Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

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terça-feira, 6 de setembro de 2011

A História de Chapeuzinho Vermelho

Todos nós já lemos a história de Chapeuzinho Vermelho. Mas o autor só deu uma versão. Que tal ouvirmos a versão do Lobo Mau? Podem acreditar: não tem final feliz. Sei que estamos vivendo um mês de comemoração de nosso primeiro aniversário, mas as coisas tristes também fazem parte de nossa vida. Temos que encará-las. Vejamos o que o Lobo Mau vai dizer. (Reparem a data em que foi escrita)

A história do Chapeuzinho Vermelho contada pelo lobo que não era tão mau


            Numa pequena e humilde cabana no meio da floresta vivia um velho lobo, numa cadeira de rodas, junto com seu filho o lobinho. Viviam modestamente os dois, se alimentando parcamente e numa existência quase que monótona, porém razoavelmente feliz. Seria mais feliz para o lobinho se ele soubesse o motivo porque o pai, o lobo, tão forte e sacudido e ainda novo vivia constantemente naquela cadeira de rodas, conseguida numa campanha de caridade. Assim sendo, uma manhã resolvera tirar tudo a limpo e acabou perguntando ao pai: - Por que o senhor ficou assim, meu pai?
            O lobo levou um susto tal que quase caiu da cadeira, mas controlou-se e com uma voz macia e quente resolveu contar a sua verdadeira história.
            - Era uma vez uma menina muito bonita e graciosa que se chamava Chapeuzinho Vermelho. O que ela tinha de beleza e graça tinha de maldade. Vivia criando casos na floresta, brigando com os bichos, pondo fogo nas árvores, poluindo os rios, parecendo até as fábricas de celulose. Pintava o sete a danadinha. A mãe dela também não ficava atrás, tanto era assim que o marido dela, o pai do Chapeuzinho, tinha se mandado da sua cabana e fora morar na cidade, trabalhando como bóia-fria e passando uma fome danada. A mãe, quando se viu livre do marido, deu pulos de alegria, pois estava a fim de ter um caso com o caçador que vivia andando pela floresta. Com medo de que Chapeuzinho Vermelho não concordasse com o novo casamento, não que ela gostasse do pai, mas porque ela era malvada mesmo e não queria vê-la feliz, o que fez a mãe?
            - O que fez, o que fez? perguntou o lobinho interessado naquela história de terror.
            - Mandou a Chapeuzinho Vermelho levar uma cesta de comida para a vovozinha, no outro lado da floresta. Preste atenção, lobinho. Ela, a mãe, não quis levar comida pois sabia que eu vivia rondando a floresta e nem quis acompanhar a filha. Deixou-a entregue à própria sorte. Estava eu então pastando tranquilamente entre as árvores quando dei de encontro com aquela formosa jovem, de cabelos dourados e que fiz eu, eu lobo solitário e que não via a sua mãe há muito tempo? Resolvi atacá-la, pois afinal lobo também tem os seus desejos e eu não ia matá-la. Vã e (palavra ilegível) esperança como diria o macaco. Ela, esperta como quê, não se deixou levar pela minha lábia e acabou me convencendo de que ali o melhor seria conversar ou papear e se quisesse algo mais sério deveria ir até à casa da vovó, pois lá o conforto era bem melhor do que o duro chão da floresta. Ela me deu o endereço certinho, inclusive o CEP, pois sem CEP não se faz nada nesta floresta e pra lá eu me mandei.
                        - E então, e então? os olhos do filho do lobo brilhavam de suspense.
                        - Dei com os burros nágua. Cheguei com o máximo de cuidado na casa da vovó para não assustá-la e qual não foi o meu espanto ao ver a porta aberta e a vovozinha toda tranquila e à vontade na sala vendo televisão, na sessão da tarde. Vestida sumariamente, acredito que ela estava esperando alguém para um programa que não fosse televisivo. Engoli a velha com roupa e tudo e quando a Chapeuzinho Vermelho entrou e me viu, fingiu que não me reconhecia e veio se insinuando comigo: Por que você tem as orelhas tão compridas? para te ouvir, falei. Foi um jogo erótico que tava me deixando loucão. Ela era muito coquete. Pois bem, na hora que eu ia dar o bote, ela gritou: socorro, socorro, olha o lobo, mau. Aí pro meu azar, chegou o caçador que estava a fim da mãe de Chapeuzinho Vermelho e para fazer média me deu um tiro na testa e na perna. Desmaiei e ele acabou me fazendo uma cesariana, sem anestesia (e olha que eu pagava INPS), para tirar a vovó. Como era caçador e não médico fiquei estropiado e aleijado. Esta é a minha triste história.
                        Lobinho abraçou com dó o pai e duas grossas lágrimas caíram de seus olhos inocentes e assustados diante de tanta maldade...

Mário Cleber Silva
20/09/1979

Um comentário:

  1. É,prezado Cleber,
    os temas abordados são atuais e merecem lidos.
    Continue nos brindando com esse trabalho que,aliás,faço repassar aos meus contatos.
    Cordial abraço.
    Jairo.

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