre quente, quentíssimo. Uma família fria é insuportável, impossível de se engolir.

Enfim, receita de família não se copia, se inventa. A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo o que sabe no dia a dia. A gente cata um registro ali, de alguém que sabe e conta, e outro aqui, que ficou no pedaço de papel. Muita coisa se perde na lembrança. Principalmente na cabeça de um velho já meio caduco como eu. O que este veterano cozinheiro pode dizer é que, por mais sem graça, por pior que seja o paladar, família é prato que você tem que experimentar e comer. Se puder saborear, saboreie. Não ligue para etiquetas. Passe o pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na louça, no alumínio ou no barro. Aproveite ao máximo. Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete.






segunda-feira, 29 de novembro de 2010

FILHO ÚNICO.

O primeiro atendimento psicólogíco que tive em meu consultório foi de um filho adotivo. A adoção é cercada de muita celeuma. Assim também o filho úinico. Anos atrás passou em Belo Horizonte um belíssimo e pungente filme italiano chamado "Filho Único". E este tema é recheado de muitas opiniões contrárias. Há frases do tipo: quem tem um, não tem nenhum. E outras variantes, como o fato de ser muito mimado e mal criado. Bem, li uma pequena matéria em jornal e que passo para a consideração de meus leitores.

Foi-se o tempo em que ser filho único era sinônimo de ser mimado. O mito nasceu em 1896 com o livro “Of Peculiar and Exceptional Children, do psicólogo americano Granville Stanley Hall e influenciou pesquisadores durante décadas. Nele, o especialista descrevia os filhos únicos como pouco sociáveis e superprotegidos.

Recentemente, no entanto, novos trabalhos surgiram mostrando que não existem diferenças significativas no desenvolvimento emocional dos filhos criados sozinhos daqueles educados com irmãos. E mais: um estudo feito pela Universidade de Essex, na Grã-Bretanha, com mais de 100 mil pessoas em 40 mil lares, revelou que filhos únicos são mais felizes do que aqueles que têm irmãos.

Segundo a coordenadora da pesquisa Mas Gundi Knies, as principais razões para chegar a esse resultado é que o filho único não precisa lutar pela atenção dos pais, não sofre bullying dos irmãos mais velhos, nem recebe apelidos maldosos. Além disso, tem todo o investimento dos pais, ou seja, sobra mais dinheiro para se investir na educação da criança.

Se o problema era aprender a dividir, é preciso levar em conta que a realidade mudou. Há 20 anos, a maioria das mães não trabalhava e conseguia acompanhar os filhos o tempo todo. Nesse caso, um filho único teria toda a atenção para si. “Atualmente, é cada vez maior o número de mães que trabalham e a criança tem que aprender a dividir a atenção dos pais com outras prioridades”, diz Rita Calegari, psicóloga infantil do Hospital São Camilo (SP) e colunista da CRESCER.

Outra mudança está na idade em que as crianças entram na escola. Se antes elas começam a estudar aos 6 anos; hoje, é comum irem para o berçário com 1 ano apenas. E essa é uma nova chance de conviver com outras crianças, fazer amigos e, de novo, aprender a compartilhar.

“Os filhos únicos ainda saem ganhando porque aprendem a ficar sozinhos e esse momento é importantíssimo para pensar, imaginar e formar a própria identidade”, completa Rita. O mais importante, com ou sem irmãos, é que a família seja unida. Isso, sim, é garantia de felicidade!


E, então, mudou a sua opinião?



quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O Sentido da Vida..

Elucubrações em dia chuvoso.

POR QUE ESTAMOS AQUI OU O SIGNIFICADO DA VIDA.


