Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes
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terça-feira, 19 de novembro de 2013

Viver como se fosse o último dia de sua vida parece ser fria.

Li o texto a seguir, gostei e pensei: meus leitores poderão gostar também. Aposto que sim.


Os livros que se propõem a ensinar qualquer um a ser mais feliz, os gurus de autoajuda, os coaches pessoais e até o inconsciente coletivo pregam que é preciso viver cada dia intensamente, como se fosse o último. Afinal, a única coisa que temos de concreto é o presente. 

De acordo com essa linha de pensamento, só dessa forma podemos desfrutar ao máximo de tudo aquilo que temos – e ainda daquilo que não temos, se exageramos no entusiasmo na hora de usar o cartão de crédito.

A máxima, no entanto, é praticamente impossível de ser seguida. E, caso alguém tenha coragem de encará-la literalmente, não terá felicidade garantida.
Quando as pessoas pensam em viver intensamente, em geral, têm em mente extravagâncias, como viajar pelo mundo, comer à vontade e realizar desejos – normalmente, caros e/ou pouco saudáveis–, como se a humanidade fosse ser extinta no dia seguinte. Esse comportamento, no entanto, é factível apenas para um grupo muito pequeno.

Para os especialistas em comportamento, viver intensamente significa, em primeiro lugar, valorizar as coisas importantes do dia a dia.

"Tem a ver, principalmente, com a maneira de realizar qualquer atividade, seja ela cotidiana ou grandiosa. Você vive intensamente comendo uma pizza, encontrando com os amigos, trabalhando, nas relações amorosas. Não é a situação em si, mas como ela é vivida", afirma a psicóloga Maria Julia Kovács, fundadora e coordenadora do Laboratório de Estudos sobre a Morte do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo).
Segundo a psicóloga Denise Pará Diniz, coordenadora do Setor de Gerenciamento de Estresse e Qualidade de Vida da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a intensidade da vivência depende do significado que cada um de nós dá a ela. "Ter sonhos e pensar em estratégias para realizá-los já é uma das fases do viver intensamente".

Sentir que está aproveitando o que de melhor a vida pode oferecer também inclui o envolvimento e o compromisso que cada pessoa tem com a própria existência. "Alguém que mora numa pacata cidade e vive uma rotina simples e previsível pode, perfeitamente, viver intensamente, se está satisfeito com suas escolhas", fala a psicóloga Blenda de Oliveira.


O valor da rotina


Ao imaginar que a felicidade está em vivenciar experiências fantásticas ou luxuosas, muita gente despreza a importância da rotina. E, ao pensar assim, invariavelmente, projeta sua realização no futuro – é nele que se encontra a alegria tão sonhada, e não no momento presente. Esse é um erro que provoca desperdício de tempo e energia.

Para Blenda de Oliveira, as pessoas precisam aprender a se divertir com a rotina e a tirar proveito dela. "É uma pena quando as pessoas esperam a sexta-feira, o fim de semana ou as férias para 'aproveitar a vida'. A vida pode ser muito divertida todos os dias. Mesmo no trabalho dá para arrumar uma brecha para fazer algo bem simples e agradável, como tomar um cafezinho ou dar uma volta no quarteirão, observando as pessoas, os lugares, o céu", exemplifica a psicóloga.
Não são poucas as pessoas que acreditam que uma vida intensa significa ter de passar por todas as experiências de forma indiscriminada, sem muita reflexão, deixando-se levar pela vontade momentânea. "Essa forma de viver gera ansiedade", declara a psicóloga Sâmia Simurro, vice-presidente de projetos da ABQV (Associação Brasileira de Qualidade de Vida). Ela diz que as pessoas confundem e acreditam que "ter ou fazer coisas" é o caminho para uma vida plena.

"Podemos ter um prazer momentâneo, mas ele tem um tempo de duração que, em geral, é curto. Quando aquela conquista deixa de fazer efeito, voltamos ao mesmo estado de humor de antes. O que se deve perseguir é o bem-estar e a paz interior. Assim, não importa o que se tenha ou faça. É possível se sentir bem e aproveitar o que a vida oferece", afirma Sâmia.

A ilusão do "dane-se"


Mas já que só temos certezas sobre o presente e precisamos valorizá-lo, não seria bom, então, seguir o conselho de tentar viver cada dia como se fosse o último? Para Maria Julia Kovács, da USP, esse "slogan" não passa de uma ideia falsa.
"Pode haver momentos de jogar tudo para o alto e agir sem pensar nas consequências, mas, a  longo prazo, essa atitude pode trazer prejuízos às relações afetivas, familiares, sociais e profissionais", explica a psicóloga. "Não pensar no amanhã é bom, às vezes necessário. No entanto, sempre teremos de conviver com nossos medos, traumas e angústias", diz Helio Roberto Deliberador, professor do Departamento de Psicologia Social da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
Viver o presente nada tem a ver com "ligar o botão do dane-se". "O que é possível, o que é de direito e dever de todos nós, é que possamos viver com a intensidade, mas sempre de forma responsável. Responsável conosco, pela nossa saúde física, mental e social", afirma Denise Pará Diniz.

"Ser íntegro e coerente consigo mesmo dá consistência à vida, é libertador e nos deixa emocionalmente maduros para que possamos aproveitar o melhor que a vida tem para oferecer", declara Sâmia.

Um comentário:

  1. Tema muito atual e instigante. Dá o que "pensar" e "falar" nesta sociedade hodierna, que não consegue se encontrar. É preciso resgatar o prazer no "quotidiano" da Vida.
    Antônio Carlos Faria Paz. - Itapecerica/MG

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