Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A Segunda Carta de Pero Vaz de Caminha

Todos já leram ou ouviram falar da Primeira Carta do tal Pero Vaz, mas a Segunda? Tirando alguns curiosos, ninguém. Um dia, remexendo em um livro do sebo onde frequento, caiu-me nas mãos esta preciosidade. Como não sou egoista, passo para meus inúmeros leitores esta inédita carta. Reparem nas iniciais no final da carta. De quem seriam?

Segunda Carta de
Pero Vaz de Caminha
A D. Manoel,
Rei de Portugal

    Assim escrevia eu 511 aos atrás a V. Alteza, e agora, depois de um longo e tenebroso inverno, eu diria “verão”, já que nestas plagas não se faz inverno, venho contar a V. Alteza (repito o V.A, só po uma questão de puxassaquismo) as notícias desta terra, que tanto mudou nestes cinco séculos.
Primeiro, os índios (índias principalmente), que nos chamaram tanto atenção, ou andam escassos, ou desapareceram. Os escassos, ou estão trabalhando como mão-de-obra barata e vivendo vestidos e alimentados como se fossem brancos, aproveitando as tecnologias do momento e ganhando um dinheirinho extra ou vendendo madeira ou cobrando pedágio em Roraima (foi o que disseram), ou ainda permanecem em estado de barbárie, nus e sem contato com os missionários americanos (estes americanos. Teve uma missionária americana que acabou sendo assassinada e até hoje não descobriram os verdadeiros assassinos. Bem, pelo menos ela foi para o céu...) ou fizeram contatos imediatos de 3 º grau. Mas suas terras foram tomadas, e se vêem mais pobres e desnudas do que na época do seu achamento. Porém, se o problema for nudez, os habitantes desta ilha têm o costume de assim ficarem (ou quase) nas praias, piscinas e outros lugares. A depravação dos costumes galopa (desculpai-me) a bel-prazer.
Falei da beleza das praias, do arvoredo, do mar e do céu. Isto já não existe mais. Está tudo poluído. São manchas negras de petróleo no mar e nas praias. São pássaros que morrem sufocados como ar irrespirável. Florestas queimadas por fogo assassino. Árvores milenares derrubadas pela fome voraz dos novos conquistadores, que teimam em adentrar o país. E agora dizem que a natureza está vingando e tem caído tanta chuva em certos lugares que bairros inteiros desaparecem, e em alguns casos até cidades pequenas. Nas próprias cidades, grandes ou pequenas, megalópoles ou aldeias tudo está mudando e mudado. As pessoas já não conversam mais. Vêem, imbecializadas, um aparelho chamado televisão, que, de norte a sul, de leste a oeste, passa o mesmo programa, sem levar em conta as diferenças regionais. E tem um tal de BBB que há 11 anos Banaliza, Bestializa uma grande parte da população e emBurrece uma turma que consegue pensar um pouco acima da média.
Quando disse que aqui “em se plantando tudo dá”, foi força de expressão. E também eu não conhecia o Nordeste (uma terra terrível como o deserto, de um povo bravo e imbatível). Não conhecia o “inferno verde, o pulmão do mundo”, a Amazônia, onde há homensa que são donos de tanta terra que pode se tornar um país do tamanho de vários de nossa Velha Europa. Na verdade, as plantações são cíclicas ou “cífricas”, isto é, dependem das cifras em dinheiro que podem arrecadar. Por exemplo, tem época que plantam só feijão; outras só soja; outras, só café ( este, em cotação variável). E tem o problema da geada na época do calor, calor na época de inundação. De modo que vamos esquecer aquela frase (que ficou na História) sobre plantações. Há porém uma coisa que tem aumentado muito depois que começaram a plantar: a corrupção. E, nunca na história deste país houve tanta corrupção.
Vede bem, só recentemente resolveram fazer metrô nas duas mais antigas cidades, a de São Sebastião do Rio de Janeiro e a de São Paulo, do Padre Anchieta. E não é que nesta última está havendo crateras e mais crateras, derrubando prédios e gentes. Tem uma outra cidade, coitada, chamada de Belo Horizonte, que não consegue ter metrô há mais de 30 anos.E pensar que já no início do século passado  o metrô de Buenos Aires já funcionava. Por que será?  Vede o final do parágrafo anterior...
O custo de vida está pela hora da morte (ou a da morte está pela hora da vida), e duas coisas, a meu ver – estrangeiro nesta ilha- são as responsáveis: o petróleo, que é importado e que faz mover os carros (logo, logo, teremos mais carros que gente, mais motoristas que pedestres), e uma confusão danada entre os grandes impérios econômicos, que não se entendem, que andou provocando muita quebradeira em vários países. Aqui, não passou de uma “marolinha”, foi o que disse um homem barbudo autor da frase: nunca na história deste país. Não confundir com o Tiradentes.
Uma coisa que dá muito por aqui é banco. Como há bancos, sô!  (Desculpai-me a linguagem). Cáspite! É uma loucura. E os banqueiros estão em cima. Cada banco parece um templo: suntuoso, grande, onde se adora o deus dinheiro e o grande sacerdote ou grão-vizir, nesta época de árabes. E os nomes são quase todos estrangeiros.
E as religiões? Ah, proliferaram!... Que saudade do nosso tempo de católicos conquistadores! Agora não, temos de tudo: protestantes, espíritas, mórmons (adivinhai de onde? Esses americanos...) e outra de cunho africano (até que razoável, pois boa parte da população - se não toda- tem sangue negro nas veias) e, recentemente, asiático. Teve um criador de religião que está tão rico, mas tão rico, que tem filiais em todos os cantos do mundo.
Vossa Alteza certamente vai estranhar a brevidade desta carta em comparação com a primeira (já não se escrevem cartas como antigamente...). Não que me falte assunto (existem à mão cheia), mas o que anda curto é o tempo, pois não posso sobreviver só de escriba real. Tenho de ter outros bicos. Vou trabalhar de guarde de museu, vestido a caráter.
E “estou pegando o boi”, como dizem, pois o pessoal velho, chamado aqui de terceira idade, fica só esperando morrer. A não ser que seja ricaço. Aí fica no hospital para cima e para baixo, demorando mais e mais a entregar a alma ao criador.

    Respeitosamente, beijo a mão de Vossa Alteza, na impossibilidade de beijar outra coisa melhor.
                                                             Pero Vaz de Caminha
P.S.: Ainda gostaria de falar a Vossa Alteza sobre o problema do adubo de papel e de uma tal genética ou mesmo de uma sigla curiosa que andou aparecendo recentemente: GBLTT, mas não tenho tido muito tempo, como falei. Ou, mesmo, do trem-bala, que se vier mesmo, vai ser um verdadeiro “tiro pela culatra”. E que vai encher, nos os vagões, mas os bolsos de muita gente. Daqui a uns meses, ou anos, escreverei de novo.


(MCS)



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