O menino de cinco anos chegou perto da mãe e perguntou: qual o sentido da vida? Ela, engasgou, engasgou e não soube como responder.
Dois amigos estavam no bar, e, depois de muita cerveja, um pergunta ao outro: Por que estamos aqui? O outro responde: Ué , não é porque estamos com sede?
Queria falar de algumas coisas. Desde que, por uma diferença a mais no DNA, conseguimos raciocinar e falar, achamos que somos o centro do universo. Que somos os reis da criação. O senhor de todo o universo. A cultura judaico-cristã veio por mais lenha na fogueira ao dizer que fomos feitos “à imagem e semelhança de Deus”. Ah, depois desta ninguém nos segura. E daí pensamos que somos deuses. E ainda surge a idéia da alma. Que não vemos, não comprovamos, portanto nem sabemos se plantas e outros animais, que não os humanos, têm. Até mesmo os objetos, se quisermos ir mais longe. Só nós, homens e mulheres temos alma. (Como parêntese, parece que já teve Igreja dizendo que os negros não tinham alma, para justificar a escravidão).  Os deuses gregos também eram como os mortais. E como eles aprontavam no Olimpo. Com o desenvolvimento tecnológico, as conquistas de povos e nações, assim como territórios anexados a força ou por diplomacia, o ser humano está sentindo o tal, o “dono da cocada preta”. Mas, isto tem um preço. Se somos tão especiais, os banbanbans, tem que haver um sentido para esta vida. Afinal não iríamos estar aqui por nada. Existe um plano (eis um passo para a paranóia) Somos convencidos demais. Além dos bilhões e bilhões de pessoas que viveram antes de nós, hoje somos mais de seis bilhões de pessoas espalhadas por este planeta, mas achamos que somos únicos. Então começamos a nos angustiar. Para que vivemos? Qual o sentido de nossa existência? Começamos a teorizar: existe vida após a morte. Reencarnamos. Não são só os gatos que têm sete vidas. Temos inúmeras. Vamos e voltamos. A roda gira. Criamos um mundo espiritual. Veja como os filmes que abordam este tema são muito vistos. Procurados. Ansiosamente aguardados para responder à nossa angústia. Desejamos um sentido para nossa vida. Que alguém, um deus, ainda que sejamos criados à sua imagem e semelhança, nos dê esse sentido. Os homens de Neandertal, os hominídeos, os primeiros humanos não tinha com o que se preocupar. Nasciam, viviam e morriam. Este é o objetivo da existência: viver. Já que não sabemos porque nascemos. E nem o motivo de nossa morte. Ou melhor, como não sabemos porque morremos, criamos teorias para explicá-la, desde um “deus quis assim”, “vou pra o céu” (é interessante notar que todos querem ir para o céu, mas ninguém quer morrer), “ou vou reencarnar para melhorar”. Ah, esses humanos...Temos que ficar mais humildes. Ser menos petulantes.
Parafraseando o bêbado do bar, lá em cima, digamos: Por que estamos aqui? Ora, para viver.
Como? Ah, aí é que se abrem as grandes e fantásticas perspectivas.
E isto é tão positivo.





segunda-feira, 22 de novembro de 2010

.'UM HOMEM QUE GRITA" Filme especialíssimo

Cinéfilo, mas não crítico de cinema, quero dar minha percepção de um filme que vi neste final de semana.

UM HOMEM QUE GRITA...
Para quem está acostumado com as produções holliwoodianas, não vai gostar deste filme. Mesmo aqueles que saem do circuito cinematográfico europeu e se extasiam com os filmes iranianos vão ficar chocados. Mas vale a pena correr o risco e ir ao cinema assistir “Um Homem Que Grita”. E vá logo, antes que saia de cartaz. Não perca. Além de ser um filme africano (coisa raríssima), dirigido por um africano, com atores africanos – a única personagem não africana é uma “amarela”, uma chinesa,-  narra uma belíssima e triste história de guerra sem mortos (os únicos mortos que aparecem estão na TV), de amor filial com enorme capacidade de perdão, a globalização em seu estado maligno, o sofrimento e as reações patológicas de um pai e a importância de ser reconhecido por um feito esportivo acontecido há décadas. Ouvi expectadores comentarem que ele é lento. É. Tem um close fantástico no rosto do personagem principal. Não tem música. A não ser uma dolorosa e pungente canção árabe.
A primeira e última cena acontecem com os mesmos personagens, em um mesmo ambiente estranho à África árida (água), mas com sentimentos opostos: enquanto em uma há vida, alegria, felicidade, na outra vemos infelicidade, ausência de vida e sofrimento. E talvez até paz, diante da beleza do crepúsculo. A história se passa no Chade, com guerra entre rebeldes e forças do governo (o próprio diretor fugira de lá, carregando os pais, já envelhecidos, num carrinho de mão). No hotel, comprado pelos chineses, o zelador da piscina, um antigo campeão olímpico de natação pelo Chade, é demitido e em seu lugar é colocado o próprio filho. A partir deste momento, uma série de situações complicadas vai acontecendo, levando-o a sofrimentos e comportamentos incontroláveis.À mulher que reclama que ele mudou, responde: “o mundo mudou”. É verdade. O mundo mudou, o mundo muda. Mas temos que mudar com ele. Mudar o nosso comportamento. Mas de forma adaptativa, e não neurótica e patológica. Há momentos também de desespero e falta de fé em um Deus que, supostamente, os abandonara. Deixe a pipoca de lado e mergulhe nesse comovente filme.



