Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

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sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Assaltos no trânsito

Leitores, estou impressionado como as coisas não mudam neste Brasil. Trinta anos atrás, escrevi um texto-libelo contra os assaltos nos sinais de trânsito em São José do Rio Preto, uma cidade cinco vezes menor que Belo Horizonte. Os mesmos problemas que tinham lá, naquele tempo, ocorrem em Belo Horizonte. Deem (parece o que mudou no Brasil foi a ortografia, já que o "eem" não tem acento) uma olhada no texto, cheio de ironia, crítica e sarcasmo.

Socorro, guardas, socorro!
Estou sendo assaltado no farol



Espero não ter que gritar esta frase no meio da noite, quando as pessoas de bem, ou que não precisam trabalhar como porteiros, guardas noturnos, estão escondidinhas em suas casas, enfrentando o frio que veio em hora inoportuna. Não estou me referindo às multas que os guardas estão lascando em cima de descuidados ou descondicionados motoristas, que não respeitaram os novos sinais, luminosos ou não. Longe de mim tal aleivosia. Refiro-me a alguns casos que começaram a ocorrer em nossa antigamente tranquila cidade de São José do Rio Preto.
A avalanche de sinais que inundou a urbe neste últimos meses tinha por finalidade disciplinar o caótico trânsito e o motorista sabiamente despreparado que anda pelas artérias primárias e secundárias da cidade. A ausência de sinais prejudica, supostamente, o fluxo de veículos, provoca acidentes e traz prejuízos à população e à municipalidade. Os sinais estariam aí, então, para disciplinar. Entretanto, parece que tal coisa não tem ocorrido.
Primeiro foram os acidentes e batidas que aconteceram nos cruzamentos com sinais novos. Ninguém sabia se era para parar ou esperar. Os semáforos novos têm o dom de fazer o motorista pensar que é Vettel ou Hamilton, da Fórmula 1, e vir numa disparada, tentando aproveitar o amarelo. Outros não respeitam nem o vermelho. Deve ser algum comunista disfarçado que tem naquela cor o seu ideal de progresso. As pessoas, porém, foram pouco a pouco se acostumando e, como ocorre com os aumentos de carne, gasolina, correio, leite e tudo mais, engoliram e transformaram tudo em sua normalidade de vida. Era como se o sinal estivesse lá há anos. As inversões de ruas são naturais e até interessantes. As proibições de conversão são assimiladas e o único senão é que fazem consumir mais gasolina: são cem a duzentos metros a mais de consumo. Mas para que se preocupar com isto, se temos petróleo a rodo, ainda que o governo fique sonhando demais com o Pré Sal que vai produzir uma fantástica cifra de barris por dia, e o álcool está aí cheirando nas nossas narinas, mesmo com preços exorbitantes?
Se não são as multas dos guardas, o que me faz gritar socorro? É que as pessoas estão sendo assaltadas, à noite, quando param nos faróis. Sim, senhores, senhoras, senhoritas e senhoritos. Todo cidadão e cidadã obedientes, cumpridores e respeitadores das leis de trânsito, quando param nos sinais, são assaltados. E não é na famosa “calada” da noite, no meio da madrugada, não; e nem são notívagos contumazes os boêmios à caça de aventura amorosa. Nada disto. São professores e professoras. Mães e pais de família que, tendo que ganhar o pão dando aulas em distantes colégios, em bairros mal iluminados, voltam para casa, com o corpo cansado e a mente poluída pela ignorância de alunos (cultural e de civilidade) e outros mais de que têm a desagradável surpresa de se depararem com assaltantes de arma em punho que tiram seu dinheiro, sua bolsa, seu carro e, às vezes sua vida.
Um homem foi sequestrado numa madrugada quando parou no farol de uma certa Avenida. Era 1 hora. Ás 22 horas, uma professora foi assaltada em outra via, perto de um supermercado. Outros tiveram idêntica sina. O que fazer? Deixar de aulas? De trabalhar? De sair? Levar um revólver e dar um tiro na cara do assaltante? Desrespeitar os sinais e talvez ser multado por um guarda sádico escondidinho na esquina com o seu fatídico caderninho, ou que preicsa atingir a cota de multas que o Departamento de trânsito está cobrando? E onde estão os guardas, que, durante o dia, abundavam nos locais mais propícios a uma multa? O que é destes homens, que tem sua importância e devem ser respeitados, que não aparecem no silêncio da noite? Ou a eles não competiria a segurança dos automobilistas? Dever-se-ia apagar todos os sinais luminosos e deixar os motoristas entregues à própria sorte ou senha assassina?
Os sinais que vieram dar uma tranquilidade à população, motorizada ou não, transformaram-se em terror noturno, em pavor de ser assaltado, de sobressaltos diante de um vulto. Aumentaram ainda mais o nosso já hereditário medo de ladrões. Metamorfosearam-se em terríveis perigos para a própria vida. A nossa segurança, já ameaçada diante dos assaltantes de residência, trombadinhas e trombadões,  desaparece diante do sinal vermelho do semáforo. O negócio é dar no pé, ou ficar em casa, ou então ficar gritando e pedindo socorro aos guardas, pois quando estes vierem, pelo menos que multem os assaltantes que estão atrapalhando o fluxo normal dos veículos à noite. Multa neles, seu guarda!

Mário Cléber Silva

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