Capítulo 2 do Conto “História de Amor entre um Homem e Uma Mulher”. Já houve o primeiro capítulo.
Este conto, longo, mas dividido em quatro
capítulos, vai falar dos encontros, por acaso, que aconteceram entre um homem e
uma mulher. Qualquer semelhança (não) é mera coincidência. Calcada em fatos
reais, a história é tingida pelas cores da ficção. É inédito para todos os meus
leitores do blog.
Para quem não leu o primeiro
capítulo, duas opções:
Resumo: nasceu, cresceu, estudou, foi
reprovado e mudou-se para o Seminário de Mariana para estudar.
Ou: Se quiser mais detalhes, ler o primeiro capítulo.
Capítulo 2
Ela soprava as seis velinhas de seu
bolo de aniversário, ele começava a sua análise em Belo Horizonte e D. Delfim,
bispo ultraconservador, “deu fim” a essa história de querer ser padre.
- Nem durante e nem depois da
psicanálise – pontificou o Pontífice.
O que restava ao jovem senão tentar
seguir o caminho do pai, próspero e honesto proprietário de armazém, do que
virar comerciante em Turvo? Nada. Era esse o caminho. E, mais uma vez, foi um
padre, neste caso, o supracitado e desditoso bispo, que deu uma mãozinha a ele.
Faltava milho para os comerciantes e lá foram ele e seu pai, num grande
caminhão FNM do Guiu (um vigoroso e
falante motorista que adorava passarinhos),
para Patos de Minas, que de milho era farta. Quis o destino, o universo, o
acaso, deus, a sincronicidade, ou o que o diabo for, que eles fossem justamente
procurar Geraldo, um grande fornecedor do produto. E quem era Geraldo? O pai
dela, uma linda garotinha de cabelos loiros, longos e lisos (no futuro,
corretíssima, ele ia pugnar contra essa idéia de cabelo “bom” (o liso) versus
“ruim” (o crespo). Mas isso é outra história). Agora, vejamos como se deu o
encontro da menininha e o jovem de 20 anos. (Que se precatem os leitores nestes
tempos bicudos de pedofilia. Isso não era usual naquele tempo.) Acostumado a
conviver só com homens e rapazes, ele era tímido, mas não pode deixar de se
extasiar diante da menininha de cabelos etc, etc, já narrados. Ela brincava com
uma linda boneca ganha no aniversário e estava feliz, e ele, sem dizer muito,
lembrando de seus tempos de criança, lhe fez uns cavalinhos de espiga de milho.
Soltando a boneca no chão, saiu ela a correr para mostrar para a mãe o que o
moço tinha feito. O sorriso da menina enfeitiçou-o e ele, sem saber de onde
veio este impulso, sentenciou em alto e bom som: vou esperar você crescer para
casar-me com você.
Riram todos da boutade – ela, também,
sem saber o motivo, mas já que todos riam, riria ela também.
Mas, oh, neófito no amor, nem
perguntou o nome da menina, e seguiu seu rumo, indo para Belo Horizonte
estudar, adivinhem o quê? Psicologia e
psicanálise.
Formou-se em
1971 e em março de 1972, seguiu para SJRP, no Oeste Paulista,, de ônibus. E
aqui quis o destino fazer uma troça com os dois personagens. Não havia na
rodoviária daquela época embarque e desembarque, separados. Todos usavam a
mesma escada, para chegar ou sair de Belo Horizonte. Geraldo e família tinham
se mudado para a capital dos mineiros, buscando um futuro promissor, mas dos
filhos, sete no total, tinham ficado dois em Patos de Minas, o caçula, Beto, e
ela. E eis que o pai e os dois filhos sobem pela escada enquanto ele está
descendo. Os sentimentos dos dois homens são iguais: ambos estão deixando a
cidade que amam em direção a outra, desconhecida; vidas episódicas, dilaceradas
pela mudança. Enquanto Belo Horizonte (BH, para seus moradores) é que assusta
Geraldo, é essa mesma cidade que faz o coração dele doer de saudade, antes
mesmo de sair. Uma mesma coisa, uma mesma situação, uma mesma cidade, como têm
influências diversas no sentimento das pessoas. Talvez os homens tenham se
olhado, talvez tenham se reconhecido, não, não, que é isso? Geraldo não se
recorda, mas o jovem é tocado. Pelo rosto do homem? Talvez, sim, talvez, não.
Teria sido a menina? Ele olha para trás. Vê cabelos loiros, não tão loiros,
como anos atrás, emoldurando a cabeça de uma menina. Chamar, falar, sou eu,
aquele que queria casar com você, se lembra de mim, fui eu que fiz os
cavalinhos de sabugo de milho, olhe para trás, como você se chama... A tristeza
da partida, o desconhecido que o espera, a namorada que deixava na capital –
sim, estava namorando – a impossibilidade de nem saber o nome daquela menina...
Ah, seria ela mesma? Chorou. Seus passos desciam pela escada e suas lágrimas
desciam-lhe a face. Titubeou. Olhou de novo para trás. Os olhos marejados não
viam nada. Não percebeu que a menina
tinha olhado para trás e o fitava. Teria ela reconhecido aquele moço que lhe
fez um cavalinho de sabugo de milho, que dissera que ia casar-se com ela? Que
nem ao menos sabia seu nome?O ônibus foi um refrigério para ele.
Fim do
capítulo.
Ainda tem mais dois.
Ainda tem mais dois.
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