Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Freud e Eu: Psicologia e Comemoração.

Neste mês de Fevereiro a minha turma de psicologia e eu estamos comemorando 44 anos de ingresso na Universidade. Jovens idealistas, nos tornaríamos a oitava turma a se formar na Puc. Gosto muito de comemorações e de datas marcantes na minha vida. Comemoro até o dia em que entrei no seminário menor e o dia que recebi a batina. Então, para celebrar este momento nada como um artigo/crônica sobre Freud, o pai da Psicanálise, e que escrevi em meu livro. Quem já leu, vai recordar. Quem não leu, vai amar....

FREUD E EU

Não, não se assustem os leitores. Não sou tão velho assim para ter sido contemporâneo de Freud, ou mesmo de ser seu discípulo dileto. (Há coisa melhor de ser discípulo dileto de um mestre famoso?) Na verdade, meu contato com Freud se deu através de seus livros, de sua obra e de algum livro que falava sobre ele. E, para comemorar os meus 40 anos de psicólogo – que serão completados no final deste ano -, acho que seria bom falar dele e de mim (este narcisismo ainda me leva ao divã de psicanalista).
Para ser sincero, o meu primeiro contato com o pai da psicanálise se deu no final da década de 50 do século passado (atualmente, a imprensa falada e a televisada dizem “década de 1950”). Ainda não tinha 15 anos quando recebi um presente, não sei se de meu pai ou de meu tio, muito útil para a crise de adolescência: um livro sobre educação sexual. Seria um escândalo para os padrões moralistas da época se me pegassem lendo aquele livro “tão sem vergonha”; portanto lia-o no recôndito (bonito, né?) de meu quarto. E lá, falava de Freud. Naquela época eu lia “Frêudi” mesmo, e não “Fróid”, e , além do mais, eu pensava que era um psicólogo mineiro que devia estar fazendo misérias em Belo Horizonte, pois também falava numa Helena Antipoff, russa (ai que medo, cruzes, te esconjuro), que estava dando uma ajuda imensa aos deficientes mentais mineiros.
O meu pai, vendo o interesse que o livro me despertara e sabendo que era melhor eu me entreter com o livro do que com certas coisas ou certas partes, presenteou-me com “A Vida de Freud”, do biógrafo Jones. Só que não dava para lê-lo, pois era em inglês. Meu pai era muito esperto: além de me dar um livro de presente me espicaçou a curiosidade para aprender a minha primeira língua estrangeira.
Assim como Freud explicara que o ser humano passa por fases distintas em sua sexualidade – oral, anal , fálica e latência – assim também seria meu conhecimento sobre a psicanálise caso não fosse um acontecimento inusitado e abrupto: a ida para o Seminário. Ainda estava na fase oral do conhecimento e fui direto para a latência, pulando todas as outras: não se falava em Freud naquele santo educandário, alias, ele nem existia naquelas mentes juvenis abrigadas sobre aquele teto.  Também não dava nem para pensar em outras coisas, pois o banho frio, no verão ou no inverno, às 5:30 da matina, as orações, meditação, missa e estudar o dia todo, tudo isto favorecia a fase da latência.Daí talvez a raiz de todos os meus grilos.
Finalmente, consegui superar as amarras temporais  e cheguei ao Seminário Maior, de mentalidade mais aberta e com um grande número de livros que não eram proibidos.Foi nesta época que o livro de Görres (é um prazer usar o trema nesta palavra alemã), “Métodos e Experiência em Psicanálise”, me abriu as portas para a Psicologia e me fechou as que me levavam ad altarium Dei. E foi quando quase arrumei uma briga homérica no refeitório por analisar sonho em hora indevida. O colega tinha sonhado que o pai morrera e ele estava lá, todo solícito com a mãe. Para mim, neófito na interpretação dos sonhos, o Complexo de Édipo estava claro demais. Mas o “santo” jovem não aceitou – como era de se esperar, faço o “meã culpa”- que ele estaria “matando” o pai para ficar com a mãe. As explicações não foram suficientes para demovê-lo da intenção de contar ao reitor tal heresia. Claro, depois disto, não me restava outra alternativa do que dar no pé, pois aventava eu, naquela época, a hipótese de que todo seminarista deveria se submeter à psicanálise. A minha idéia pioneira poderia ter – olha o narcisismo aí de novo – diminuído a quantidade de críticas que se fazem hoje aos desmandos do clero, sobretudo na área da sexualidade. Porém, o bispo de minha diocese ficou furioso com minha petulância e me mandou passear no meio do ano (olha um sadismo explícito: perdi o ano escolar.) Saí pisando duro, e, como Santa Tereza d´Avila, sacudindo a poeira dos sapatos e falando baixinho: “Hei de vencer com Freud” (Uma profecia auto-realizável, ou seria autorrealizável?: acabei me aposentando como psicólogo.)
Freud – vamos falar dele agora – é engraçado. Além de falar da sexualidade infantil – ainda tabu nestes tempos bicudos de hoje – ainda tocava no tema da  bissexualidade.. Só mais tarde, na adolescência, ela iria procurar seu par. Hoje os conceitos estão muitíssimo misturados, com as inúmeras siglas em voga: GBLTT. A psicologia, que era a profissão escolhida por 9 entre 10 candidatas a Miss de antanho, é um mundo a ser descoberto e saboreado. Há dois casos na vida de Freud que valem a pena ser relembrados.
O primeiro se refere a um incidente com o pai. Como judeu, sofria perseguição e preconceito na Viena de 1860. Um dia, ao deparar-se com um goy (não judeu), este derrubou o chapéu do pai de Freud e mandou-o apanhar. Jacob, obviamente o nome do pai, não se fez de rogado. Pegou o “boné” e foi embora. Este fato transtornou a cabecinha de Freud. (Ainda bem que meu pai não usava chapéu).
O outro seria um tanto trágico. O autor de “A Interpretação dos Sonhos” tinha câncer na garganta (seriam os charutos? Uma vez falaram para ele que charuto lembrava muito o falo. Ele respondeu: às vezes um charuto é simplesmente um charuto. Além de tirar o dele da reta (estive tentado a cometer um lapsum linguae e escrever “reto”) , ele nos ensina a maneirar nas interpretações (está ouvindo, Clebinho?) e ter um pé na realidade). Bem voltemos ao câncer de Freud. Relutou, relutou , mas acabou se submetendo à cirurgia. Para que? Na enfermaria teve uma crise de respiração e não tinha médico nenhum por perto (será que existia Sus naquela época?) E ele não conseguia chamar ninguém para acudi-lo. O colega de infortúnio (enfermaria) era um “portador de sofrimento mental”. Vendo aquele agito todo, resolveu sair e chamar o doutor, que conseguiu chegar a tempo e salvar o pobre do Freud..
É isso aí.






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