Leiam o texto antes de tirarem suas conclusões e mergulhem na ideia sem preconceitos. Talvez sirva para chocalhar os nossos neurônios.
Achei o texto na internet. Não tinha o nome do autor.
Apesar das mudanças sociais e maior abertura com relação à
discussão da sexualidade, os bissexuais ainda são vistos com desconfiança e são
alvo de preconceito. Um exemplo é Daniela Mercury, que desde que assumiu
seu relacionamento amoroso com uma mulher tem sofrido críticas. A declaração da
cantora atingiu também seu ex-marido, Marco Scabia. Ter dito que aceitava com
naturalidade a sexualidade da ex-mulher causou estranhamento e lhe rendeu ser
ironizado até na imprensa.
Para Richard Miskolci, professor do departamento de Sociologia da UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos), a sociedade exerce forte influência para que os indivíduos se definam como heterossexuais. "Todos têm essa possibilidade de se relacionar com o mesmo sexo, mas, no processo de socialização, as pessoas podem perdê-la. Desde crianças somos adestrados. Heterossexualidade não é algo natural, hoje sabemos que ela e compulsória", declara Miskolci.
Para Richard Miskolci, professor do departamento de Sociologia da UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos), a sociedade exerce forte influência para que os indivíduos se definam como heterossexuais. "Todos têm essa possibilidade de se relacionar com o mesmo sexo, mas, no processo de socialização, as pessoas podem perdê-la. Desde crianças somos adestrados. Heterossexualidade não é algo natural, hoje sabemos que ela e compulsória", declara Miskolci.
"Nas ciências sociais, desde a década de 1960, começaram a
surgir estudos que mostram que as pessoas são socialmente treinadas para gostar
do sexo oposto", afirma o professor, que pesquisa o uso das mídias
digitais voltadas para pessoas que buscam parceiros amorosos. "Muitos
homens casados ou com noiva e namorada criam perfis buscando relacionamento com
outro homem, a maioria em segredo"
Preconceito
A educadora Juliana Inez Luiz de Souza, 25 anos, que também é
assessora em uma central sindical de Curitiba, no Paraná, conta que é muito
comum sofrer preconceito quando está de mãos dadas com sua mulher. "Ouço
frases do tipo: "Posso entrar no meio?" ou "Sapatão dos
infernos". Já jogaram ovo na gente, levei cuspida junto com uma
namorada", declara Juliana. "Mas não é porque sou casada com uma
mulher e pretendo ficar muito tempo com ela que eu sou lésbica. E também não
significa que quando estou com um homem sou heterossexual. Sou bissexual. E as
pessoas precisam saber que isso existe".
Além dos problemas enfrentados por Juliana, muitos outros podem
aparecer no caminho de quem decide mostrar à sociedade que essa é sua
orientação sexual. "O bissexual sofre muito preconceito. Já ouvi
muitas vezes que não existe bissexual, mas homossexual que não quer se assumir.
Isso não é verdade", afirma o psiquiatra, sexólogo e diretor do
departamento de Sexualidade da Associação Paulista de Medicina Ronaldo Pamplona
da Costa.
Segundo a psicanalista Regina Navarro Lins, é comum a acusação de que os bissexuais ficam em cima do muro. "São tidos como gays enrustidos. Numa cultura de mentalidade patriarcal, se você diz que é bissexual, também informa que faz sexo com seu oposto, o que pode amenizar um pouco o preconceito", afirma Regina, que é autora de onze livros entre os quais "A Cama na Varanda" e "O Livro do Amor" (editora Best Seller), além de manter um blog no UOL
Segundo a psicanalista Regina Navarro Lins, é comum a acusação de que os bissexuais ficam em cima do muro. "São tidos como gays enrustidos. Numa cultura de mentalidade patriarcal, se você diz que é bissexual, também informa que faz sexo com seu oposto, o que pode amenizar um pouco o preconceito", afirma Regina, que é autora de onze livros entre os quais "A Cama na Varanda" e "O Livro do Amor" (editora Best Seller), além de manter um blog no UOL
Ideia equivocada
Além de tachados como indefinidos sexualmente, os bissexuais
também podem ser considerados promíscuos por alguns, como conta Juliana.