terça-feira, 16 de novembro de 2010

REFLEXÕES TERAPÊUTICAS

Dois pontos que acho muito importantes como psicólogo. Primeiro, enfatizar que sempre o comando da própria vida é do sujeito. É ele que tem o leme na mão. É ele quem vai fazer o seu percurso. Segundo, ao psicólogo cabe ouvir. E fazê-lo refletir. Pincei estas frases e desejo que as leiam, reflitam e, quem sabe, ponham em prática.

Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina!” (Cora Coralina).
Estou buscando a felicidade.

REFLEXÕES PARA A TERAPIA

O resfriado escorre quando o corpo não chora.

A  dor de garganta entope quando não é  possível comunicar as aflições.

O estômago arde quando as raivas não conseguem sair.

O diabetes invade quando a solidão dói.

O corpo engorda quando a insatisfação aperta.

A dor de cabeça deprime quando as dúvidas aumentam.

O coração desiste quando o sentido da vida parece terminar.
 
A alergia aparece quando o perfeccionismo fica intolerável.
 
As unhas quebram quando as defesas ficam ameaçadas.

O peito aperta quando o orgulho escraviza.

A pressão sobe quando o medo aprisiona.

As neuroses paralisam quando a “criança interna” tiraniza.

A febre esquenta quando as defesas detonam as fronteiras da imunidade.

E as tuas dores caladas ? Como elas falam no teu corpo?

Mas cuidado....escolha o que falar, com quem, onde, quando e como...  

Escolha alguém que possa te ajudar a organizar as idéias, harmonizar as sensações
 e recuperar a alegria.

Mas tudo depende, principalmente, do nosso esforço pessoal para fazer acontecer as mudanças na nossa vida!
 

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Para ler e pensar.

Adoro a Internet. Ela possibilita mil contatos, nos faz aprender coisas, dá chances de ver pessoas que amamos e de conhecer gentes que não teríamos a mínima condição de o fazer. E também, de repente, nos vermos diante de textos interessantíssimos. Li, há algum tempo, estas frases abaixo. Gostei. Servem para, coisa rara em nossos tempos, refletir sobre nós mesmos. Se alguém já as leu, passe por cima. Ou releia-as. Não é à toa que os enviei.

Você já se perguntou por que a estrada tem curvas?
Por que é que todas as estradas não são retas?
Por que é que as ruas da cidade sobem, descem, e dobram esquinas?
 As curvas da estrada nos dão a oportunidade de ir vendo um pouquinho de cada vez.
À medida que vamos avançando, ganhando terreno, um pouco mais nos é revelado.
É assim que a vida funciona.
Ela vai lhe dando aquilo com que você consegue lidar em pequenas doses, mesmo quando você acha que agüentaria mais.
Onde quer que você se encontre, é exatamente onde precisa estar.
Mesmo quando você queria estar em outro lugar, em circunstâncias diferentes, a vida sabe que você provavelmente não conseguiria lidar com a outra situação.
 Deepak Chopra escreveu: "Sejam quais forem os relacionamentos que você atraiu para dentro de sua vida, numa determinada época, eles são os relacionamentos de que você precisava naquele momento"
Quando você estiver preparado para fazer uma coisa nova, de uma maneira nova, você fará, com pessoas novas.
Há gente à espera da pessoa na qual você está se transformando.
É provável que você ainda não esteja pronto para conhecê-las.
A cada momento específico, cada um de nós está passando pelo processo de ser e de se tornar.
Estamos aprendendo o máximo que podemos.
A estrada tem curvas e estamos sendo preparados para lidar com o que nos aguarda a cada curva.







segunda-feira, 8 de novembro de 2010

COMO CONSEGUI ME LIVRAR DO BULLYING NA ESCOLA

Todos já devem ter ouvido falar do famigerado termo "bullying". Duplamente famigerado. Primeiro pelo seu significado: tirania, perturbação, fazer sofrer, vilipendiar, agredir. Segundo, por estar em inglês. Será que não poderiamos ter um nome em português?. Ou aportuguesá-lo para "búlin". Como "football" virou futebol. Segue um de meus contos para vocês.

