Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

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segunda-feira, 8 de julho de 2013

A CONSELHO DO MARIDO - Crônica





Já coloquei aqui uma crônica de Humberto de Campos (“O Filho do comendador” – quem não leu, pode fazê-lo agora.) e uma  pequena biografia do autor. Hoje vou fazer o mesmo com Artur de Azevedo: pequena biografia e uma crônica bem engraçada.


Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo nasceu em 7 de julho de 1855, em São Luís - MA e faleceu em 22 de outubro de 1908, na cidade do Rio de Janeiro. Filho de David Gonçalves de Azevedo, vice-cônsul de Portugal em São Luís, e Emília Amália Pinto de Magalhães.
Em 1871 escreveu uma série de poemas satíricos sobre as pessoas de São Luís, perdendo o emprego de amanuense (copista de textos à mão).
Seguiu para o Rio de Janeiro aos 18 anos de idade (1873), onde foi tradutor de folhetins e revisor de "A Reforma", tornando-se conhecido por seus versos humorísticos. Escrevendo para o teatro, alcançou enorme sucesso com as peças "Véspera de Reis" e "A Capital Federal". Fundou a revista "Vida Moderna", onde suas crônicas eram muito populares. Colecionador de obras (pinturas, gravuras e esculturas) e crítico de arte nos jornais cariocas, constituiu um vasto acervo denominado postumamente de "Coleção Arthur Azevedo de Gravuras". Foi amigo de artistas como Victor Meirelles, Rodolfo e Henrique Bernardelli, Modesto Broccos e João Zeferino da Costa.
Artur de Azevedo, prosseguindo a obra de Martins Pena, consolidou a comédia de costumes brasileira, sendo no país o principal autor do Teatro de revista, em sua primeira fase. Sua atividade jornalística foi intensa, devendo-se a ele a publicação de uma série de revistas, especializadas, além da fundação de alguns jornais cariocas.
Era irmão mais velho do escritor Aluísio Azevedo, autor de "O Cortiço" e "O Mulato". 




Artur de Azevedo
A CONSELHO DO MARIDO
Estamos a bordo de um grande paquete da Messagéries Maritimes, em pleno Atlântico, entre os dois hemisférios. Dois passageiros, que embarcaram no Rio de Janeiro, um de quarenta e outro de vinte e cinco anos, conversam animadamente, sentados ambos nas suas cadeiras de bordo.
- Pois é como lhe digo, meu amiguinho! - dizia o passageiro de quarenta anos - o homem, todas as vezes que é provocado pela mulher, seja a mulher quem for, deve mostrar que é homem! Do contrário, arrisca-se a uma vingança! O caso da mulher de Putifar reproduz-se todos os dias!
- E se o marido for nosso amigo?
- Se o marido for nosso amigo, maior perigo corremos fazendo como José do Egito.
- O que você está dizendo é simplesmente horrível!
- Talvez, mas o que é preferível: ser amante da mulher de um amigo sem que este o saiba, ou passar aos olhos dele por amante dela sem o ser, em risco de pagar com a vida um crime que não praticou?
- Acha então que temos o direito sobre a mulher do próximo...?
- Desde que a mulher do próximo nos provoque. Se o próximo é nosso amigo, paciência! Não se casasse com uma mulher assim! Olhe, eu estou perfeitamente tranqüilo a respeito da Mariquinhas! Trouxe-a comigo nesta viagem porque ela quis vir; se quisesse ficar no Rio de Janeiro teria ficado e eu estaria da mesma forma tranqüilo.
- Mas o grande caso é que se um dia algum dos seus amigos...
- Desse susto não bebo água. Já um deles pretendeu conquistá-la... chegou a persegui-la... Ela foi obrigada a dizer-mo para se ver livre dele... Dei um escândalo! Meti-lhe a bengala em plena Rua do Ouvidor!
Dizendo isto, o passageiro de quarenta anos fechou os olhos, e pouco depois deixava cair o livro que tinha na mão: dormia. Dormia, e aqueles sonos de bordo, antes do jantar, duravam pelo menos duas horas.
O passageiro de vinte e cinco anos ergueu-se e desceu ao compartimento do paquete onde ficava o seu camarote.
Bateu levemente à porta. Abriu-lhe uma linda mulher que se lançou nos seus braços. Era a Mariquinhas.
- Então? - perguntou ela - consultaste meu marido?
- Consultei...
- Que te disse ele?
- Aconselhou-me a que não fizesse como José do Egito. Amigos, amigos, mulheres à parte.
E o passageiro de vinte e cinco anos correu cautelosamente o ferrolho do camarote.


Um comentário:

  1. Crônica com um tema interessante e instigante.
    Antônio Carlos Faria Paz - Itapecerica/MG

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