"É outro clichê: bissexual é pervertido e topa tudo. As pessoas têm a
visão que bissexual não se completa só com um na hora da transa, que precisa
ter o outro", fala a assessora, que completa: "Eu me contento
muito bem, seja com um ou com outro. Estou casada com uma mulher há três anos e
minha relação é monogâmica, como a maioria dos casamentos, no estilo
tradicional".
A psicóloga Claudia Lordello explica que essa é uma ideia errada a respeito das pessoas com essa orientação. "O bissexual pode ter relacionamentos estáveis e duradouros", afirma ela, que também é sexóloga do projeto Afrodite, o ambulatório de sexualidade feminina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
A psicóloga Claudia Lordello explica que essa é uma ideia errada a respeito das pessoas com essa orientação. "O bissexual pode ter relacionamentos estáveis e duradouros", afirma ela, que também é sexóloga do projeto Afrodite, o ambulatório de sexualidade feminina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
"Há promíscuos e não promíscuos heterossexuais, bissexuais e
homossexuais. O indivíduo que realiza sua bissexualidade não pode ser
considerado promíscuo por esse comportamento exclusivamente", declara a
psiquiatra Carmita Abdo, fundadora e coordenadora do ProSex (Programa de
Estudos em Sexualidade da USP). "Promiscuidade é trocar ou acumular
parcerias sem critério e sem limite. É fazer do sexo uma forma banal e
irresponsável de relacionamento. E isso resulta de um perfil de personalidade
independentemente da orientação sexual", diz a médica.
Carmita explica que o bissexual tem como característica sentir-se
atraído pelos dois sexos, mesmo que não exercite essa prática. "Essa
pessoa pode decidir e se empenhar para restringir-se a um só tipo de
relacionamento, porque fez um investimento emocional numa relação, constituiu
família por exemplo. Mas, em essência, o bissexual continua atraído por homens
e mulheres".
Ou seja: há os que se definem por uma relação no concreto e sublimam o outro lado ou o vivem apenas na fantasia, por meio de filmes, internet. E há os que fazem sexo de forma concreta com homens e mulheres.
Ou seja: há os que se definem por uma relação no concreto e sublimam o outro lado ou o vivem apenas na fantasia, por meio de filmes, internet. E há os que fazem sexo de forma concreta com homens e mulheres.
Pesquisa
Em 2008, para o estudo Mosaico Brasil,
coordenado pela psiquiatra Carmita Abdo, foram entrevistados mais de 8.200
brasileiros entre 18 e 80 anos, em dez capitais, sendo 49% homens e 51%
mulheres. Entre várias outras perguntas, os participantes responderam se faziam
sexo habitualmente só com homens, apenas com mulheres ou com os dois. O
resultado: 2,6% dos homens responderam que faziam sexo com ambos e 1,4% das
mulheres deram a mesma resposta. "Ou seja, 4% das pessoas se identificaram
como bissexuais, no Brasil. É um número que coincide com as estatísticas
internacionais de pessoas adultas que já têm sua orientação sexual
definida", conta Carmita.
Fronteiras
Para a historiadora Mary Del Priore, a noção de bissexualidade
ganhou força a partir dos anos 1970, com as transformações sociais como a
entrada das mulheres no mercado de trabalho, a liberdade sexual trazida pela
pílula anticoncepcional e o movimento hippie.
"Mulheres vestem calças compridas e se masculinizam para vencer profissionalmente. Rapazes deixam os cabelos compridos. Começam a se apagar as fronteiras entre o que é masculino e feminino, permitindo às pessoas transitarem de um papel para o outro. É o pano de fundo para o conceito da bissexualidade", fala Mary, que estuda a sexualidade no Brasil através dos séculos.
