Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

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quinta-feira, 28 de março de 2013

Apagão: um causo.


Tivemos o apagão na época do FFHH (Fernando Henrique duas vezes), na era D. temos vários “apaguinhos” (talvez quando for DD, teremos o apagão, energético. O moral, já o estamos vivendo). Esta crônica teve dois momentos: numa época que aumentava muito o custo da energia, e, mais recentemente, quando fomos forçados a fazer economia de luz. Com alguma mudança, ei-lo de novo.
Ah! O apagão!
Mário Cleber da Silva.
            Encontraram-se os dois no centro da cidade. Era de manhã, e os raios solares não eram fortes o bastante para tornar as pessoas indolentes, preguiçosas ou de coco mole. Há muito não se viam. Anos e anos sem se encontrarem, de modo que foi uma alegria muito grande quando os dois se abraçaram na rua Rio de Janeiro, diante das pessoas que se assustavam com tanta efusão de contentamento e abraços. Alguns até levantaram suspeitas de suas preferências sexuais – não explicadas verbalmente, mas no pensamento de cada um. Em seguida, vieram as costumeiras perguntas: E a saúde? A família? Os amigos? Os filhos? Ah! Os filhos! Ambos os tinham. E crescidos. Conversa vai, conversa vem, um convidou o outro:
-        Aparece lá em casa para um cafezinho.
-        Vou, sim. Pode me esperar que hoje à tarde chego lá.
             E dito e feito. Conseguiu pegar o ônibus às seis e pouco, apesar da insistência dos perueiros. E isso antes de os ônibus se tornarem latas de sardinha, lotados de gente cansada e sofrida. Não pensou em táxi, mesmo porque era mais caro, e nestes tempos bicudos não se deve gastar o rico dinheirinho. E, assim, lá se foi ele, todo lépido e faceiro, à casa do amigo.
             Lá chegando, bateu palmas, bateu à porta e gritou. A campainha não funcionava. Depois de muito gritar pelo amigo, este apareceu, tremendo de frio e com a cabeça molhada.
           - Oh, me desculpe. Entre, entre. A campainha não está funcionando por causa do racionamento de energia. Afinal, pra que campainha, né? Só pra gastar luz, e é bom a gente exercitar os dedões, batendo-se na porta, ou as palmas das mãos. Ou mesmo gritar, pois aí a gente reconhece a voz do amigo.
            - Claro, claro – confessou o visitante. - Eu também acho. Uns gritinhos de vez em quando até é bom. Mas compadre – quem veio do interior sempre tem compadre -, se mal lhe pergunto, por que está tremendo tanto?
            - Foi o chuveiro.
            - Estragou?
            - Que nada – suspirou o dono da casa. - É a luz de novo.
            -  Não entendi.
            - Fiquei sabendo que uma pessoa que toma banho todo dia por dez minutos vai gastar no final do mês 10 reais (antes a da suposta diminuição na conta de luz, anu7nciada pela presidente, digo presidenta. Se falar “presidente”, ela me bate). Ora tomando banho frio economizo dinheiro, ajudo a circulação sanguínea, porque o corpo gosta de água fria, e evito a ameaça de multa e apagão.
             Claro que o outro teve de concordar. Tudo estava correto. Além do mais, nenhum deles tomava banho quente na juventude. E não morreram por causa disso. Às vezes, era até banho de bacia. Água quase gelada. Não tinha essas comodidades de agora. Chuveiro já era um milagre, e quente então, era um exagero.
             Ficaram os dois falando de seus passados, do futebol que jogavam no campo cheio de mato, das serenatas que faziam para namoradas, das brigas que tinham igual às do Russo e Morena.
             - Igual às de quem? - perguntou visivelmente curioso o dono da casa.
             - Uai, compadre, não vê televisão? As novelas?
             - Quem sou eu, compadre? Televisão gasta luz, e não vejo nadica de nada. Agora fico só escutando o radinho. E de pilha, que não é para ligar na tomada.
             Este contratempo não atrapalhou a conversa, que seguiu em frente com muitas novidades, até que deu sede no amigo, e este pediu água. Estranhou a água meio morninha.
             - Infelizmente – disse o outro já se desculpando – é a geladeira...
             - Estragou?
             - Antes “fosse, mas não esse”. É a luz. Uma geladeira ligada 24 horas vai gastar 25 reais por mês...
             - Mas agora já está escuro – falou o visitante. - Não vai me dizer que não vai acender a luz?
             - Adivinhou. Olha aqui a velinha. É “pressas” horas – retorquiu o outro, alegrinho.
             - Ô, compadre, isso vai pegar mal, nós dois sozinhos com uma vela na mesa. Por que você não apaga essa porcaria e a gente fica no escuro mesmo? - era irônica e um tanto agressiva a pergunta.
             Mas o outro não se fez de rogado e concordou na hora.  Assim, ficaram os dois no breu falando das viagens que fizeram, das pescarias no Pantanal, das travessuras dos filhos pequenos e dos sucessos deles, já grandes e, logicamente, da falta de dinheiro. E não é que o tempo passou e só se deram conta das horas quando o relógio da igreja bateu 10 horas e viram que era tarde para o visitante ficar, pois ele queria ir embora, chegar logo em casa antes de ser assaltado e roubado na rua, que se tinha tornado uma escuridão só, com as luzes dos postes deligadas.
             - Já estou indo, compadre.
            - Então, me deixe acender a luz, que é pelo menos para me despedir de você.
            - Um minutinho, compadre – finalizou o visitante. - Como a gente estava no escuro, eu tirei a calça, que é para não gastar o pano...     

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