Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

TristezaX Depressão.

NÃO CONFUNDIR DEPRESSÃO COM TRISTEZA.
Talvez porque vivamos em um mundo onde tudo está misturado e confuso, todos estão metendo tristeza e depressão no mesmo balaio de gatos. Tempos atrás, existia a Psicose maníaco depressiva. Agora com a criação de novos termos – politicamente corretos neste mundo politicamente incorreto -, surgiu a famosa bipolaridade. Quem não conhece uma pessoa deprimida hoje? Parece que estão pululando ao nosso lado, quando não somos nós mesmos os deprimidos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão já é a principal causa de incapacidade de trabalhar em pessoas que têm entre 15 e 44 anos. É claro que a doença atinge muita gente, mas é importante saber diferenciar um caso – a depressão – da tristeza. Afinal, ficar triste é natural, faz parte da vida e não precisa de tratamento médico. Ou fazia parte. Ficamos tristes antigamente, chorávamos e pronto. Hoje ninguém pode ficar triste: é depressão. Alto lá, com o andor que a depressão é de barro.
Veja bem isto: é muito sério.

No livro "A Tristeza Perdida – Como a Psiquiatria Transformou a Depressão em Moda" (Editora Summus), os autores Allan V. Horwitz e Jerome C. Wakefield levantam essa questão do domínio da depressão, que teve início em 1980, quando a Associação Americana de Psiquiatria lançou uma nova versão do manual de diagnósticos, que hoje está na quarta versão.

O que os autores afirmam é: o diagnóstico para distúrbios mentais se tornou generalista. Se alguém apresentar cinco sintomas de uma lista, é considerado depressivo. Para eles, no entanto, os médicos não se preocupam em questionar as circunstâncias. Dessa forma, a nossa velha conhecida tristeza pode ser encarada como uma doença, que precisa ser tratada com antidepressivos, dando a impressão perigosa de que os medicamentos são a solução para todos os males.
Temos uma necessidade urgente de acabar logo com a tristeza. Não podemos sofrer nem um pouquinho, uma dor de cotovelo, uma leve decepção. E se bate uma tristeza inexplicável, pronto, eis uma depressão. E o que fazer? Tomar remédio.
O correto diagnóstico é o calcanhar de Aquiles de muitos médicos, psiquiatras e psicólogos. E se isso não for revertido, continuarão a misturar e confundir tristeza com depressão e não adianta dar um nome novo e bonitinho.

A tristeza é um sentimento natural e espontâneo, parte inerente da condição humana. É uma resposta normal às frustrações e perdas, como uma demissão no emprego, o fora do namorado, uma discussão, entre inúmeros motivos. O tempo que a pessoa ficará triste depende da importância do fato. No entanto, ela é passageira.

A depressão pode surgir até sem razão específica. O indivíduo se sente infeliz na maior parte do tempo, torna-se mais ansioso ou irritado do que o normal, perde a capacidade de apreciar situações prazerosas, deixa de conviver com amigos e familiares, apresenta perda de concentração, pode ter ganho excessivo de peso e sentir dores pelo corpo. Nesse caso, é preciso procurar um médico. O quadro requer tratamento, diferentemente da tristeza -um sentimento importante e que precisa ser vivido. 

Vivemos em uma cultura imediatista, com o desejo de resolver os problemas rapidamente e, de preferência, sem dor. "Infelizmente, todos os nossos sentimentos e comportamentos são orquestrados pelo consumo", afirma Dulce Critelli, coordenadora do Existentia - Centro de Orientação e Estudos da Condição Humana.

"Assim, tristezas são tratadas como fome: se você saciar, passa. O  incômodo, a dor, o mal-estar devem ser extirpados por não ser algo prazeroso. É assim que acabamos chamando a tristeza de depressão e caímos facilmente nos antidepressivos."

Para a psiquiatra Elisabeth Sene-Costa, autora de "Universo da Depressão" (Editora Ágora), muitas pessoas fazem uma interpretação errada da tristeza. "Elas acham que ao ficarem tristes podem cair em uma depressão. Não admitir a tristeza é um mecanismo de defesa. Para solucionar logo o problema, vão aos consultórios em busca de uma pílula mágica. Isso é um equívoco enorme", diz Elisabeth.

Os números comprovam que a população procura cada vez mais os remédios. A venda de medicamentos antidepressivos e estabilizadores do humor cresceu 44,8% no Brasil de 2006 a 2009, segundo o instituto de pesquisa IMS Health.

Nos Estados Unidos, mais de 164 milhões de receitas para depressão foram prescritas em 2008, de acordo com um estudo feito por pesquisadores das universidades de Columbia e Pensilvânia. "Nesse mundo competitivo, a tristeza é vista como um sinal de fraqueza. Quando, na verdade, é o contrário. O sentimento fortalece e, quem não o sente, fica frágil", explica a psicóloga Irene Cardotti. 
Para ela, quem usa antidepressivo sem necessidade não enxerga que a felicidade artificial mina totalmente o impulso de mudança. E, pior, sem aprender a lidar com os próprios problemas. Antes de partir para um remédio, o melhor a fazer é conversar com amigos e parentes. A terapia também pode ajudar, especialmente, nos casos em que a tristeza se prolonga. “Nossa cultura atual identifica boa vida com felicidade e felicidade com mero prazer. Esse sentimento nem sempre é conquistado através do prazer. Muito pelo contrário: na maioria das vezes, a felicidade é resultado de um boa e longa batalha", diz Dulce Critelli, coordenadora do Existentia - Centro de Orientação e Estudos da Condição Humana.

Ninguém deseja a tristeza. Ela dói, não é agradável, mas é importante, faz parte da vida e nos fortalece. "Ao deixarmos esse sentimento fluir, elaboramos nossa perdas. Damos a chance de nos reorganizarmos internamente e superar a fase de maneira saudável”, explica a psicóloga Irene Cardotti. O lado positivo é que podemos rever defeitos e analisar consequências de nossos atos e, dessa forma, encontrar  força e equilíbrio e para retomar o ritmo normal de vida.

"É preciso encarar conflitos e situações ruins com mais serenidade. É através do sofrimento que desenvolvemos a maturidade", afirma o psicólogo Mauro Godoy, especializado em Psicologia Analítica e Antropologia. Por isso, quando a tristeza chega, em vez de tentar mandá-la embora, é melhor perceber o que ela tem a ensinar.

“O mais comum é acreditar que não tivemos participação nenhuma na construção dessa perda, mas não é verdade", explica Dulce Critelli, coordenadora do Existentia - Centro de Orientação e Estudos da Condição Humana. Ao levar um fora em um relacionamento, por exemplo, o abandonado pode ter uma parcela de culpa, sim. "Pode ter sido falta de cuidado e carinho, não ter se preparado o suficiente, ter sido teimoso, entre outras tantas possibilidades”, diz Dulce. Ao admitir erros, encontramos a melhor resposta para que situações semelhantes não se repitam.





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