COMO CONSEGUI ME LIVRAR DO BULLYING NA ESCOLA


Mas que menino afrodescendente chato e atemorizador era aquele Jorge Geraldo da minha tranqüila e sossegada infância turvelense. Isto era nome? Jorge Geraldo!! Nome duplo. Confesso que o meu também era duplo. Mas era mais bonito, mais sonoro. Ou seria a raiva reprimida? Apesar da mesma idade, ele era mais forte, sacudido e troncudo.  Parecia ter dez, e não oito como tínhamos, e, além do mais não usava óculos, como eu. E eu pelava de medo dele. E não era para menos. Jorge brigava com todo mundo na escola. Diziam até que já batera em meninos mais velhos. Até dona Betí, a intransigente professora do ensino fundamental (naquela época era primário), abafava seus gritos quando o Jotagê estava por perto. Jotagê. Ele começou a exigir que as pessoas o chamassem assim. De modo que ele pintava o sete e aprontava com todo mundo.
Eu até que não teria muito problema com ele, desde que ficasse só no medo, e não acontecesse algo de estranho numa fria e cinzenta manhã em que ele roubou minha merenda. Foi na hora do recreio, quando todo mundo saía esfomeado da sala de aula e ia comer o lanche preparado com carinho pelas nossas mães (naquela época as mães preparavam lanche para os filhos e não havia merenda escolar) e tomar um café com leite quentinho (a coca cola ainda não tinha aparecido, pelo menos lá em Turvo). De repente Jorge Geraldo, ops, Jotagê, avançou para cima de mim e me arrancou com suas garras (sei que exagero) o pão com salame de minhas mãos.
- O que é isto? – ainda falei, assustado.
- Vou comer seu lanche – rosnou, já enfiando a bocarra no pão macio – Além do mais você está gordo. (Era uma mentira deslavada).
- E o seu?
- Não tenho.
Era a primeira vez que eu tinha contato com uma pessoa do MSM, Movimento sem Merenda, germe do futuro MST. Pobre que era, ia sem lanche. Mas, e o que eu tinha com isto? Tentei-lhe tomar o pão das mãos (o que revelava minha capacidade de resistência, mas que ficou por aí),porém ele me empurrou com violência.
- Se vier, te dou um murro na cara – ameaçou-me. E para encerrar o assunto: Não conte para ninguém.
Foi duro ter que agüentar as outras aulas, com a barriga vazia e o estômago roncando alto. Quando cheguei em casa, quase desmaiando de fome, comi que nem um doido o almoço adredemente preparado. (Este advérbio é para aporrinhar os leitores). E, lógico, não contei nada. Porém, como nos dias seguintes, ele continuava roubando meus lanches, e eu já começava a passar mal de tanta fome, chegando quase a desmaiar, não resisti e contei para minha mãe. Ela ficou uma fera. Esperou, um dia, o Jorge Geraldo passar em frente de nossa casa – ele morava por aqueles lados – e o agarrou pelo braço. (Ah, que felicidade não ter o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente, também conhecido como “É Cacete no Adulto”).
- Vem cá, seo... (lembre-se de um antigo sinônimo para afrodescendente?), moleque sem vergonha...
- O que foi, Dona Marcinha, não fiz nada... (Quer dizer que, além de valentão, mentiroso -ainda estou por aqui com ele me chamar de gordo-, ele era dissimulado?)
- Como não fez? Anda roubando a merenda de meu filho. Se você fizer isto mais uma vez, vou falar com o seu pai o José Geraldo (olha aí a origem do Jorge Geraldo) e o entrego para o soldado.
- Tá bom, ta bom – choramingou o menino malvado, enquanto me olhava de soslaio.
Ah, meu Deus (naquela época acredita nele), para que fui falar com minha mãe? Ele vai me matar, ou no mínimo quebrar meus óculos e meus dentes da frente. Preciso rezar para Nossa Senhora, minha madrinha me ajudar, senão estou lascado. Só um milagre pode me salvar daquele MSM...
Bem, o milagre aconteceu. Deus escreve torto por linhas certas, ou seria o contrário. Enquanto eu temia por uma desgraça pessoal (pequena, diga-se de passagem diante da que vou narrar), uma grande desgraça ia ocorrer naquela tarde.  João Tadeu, um grande centroavante do time do Areinha, pai de Tadeuzinho (essa mania de os pais colocarem nos filhos o próprio nome), meu amigo do peito, passou mal no campo de futebol, e bateu as chuteiras. Digo, as botas. Fui uma consternação geral. O altofalante da igreja comunicou o falecimento, os sinos tocaram, o povaréu ficou todo compungido e todos se vestiram com as melhores roupas e foram para o velório – que ia varar a noite. O enterro seria no dia seguinte. E lá estava eu, como sói acontecer, para dar apoio ao Tadeuzinho e consolá-lo. A noite esfriara e o sereno caíra com um frio tal que não consegui deixar de me resfriar. Quando fui para casa, tossindo e espirrando, minha mãe me preparou uma gemada quente e dois comprimidos – ensinamentos da vovó – e fui para a cama, esquecendo do que eu poderia enfrentar no dia seguinte. Só quando me levantei é que me dei conta do perigo que me esperava: e agora. Comecei até a espirrar de nervoso. Pensei em não ir à escola. Mas era protelar o sofrimento. A angústia. Resolutamente (não disse que eu era corajoso?) fui para as aulas e na hora do recreio já saí correndo em direção do Jorge Geraldo para entregar-lhe altruisticamente o meu lanche. O nervosismo era grande, de tal forma que, quando cheguei perto dele e estendi-lhe o delicioso pão com salame, o meu psiquismo me traí e me levou a espirrar em cima do lanche.
- Eca – ele disse. - Que nojo.
- Não vai querer?.
- Não – falou secamente. Aliás a única coisa seca ali era a fala dele, diante do molhaceiro que meu espirro aprontara.
Daquele dia em diante,  oferecia sempre  o lanche para o Jotagê, mas antes ou cuspia, ou espirrava de mentirinha, ou lambia-o, e ele recusava no ato.
Pois é, o Jorge Geraldo além de valentão, mentiroso (gorda é a avó dele), dissimulado, era nojento. Não gostava de lanche espirrado...

