Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

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sábado, 15 de outubro de 2011

ABC de Arraes, Brizola e Crato

No dia dos Professores, uma postagem dedicada a eles, sobretudo a uma pessoa mestra  em Hisória.


Ressuscitando figuras políticas através de um texto meu escrito no longínquo ano de 1979. Uma pequena aula de história da política brasileira.


ABC
A de Arraes, B de Brizola e C de Crato


Talvez estas três palavras soem estranhamente para milhares de pessoas que, por um motivo ou outro, não participaram da revolução de 64. Graças à anistia, proposta por Geisel e consolidada por Figueiredo, e que tem sido chamada de pífia por muitos, e de aberta de mais, para outros, os grandes líderes que sobreviveram aos 15 anos de exílio estão voltando. Foram contestadores, líderes de ligas camponesas, políticos, estudantes e outros mais que, depois de uma longa temporada pelo exterior, estão de volta à terrinha. Dois entre eles se sobressaem, justamente por serem fundamentalmente políticos e por possuírem (ou terem possuído) um carisma invejável.
Os ventos da revolução ainda não sopravam na fria e pacata Mariana quando um seminarista, avançadinho para o seu tempo, assustava o retrógrado bispo da cidade “O meu tipo preferido é o Arraes, governador pernambucano” e o bispo retrucava: ele é comunista. Pelo sim ou pelo não, Arraes ficou muito tempo na Argélia e não pisou por aqui. Brizola, devido talvez ao seu  temperamento fogoso, teve uma história mais conturbada, cheia de altos e baixos até que se exilou nos Estados Unidos, país a que ele atacara furibundamente na época de seu poder pré-64.
A vinda dos dois líderes acabou se tornando diferente e, lamentavelmente para os seus adeptos, Brizola perdeu o primeiro “round” diante de Arraes. Este já afirmara que não se sentia bem em seus raros contatos com Brizola no exterior, pois o ex governador gaúcho lhe dava uma impressão de sofisticado, enquanto que ele, Arraes, se sentia um caipirão perto do “dono” do petebismo.
O “retiro” não fez muito bem a Brizola. Veio mais calminho, menos extremista, porém pouco diplomático. Esperando ter uma recepção das maiores de Foz do Iguaçu, ou mesmo no túmulo do cunhado, Jango e no de Getúlio, Leonel se decepcionou.
Alguns jornalistas, políticos amigos e alguns curiosos foram saudá-lo. Mas ele não arrastou multidões como se esperava. A visita demagógica aos túmulos dos ex-presidentes gaúchos não rendeu os benefícios esperados. Foi até mal visto, Maria Tereza Goulart a cunhada, e Denise, a sobrinha, não lhe pouparam críticas.
Sua viagem a Porto Alegre foi cancelada alguma vezes e só recentemente se deu. Brizola, inicialmente, falou mal do MDB e o Lula foi alvo de suas setas satíricas “Ele não sabe nada que se passou”. Como bom político, o líder dos metalúrgicos não quis dar muita “colher de chá” para o ex-governador. Brizola não vai conseguir grandes coisas com o seu PTB, já dividido com a pregação de Ivete Vargas.
Desconhecido do grande público, Miguel Arraes teve uma recepção sensacional no Rio de Janeiro quando suas palavras foram repetidas em coro. Ao contrário de Leonel Brizola, combateu e criticou as lideranças governamentais e afirmou que veio somar forças na oposição e que só depois de muito ouvir é que ia começar a falar. Carregado nos ombros, não pretendeu ficar gozando desta satisfação e partiu para visitar a família que não via há muito tempo. Família é algo importante para o brasileiro. Visitou a mãe, foi comer a sua comida preferida, a paçoca de carne seca, viu os sobrinhos, as irmãs e, o milagres dos milagres, comungou.
Um comunista comungando. Até o Jarbas Passarinho, líder do governo, se assustou com tal comportamento. E fez comício.
O comício tem o dom de atrair gente e mais gente, mas este do Arraes chegou a espantar até os jornalistas, desacostumados de tais fatos. Os números que os jornais deram variavam de 20 mil a cem mil pessoas presentes por lá. (O do Brizola nem teve número, foi inexpressivo). E o Arraes começou a se reunir com a oposição e com o líder sindical Luís Inácio da Silva. Logicamente, ele tende mais para o Partido dos Trabalhadores do que para o MDB, mas por enquanto ele fica com este último.
E finalmente o C de Crato. Quantas pessoas já conheciam de ouvir falar esta cidade no interior pernambucano? O cara voltou para as suas raízes, para o agreste do sertão e não ficou passeando aí das Cataratas até São Borja e Porto Alegre. Adivinha ganhará esta luta?

(Observações em 2011: Brizola tem um neto, parece, ainda inexpressivo politicamente. Neuzinha Brizola, depois de dar muito trabalho ao pai, morreu recentemente. Bem, a filha de Arraes acaba de ser eleita para uma função importante em Brasília. O neto é governador de Pernambuco, confidente de Dilma e possível concorrente de Aécio em 2014).


Mário Cleber Silva

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