"Caminhamos para um mundo onde os papéis sexuais vão ficar cada vez mais diluídos e as pessoas vão se permitir escolher e não ser necessariamente a mesma coisa a vida toda", afirma a pesquisadora, que finaliza: "A bissexualidade se abre hoje como uma possibilidade para todo mundo. Acho que a intolerância em relação ao bissexual vai decrescer".
"Mulheres vestem calças compridas e se masculinizam para vencer profissionalmente. Rapazes deixam os cabelos compridos. Começam a se apagar as fronteiras entre o que é masculino e feminino, permitindo às pessoas transitarem de um papel para o outro. É o pano de fundo para o conceito da bissexualidade", fala Mary, que estuda a sexualidade no Brasil através dos séculos.
"Caminhamos para um mundo onde os papéis sexuais vão ficar cada vez mais diluídos e as pessoas vão se permitir escolher e não ser necessariamente a mesma coisa a vida toda", afirma a pesquisadora, que finaliza: "A bissexualidade se abre hoje como uma possibilidade para todo mundo. Acho que a intolerância em relação ao bissexual vai decrescer".
O pensamento da psicanalista Regina Navarro Lins segue essa linha
de raciocínio. "É possível que haja mais bissexuais daqui a algum tempo
por conta da dissolução das fronteiras entre masculino e feminino. Não existe
mais nada que só interesse a mulher
ou ao homem.
Ela também explica os motivos que a levam a concordar que os bissexuais terão mais liberdade para assumirem sua orientação. "Acredito que, no futuro, muito mais gente poderá ser bissexual porque a escolha de objeto de amor provavelmente se dará pelas afinidades e não pelo fato de ser homem ou mulher", afirma.
Ela também explica os motivos que a levam a concordar que os bissexuais terão mais liberdade para assumirem sua orientação. "Acredito que, no futuro, muito mais gente poderá ser bissexual porque a escolha de objeto de amor provavelmente se dará pelas afinidades e não pelo fato de ser homem ou mulher", afirma.
Tudo pode mudar
O indivíduo pode descobrir ter atração pelos dois sexos em
qualquer momento da vida. "Esse interesse pode ser pelo mesmo sexo ou o
contrário: a pessoa vive uma relação homossexual e, descobre que tem desejo
pelo sexo oposto", segundo a psicóloga Claudia Lordello.
O psiquiatra Ronaldo Pamplona da Costa também acredita nesta
possibilidade. "A orientação sexual pode ir mudando no decorrer da vida.
Sei do caso de um homossexual assumido por 30 anos, casado com outro homem que,
aos 60, casou com uma mulher por opção", fala o psiquiatra que também é
autor do livro "Os Onze Sexos – As Múltiplas Faces da Sexualidade
Humana" (Kondo Editora).
Mas, segundo Fernando Seffner, professor da pós-graduação em
Educação e coordenador da linha de pesquisa em Educação, Sexualidade e Relações
de Gênero na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), não existe uma
estrutura social que permita ao bissexual viver sua orientação tranquilamente.
"O sujeito prefere manter compromisso estável com uma mulher, de quem gosta de verdade, e ter relações com homens em segredo", conta Seffner, cuja tese de doutorado abordou a bissexualidade masculina. Para ele, o movimento gay tem o grande mérito de ter construído a homossexualidade como vida viável, com possibilidade de adotar filho, ter um companheiro, estrutura social, mesmo com os preconceitos.
"O sujeito prefere manter compromisso estável com uma mulher, de quem gosta de verdade, e ter relações com homens em segredo", conta Seffner, cuja tese de doutorado abordou a bissexualidade masculina. Para ele, o movimento gay tem o grande mérito de ter construído a homossexualidade como vida viável, com possibilidade de adotar filho, ter um companheiro, estrutura social, mesmo com os preconceitos.