        

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

LONGEVIDADE

Talvez entre os desejos das pessoas  nós encontramos a vontade de viver muito. Dicas, conselhos e idéias pululam por todos os cantos. Parece que nunca tivemos  tantos centenários e idosos no mundo todo. Li um texto sobre envelhecimento e longevidade que achei interessante. Passo para meus leitores.

PARA SE VIVER MAIS É PRECISO FAZER...


Antes de eu completar a frase do título, é bom lembrar que os estudos científicos apontam cinco fatores importantíssimos para a longevidade: não ser fumante, não ser hipertenso crônico, não ser obeso, não ter vida sedentária e ter relacionamentos íntimos. Quanto a estes últimos, pode ser tanto o casamento tradicional, o ficar junto, ou mesmo uma amizade profunda e verdadeira. Pessoas casadas ou que têm amigos íntimos adoecem menos e vivem mais do que as pessoas que possuem poucos relacionamentos.
Agora, porém, dados estatísticos têm revelado que quem possui mestrado e doutorado vive em média mais tempo do que quem fez só mestrado. Portanto para viver mais é preciso fazer mestrado e doutorado.
Realmente, as estatísticas mostram que as pessoas que recebem educação formal por mais tempo são mais saudáveis e vivem mais do que as menos educadas. Quais seriam os motivos? Bem, estas pessoas são mais bem informadas sobre os riscos associados a doenças (exemplo, tabagismo), a prevenção (não dirigir depois de consumir álcool), tendem a seguir mais corretamente o tratamento médico, têm maior capacidade de resolver os problemas pessoais de maneira geral. Além do mais, têm mais chance de conviver com outras pessoas do mesmo nível de educação e informação.
O cérebro instruído torna-se mais capaz ao desenvolver suas capacidades cognitivas, produz mais neurônios (as pesquisas indicam que produzimos sempre mais e mais neurônios),  cria novas estratégias para enfrentar problemas e, sobretudo, adquire mais resistência a danos. Esta resistência, ou resiliência, acontece através do fortalecimento das conexões sinápticas entre os neurônios que são efetivamente usadas. Aprender atividades novas leva ao aumento da densidade de sinapses nas áreas requisitadas do córtex cerebral.
Mesmo quando o cérebro começa a sofrer as conseqüências do envelhecimento, as capacidades mentais adquiridas através da educação permitirão à pessoa manter um funcionamento satisfatório do cérebro. Pode-se dar a isto o nome de “reserva cerebral”: a capacidade que a atividade mental tem em aumentar o número de conexões entre os neurônios. É bem possível que um cérebro rico em sinapses não vá apresentar deficiências cognitivas, mesmo quando cheio de placas senis ou atacado pelo mal de Alzheimer. A educação aumenta a capacidade do cérebro em resistir a danos, promove o bem estar e aumenta o tempo de vida. Cérebros instruídos viverão mais e melhor.

