Já coloquei aqui uma crônica de Humberto de Campos
(“O Filho do comendador” – quem não leu, pode fazê-lo agora.) e uma pequena biografia do autor. Hoje vou fazer o
mesmo com Artur de Azevedo: pequena biografia e uma crônica bem engraçada.
Artur Nabantino Gonçalves de
Azevedo nasceu em 7 de julho de 1855, em São Luís - MA e faleceu em 22 de
outubro de 1908, na cidade do Rio de Janeiro. Filho de David Gonçalves de
Azevedo, vice-cônsul de Portugal em São Luís, e Emília Amália Pinto de
Magalhães.
Em 1871 escreveu uma série de poemas satíricos sobre
as pessoas de São Luís, perdendo o emprego de amanuense (copista de textos à
mão).
Seguiu para o Rio de Janeiro aos
18 anos de idade (1873), onde foi tradutor de folhetins e revisor de "A
Reforma", tornando-se conhecido por seus versos humorísticos. Escrevendo
para o teatro, alcançou enorme sucesso com as peças "Véspera de Reis"
e "A Capital Federal". Fundou a revista "Vida Moderna",
onde suas crônicas eram muito populares. Colecionador de obras (pinturas,
gravuras e esculturas) e crítico de arte nos jornais cariocas, constituiu um
vasto acervo denominado postumamente de "Coleção Arthur Azevedo de
Gravuras". Foi amigo de artistas como Victor Meirelles, Rodolfo e Henrique
Bernardelli, Modesto Broccos e João Zeferino da Costa.
Artur de Azevedo, prosseguindo a
obra de Martins
Pena, consolidou a comédia de costumes brasileira,
sendo no país o principal autor do Teatro
de revista, em sua primeira fase. Sua atividade jornalística foi intensa,
devendo-se a ele a publicação de uma série de revistas, especializadas, além da
fundação de alguns jornais cariocas.
Artur
de Azevedo
A
CONSELHO DO MARIDO
Estamos a bordo de um grande paquete da Messagéries Maritimes, em pleno Atlântico, entre os dois
hemisférios. Dois passageiros, que embarcaram no Rio de Janeiro, um de quarenta
e outro de vinte e cinco anos, conversam animadamente, sentados ambos nas suas
cadeiras de bordo.
- Pois é como lhe digo, meu amiguinho! - dizia o passageiro de
quarenta anos - o homem, todas as vezes que é provocado pela mulher, seja a
mulher quem for, deve mostrar que é homem! Do contrário, arrisca-se a uma
vingança! O caso da mulher de Putifar reproduz-se todos os dias!
- E se o marido for nosso amigo?
- Se o marido for nosso amigo, maior perigo corremos fazendo como
José do Egito.
- O que você está dizendo é simplesmente horrível!
- Talvez, mas o que é preferível: ser amante da mulher de um amigo
sem que este o saiba, ou passar aos olhos dele por amante dela sem o ser, em
risco de pagar com a vida um crime que não praticou?
- Acha então que temos o direito sobre a mulher do próximo...?
- Desde que a mulher do próximo nos provoque. Se o próximo é nosso
amigo, paciência! Não se casasse com uma mulher assim! Olhe, eu estou
perfeitamente tranqüilo a respeito da Mariquinhas! Trouxe-a comigo nesta viagem
porque ela quis vir; se quisesse ficar no Rio de Janeiro teria ficado e eu
estaria da mesma forma tranqüilo.
- Mas o grande caso é que se um dia algum dos seus amigos...
- Desse susto não bebo água. Já um deles pretendeu conquistá-la...
chegou a persegui-la... Ela foi obrigada a dizer-mo para se ver livre dele...
Dei um escândalo! Meti-lhe a bengala em plena Rua do Ouvidor!
Dizendo isto, o passageiro de quarenta anos fechou os olhos, e
pouco depois deixava cair o livro que tinha na mão: dormia. Dormia, e aqueles
sonos de bordo, antes do jantar, duravam pelo menos duas horas.
O passageiro de vinte e cinco anos ergueu-se e desceu ao
compartimento do paquete onde ficava o seu camarote.
Bateu levemente à porta. Abriu-lhe uma linda mulher que se lançou
nos seus braços. Era a Mariquinhas.
- Então? - perguntou ela - consultaste meu marido?
- Consultei...
- Que te disse ele?
- Aconselhou-me a que não fizesse como José do Egito. Amigos,
amigos, mulheres à parte.
E o passageiro de vinte e cinco anos correu cautelosamente o
ferrolho do camarote.
Crônica com um tema interessante e instigante.
ResponderExcluirAntônio Carlos Faria Paz - Itapecerica/MG