Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

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quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Por que - de cara - não gostamos de algumas pessoas?

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Mário Cleber da Silva.
Psicólogo.

. Por que somos atraídos ou não por outras pessoas? Têm sido múltiplas as explicações para as atrações interpessoais Desde algo misterioso, uma química inexplicável, um popular "místico" (meu anjo não bate com o dele), ou simpatia natural, a  química cerebral e, até mesmo, tipos de personalidade.
À psicologia, como ciência do comportamento, cabe dar explicações e algumas respostas têm sido oferecidas, com diversos enfoques.
ATRAÇÃO E REFORÇO
O princípio do reforço é a mais comum das explicações para o fato de ser atraído ou gostar de alguém: gostamos daqueles que nos reforçam e não gostamos de quem nos pune. Até em relação aos grupos, ficamos naqueles que têm sucesso e abandonamos os que fracassam. O sucesso é reforço e o fracasso, punição.
Os reforços que os outros nos proporcionam têm matizes e tons diversos: atenção, afeto, beleza, segurança, concordância com nossas idéias e valores, alegria, bom humor, etc. Um simples sorriso, um olhar, uma palavra, às vezes, bastam.
Pensando em reforços como recursos, podemos dizer que quanto mais recursos alguém dispuser para distribuir, mais as outras pessoas serão atraídas por ele. Se forem raros ou escassos esses recursos, os outros não se aproximam e ficam distantes. Em nossa cultura, as pessoas bonitas, inteligentes, de bom humor, bem informadas, extroversivas e comunicativas (portanto, com mais “recursos”) tornam-se mais atraentes. Mas em um grupo de delinquentes, são outros os atrativos: a força física, a astúcia ou até mesmo a crueldade.
 Aqui entra o conceito de “custos versus benefícios”.
Toda relação interpessoal implica custos e produz determinados resultados, com maior ou menor benefício. O resultado do custo versus benefício é que vai dar rumo à relação. A quantidade de recompensa é que vai ajudar a manter ou não a relação. Por exemplo, uma pessoa me dará prazer por ser inteligente, mas tenho que tolerar o fato de ela ser mandona, autoritária, “metida”, impaciente. O benefício de conviver com essa pessoa inteligente compensa os “custos” de ter agüentar os aspectos que não gosto? Se não compensar, eu me distancio, me afasto dela.

Nível de Comparação (o NC) é a expectativa do resultado custo - benefício a ser produzido em nossas inter-relações. Algumas pessoas são muito exigentes e têm um NC muito alto e podem ter dificuldades nos relacionamentos por isso.
 Outros, mais modestos, têm um nível de expectativa menor.
As pessoas são atraídas a estabelecer e manter contatos com outras pessoas que produzam resultados iguais ou superiores ao seu N.C. Se for abaixo, a inter-relação não se dá ou, então, acaba Há pessoas porém que, na falta de relacionamentos, aceitam aqueles que estão abaixo do seu NC. Mas correm o risco de ficarem insatisfeitas.
As pessoas, situações e objetos próximos da pessoa que nos reforça também se tornam reforçadores. Se gostamos de quem nos reforça, vamos gostar do que está ao seu redor.Ou do que ela gosta, do que ela usa , de sua preferência musical, de seu perfume. É com o se houvesse uma identificação com esta pessoa.

Algo curioso e interessante acontece com os elogios e as críticas:
Um elogio partindo de um desconhecido é mais reforçador do que partindo de um amigo. Sabemos que nossos amigos vão nos elogiar Por outro lado, a desaprovação ou crítica de um amigo dói mais do que de um desconhecido.
A angústia é uma situação que sempre evitamos e vários estudos têm demonstrado que a presença de outras pessoas ajuda a aliviar a angústia. Procuramos os outros e nos aproximamos das pessoas porque isso diminui a nossa angústia. Outros experimentos em psicologia social chegaram à seguinte conclusão: pessoas angustiadas buscam preferencialmente outras pessoas angustiadas, que estejam em situação semelhante. E por que? Talvez para reduzirem diretamente a sua própria angústia e para se auto-avaliarem. Será que estou tão ruim quanto ele?
O ser humano não tolera, por muito tempo, o isolamento social, que poderá provocar doenças físicas e ou psíquicas.

ATRAÇÃO E RECIPROCIDADE.
Já vimos que nos sentimos atraídos por aqueles que nos reforçam, porém, para que a atração perdure e surja uma relação estável, necessitam-se de gratificações recíprocas. Gostamos das pessoas que achamos que gostam de nós. E isso pode acontecer de duas formas: ou sentimos atração por alguém e, assim, achamos que este alguém gosta de nós, ou percebemos que alguém gosta de nós e nos sentimos atraídos por ele.
As pessoas de elevada auto-estima e que aceitam a si próprias são as mais capazes de dar e receber afeição
Existe a hipótese de que quanto maior a proximidade entre as pessoas, maior a possibilidade de se sentirem atraídas entre si. Gostamos mais das pessoas que se sentam perto de nós na escola, somos mais atraídos por colegas de sala, ou os outros colegas do mesmo curso, da mesma escola. E mais, os preconceitos diminuem a partir do momento que as pessoas ficam mais próximas. A proximidade também é fator importante na escolha do cônjuge. A proximidade interfere nas amizades.
A proximidade está relacionada com a atração interpessoal, mas, por si só, não causa a atração: ela aumenta a probabilidade da atração mútua.
A importância da proximidade é m ais bem avaliada através de:

1)Acessibilidade: É mais provável que as interações aconteçam com as pessoas mais próximas.