Bem, tudo isto eu li em um belo livro, “Fique de bem com o seu cérebro”, de Suzana Herculano-Houzel, uma cientista carioca, autora também do ótimo “O Cérebro Nosso de Cada Dia”. Vale a pena ler os dois livros. O seu cérebro agradece.


terça-feira, 2 de novembro de 2010

Décima Quinta Cova - Meu Poema..

FINADOS.

Em nossa cultura católica, o dia de Finados é muito respeitado. Virou até feriado nacional para dar uma folga aos vivos. Cemitérios ficam apinhados. As missas fúnebres são lindas com seus Cantos Gregorianos. Não deixando passar em branco esta data, passo aos leitores um poema meu, escrito após a morte de meu pai.

Minha professora de literatura dizia que ser "modernista" é saber a quem copiar. Todos estamos aproveitando a experiência de outros, seus saberes e obras e fazendo a nossa própria obra. "Nada de novo sob o sol", já dizia há mais de dois mil anos um livro da bíblia. Anos atrás ganhei de um amigo um livro. Ele, um poeta de mão cheia, escreveu algo sobre o lugar onde o pai dele estava enterrado. Gostei demais. Peguei a idéia e também me enveredei por este tema. O poema chegou a ser publicado num livro-coletânea dos alunos do Curso de Português do "Pleno Viver", da UEMG. Apresento uma tradução em inglês, realizada por um artista/poeta de Cambridge, Inglaterra.



DÉCIMA QUINTA COVA

Mário Cleber da Silva.


Não. Meu pai não está enterrado na curva do rio,
Nem ao pé do morro que circunda a cidade.
Nem no alto do outeiro perto da igrejinha.
Ele está enterrado na décima quinta cova
.
À esquerda do esquelético pinheiro,
Que não lhe dá sombras nem ao entardecer.

As vizinhas árvores, avaras,
Nem riscam de leve seu túmulo.

Uma lápide despida de flores
Desprovida de adornos
Negra, lisa, aquecida pelo sol
Suave de manhã, inclemente à tarde

O muro fica distante, isolado pelas casas
Que, em volta, pululam, cheias de gente.
E de vida.

Meu pai está perto e longe
Das casas do bairro, da cidade
Das gentes.

À noite, a lua vem
Insone, iluminar o túmulo.
E a lápide, antes quente
Esfria. Congela.
Meu pai está enterrado na décima quinta cova,
À esquerda.

Sol e lua são seus. Por inteiro.
Ele é uma raiz Que vai crescer
Sem sombras que o impeçam
De ver, de ser a luz.




The 15th Grave –
translated by James Nesbitt

No, my father is not buried in the bend of the river,
Nor is he at the foot of the hill,
which surrounds the town,
and he isn't at the top of the knoll,
near the small church.

He is buried in the 15th grave,
The left side of the skeletal pine tree
is where he lies,
He has no shadow, not even at sunset.

The neighbour trees are all parsimonious,
They leave no scratch marks on his tomb,
not even thin ones

A flowerless tombstone,
without adornments.
Smooth, black and cold
warmed only by the severe sun,
in the afternoon
like an insect held under a magnifying glass

The wall is very far away
Isolated by the houses that surround
yet swarmed and congested by their
overlooking eyes
Full of life

Near and far is my father
Near and far from the houses
The town
The counties
All living souls

At night a sleepy moon looks down
Enlightens the grave
The tombstone
Returning to its cold state

The sun and the moon belong to him
My father
He is a seed that will grow
Prevented by nothing
Seeing and being the light
My father is buried in the 15th grave.