Este conto, longo, mas dividido em quatro
capítulos, vai falar dos encontros, por acaso, que aconteceram entre um homem e
uma mulher. Qualquer semelhança (não) é mera coincidência. Calcada em fatos
reais, a história é tingida pelas cores da ficção. É inédito para todos os meus
leitores do blog. No futuro, talvez faça parte de meu livro de contos. Não
percam esta fascinante história.
A HISTÓRIA DE AMOR ENTRE UM HOMEM E UMA MULHER E SUA CRONOLOGIA.
Mário Cleber da Silva
Primeiro Capítulo.
Corria o ano de 1945
quando ele nasceu na pequena, fria e ventosa cidade de Turvo. Não houve nenhum
acontecimento extraordinário na cidade para comemorar o fato (um tsunami, bomba
atômica, eclipse do sol ou da lua ou um meteorito caindo na Rússia), exceto que
a Segunda Guerra Mundial caminhava para o seu final. E em seus primeiros
anos de vida tudo transcorria de forma normal e sem novidades.
Mas foi aos 4 anos, depois de ouvir as práticas assustadoras dos padres
lazaristas nas missões, ameaçando todos com o fogo do inferno, não se sabe se
por medo ou por esperteza, já que os sacerdotes deveriam ser assim carne e unha
com deus e portanto livres do castigo divino, que tomou uma decisão importante
que ia mudar sua vida: resolveu ser padre. Fazia seus sermõezinhos, usava uma
pequena batina que a mãe, atenta aos anseios do filho, mandara confeccionar e
até, isso já era mais que levadeza, pedia dinheiro pelos batismos, confissões,
eucaristia (em vez da insípida hóstia, bolinho de fubá que sua mãe fazia, e que
era muito festejado). Mas, raquítico e
fraquinho como era, a família não permitiu que fosse para o seminário com 10
anos, cousa bastante comum naquela época, visto que o Estatuto da Criança e do
Adolescente nem existia para evitar tal despautério. Entretanto, um outro padre
veio em sua ajuda, por vias tortuosas, claro. Frei Xisto, um franciscano
estadunidense – que se evite o colonizado “americano”, visto sermos todos da
América, idéia que seria aprendida posteriormente com ela – cismou com ele e,
além de obrigá-lo a fazer o Curso de Admissão por um ano – outra cousa já
esquecida pelas novas gerações – reprovou-o vergonhosamente no Latim, dois anos
depois.
- Repetir de ano aqui, de
jeito nenhum – repetia ele para toda a família, e assim, por causa dessa
desdita, em 1959, quando ela nasceu, foi para o Seminário Menor de Juiz de
Fora, onde a trancos e barrancos, superou as exigências escolares, o frio do
inverno da Manchester mineira e a fome,
visto que a comida era intragável, e ele, muito enjoado para comer (mal sabia
ele que iria se deliciar com os divinos pratos que ela iria lhe preparar).
Salvaram-no da inanição as caixas e mais caixas de abacates, goiabadas,
chocolates em barra (não os suíços, seus prediletos quando mais velho) e
biscoitos, que seus pais mandavam às escondidas, e as artimanhas que usava para
descolar alguma comidinha menos insossa, que deixarei de narrar aqui, para evitar
denegrir, ops, digo, sujar, nestes tempos politicamente corretos, sua imagem.
Foi curiosamente em 62,
quando ela fez três aninhos na bucólica Patos de Minas para onde o pai tinha
mudado, que ele teve a primeira crise sacerdotal e quis escafeder-se do nosocômio,
digo , seminário. Seguraram-no as ponderações do diretor espiritual, Padre
Hernani, um intelectual de mão cheia que lhe falava até do Código de Hamurábi (ela iria se espantar ao ouvi-lo falar do
código, mais conhecido pelos historiadores e geógrafos). Quando o seminário
Maior de Mariana o recebeu, parecia que tudo ia correr a contento. Nem a
Revolução de 64 buliu com sua vocação. Mas aí veio 1965.
Tchan, tchan, tchan.
Daqui uns dias tem mais.
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