2) Interação contínua.  Isto porque ela:
  • Provoca maior conhecimento entre os integrantes de uma relação.
  • Tende a diminuir os preconceitos.
  • Extingue a hostilidade autística (fenômeno que se caracteriza pelo fechamento sobre si mesmo, interrupção de relacionamento e negativa de interação). A exigência de interação quebra o “gelo”.
  • Gera um maior esforço para melhorar a relação, acentuando os traços positivos e diminuindo os negativos, e tentando reduzir os conflitos.
  • Aumenta o conhecimento entre as pessoas, facilitando a previsibilidade de suas reações e comportamentos. As pessoas não gostam de enfrentar situações desconhecidas e ambíguas, pois provocam ansiedade e insegurança. A interação contínua aumenta o conhecimento sobre o outro e conseqüentemente diminui a ansiedade.
  • A familiaridade - decorrente da proximidade - provoca avaliações positivas. Gostamos mais e somos mais atraídos por pessoas que vemos com mais freqüência. Existe, porém, a possibilidade de que a proximidade possa levar à agressividade ou hostilidade, sobretudo quando as relações anteriores estiverem comprometidas. Um terço dos assassinatos ocorre dentro da família, de acordo com pesquisas sobre violência. Temos visto e assistido  a um aumento das violências entre parentes. Pode-se pensar mesmo que quando há contatos excessivos, ou por necessidade, ou por falta de espaço físico, eclode a violência.
REFORÇOS E SEMELHANÇAS.
Há uma forte e significativa relação entre semelhança e atração interpessoal. Sábias palavras de Spinoza: “Toda pessoa se esforça por fazer com que os outros amem o que ela ama e odeiem o que ela odeia”. E o ditado popular afirma: cada qual com seu igual. Não obstante o também ditado popular que diz “dois bicudos não se beijam”, vamos falar das semelhanças e depois da diferenças.
O grau de semelhança entre duas ou mais pessoas está relacionado com a atração que uma exerce sobre a outra. Mas não é qualquer tipo de semelhança (altura, cor do cabelo, o mesmo tipo de carro, etc...). A semelhança só exercerá atração se possuir elementos reforçadores como atitudes e características de personalidade, que prepararão o terreno para futuras amizades.
Mas, é a semelhança que gera a atração ou é a atração que gera semelhança? Há estudos que mostram que a percepção de semelhanças leva à atração, e há outros que indicam que a atração é responsável pela percepção das semelhanças. Percebemos mais semelhanças em pessoas que gostamos e mais diferenças em pessoas que não gostamos. Entretanto, as pessoas que sentem atração mútua se percebem como mais semelhantes do que na realidade o são.
Por que a semelhança provoca atração?  Porque há possibilidade de que as pessoas sejam reforçadas ao se aproximar de alguém que é semelhante. Não é a semelhança em si mesma que gera a atração, mas a expectativa de que a semelhança provoque uma interação mais gratificante. Procuramos não interagir com pessoas desconhecidas ou diferentes, por medo de rejeição, ou porque a interação pode exigir muito de nós mesmos e nos oferecer pouco em troca.

Por que a semelhança é reforçadora? Por vários motivos:

1)      As pessoas obtêm equilíbrio interno e coerência cognitiva ao gostar de pessoas que têm atitudes semelhantes às suas.
2)      Desde criança aprendemos que a aceitação de crenças e opiniões "erradas" pode nos trazer problemas. Se convivemos com pessoas semelhantes, temos a convicção de que estamos “certos”.
3)      Prevemos melhor o comportamento do outro se esse outro for "semelhante" e desenvolvemos expectativas de relações agradáveis e recompensadoras com esse “semelhante”.
4)      Se encontramos alguém que concorda conosco, achamos que essa pessoa gosta de nós e, conseqüentemente, gostamos dela.
5)      Temos necessidade de avaliar nossas habilidades e opiniões, e, na falta de um meio objetivo, avaliamo-nos através de comparações sociais. E, logicamente, com pessoas semelhantes.
6)      A interação com os semelhantes provoca menos conflitos, menos esforços, mas maiores ganhos. E reforços.
Há opiniões opostas.
Por exemplo, as que asseveram ser o reforço o mais importante nas relações e quem pode nos dar isso seriam as pessoas diferentes, pois nos levam a crescer, aprender coisas novas.
Existe também a teoria da complementaridade ou dessemelhanças para justificar, sobretudo, o casamento: as diferenças de personalidade podem contribuir para a atração mútua. O que explicaria a atração seria a satisfação das necessidades. E isso aconteceria de duas maneiras: 1) quando uma pessoa A tem um alto grau de necessidade de dominação e o outro, B, a mesma necessidade, mas em grau baixo; ou 2) a pessoa A tem uma necessidade muito alta e a B também muito alta, mas necessidades complementares. Exemplo: o marido que tem necessidade de expressar hostilidade e a esposa necessidade de sofrer humilhações, ou vice-versa. 

Como veem, as relações entre as pessoas são cheias de nuances, riquezas e conflitos, lógico. Nossa vida é cheia disto, deste caldeirão de emoções.





3 comentários:

  1. A arte da convivência merece um tratado de psicologia, pois tamanha é a complexidade deste tema. O artigo em tela traz alguns "achegas"para que possamos compreender melhor este tema tão complexo.
    Antônio Carlos Faria Paz - Itapecerica - MG

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  2. Muito interessante. Isso rende boas conversas. Muito bom. Já leu sobre os perfis - colérico, sanguíneo, melancólico e fleumático? Acho que você se interessaria bastante pelo tema. Abraços!

    Nívea Braga

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    1. Estes perfis foram muito utilizados e serviram de base para muito estudo de psicólogos.

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