Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes
Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

sábado, 23 de novembro de 2013

Que tipo de turista é você? Crônica de Martha Medeiros. Só o título que é meu.

O título talvez devesse ser: Como aproveitar o turismo. Ou o Turista Ideal versus Turista Acidental. E que
tipo de turista é você? Mas, como quase tudo de Martha Medeiros, adorei até mesmo o título desta crônica.. 
Quanto ao  IPod que ela fala, é curioso como pegamos ansiosamente a máquina, o smartphone ou celular 
para tirar fotos e esquecemos de nos extasiar diante da beleza do lugar.

   A capacidade de se encantar

Muita gente diz que adora viajar, mas depois que volta só recorda das coisas que deram errado.
 Sendo viajar um convite ao imprevisto, lógico que algumas coisas darão errado, faz parte do pacote.
 Desde coisas ingratas, como a perda de uma conexão ou ter a mala extraviada, até xaropices menos relevantes, 
como ficar na última fila da plateia do musical ou um garçom mal-humorado não
 entender o seu pedido. Ainda assim, abra bem os olhos e veja onde você está: em Fernando
 de Noronha, em Paris, em Honolulu, em Mykonos. Poderia ser pior, não poderia?

Outro dia uma amiga que já deu a volta ao mundo uma dezena de vezes comentou que lamentava
 ver alguns viajantes tão blasés diante de situações que costumam maravilhar a todos. São os que 
fazem um safári na Namíbia e estão mais preocupados com os mosquitos do que em admirar a
 paisagem, ou que estão à beira do mar numa praia da Tailândia e não se conformam de ter
 esquecido no hotel a nécessaire com os medicamentos, ou que não saboreiam um prato 
espetacular porque estão ocupados calculando quanto terão que deixar de gorjeta.

Não saboreiam nada, aliás. Estão diante das geleiras da Patagônia e não refletem sobre a 
imponência da natureza, estão sentados num café em Milão e não percebem a elegância dos 
transeuntes, entram numa gôndola em Veneza e passam o trajeto brigando contra a máquina
 fotográfica que emperrou, visitam Ouro Preto e não se emocionam com o tesouro da arquitetura
 barroca – mas se queixam das ladeiras, claro.

Vão à Provence e torcem o nariz para o cheiro dos queijos, olham para o céu estrelado do Atacama 
sofrendo com o excesso de silêncio, vão para Trancoso e reclamam de não ter onde usar salto alto,
 vão para a India sem informação alguma e aí estranham o gosto esquisito daquele hamburger: ué, 
não é carne de vaca, bem? Aliás, viajar sem estar minimamente informado sobre o destino escolhido
 é bem parecido com não ir.

Estão assistindo a um show de música no Central Park, mas não tiram o olho do Ipad. Vão ao Rio,
 mas têm medo de ir à Lapa. Estão em Buenos Aires, mas nem pensar em prestigiar o tango –
“programa de velho!” São os que olham tudo de cima, julgando, depreciando, como se o fato de 
se entregar ao local visitado fosse uma espécie de servilismo – típico daqueles que têm vergonha
 de serem turistas.

É muito bacana passar um longo tempo numa cidade estrangeira e adquirir hábitos comuns aos
 nativos para se sentir mais próximo da cultura local, mas quem pode fazer essas imersões com
 frequência? Na maior parte das vezes, somos turistas mesmo: estamos com um pé lá e outro cá. 
Então, estando lá, que nos rendamos ao inesperado, ao sublime, ao belo. Nada adianta levar o
corpo pra passear se a alma não sai de casa.

Martha Medeiros
 

Um comentário:

  1. Realmente para se viajar, é uma abertura ao inesperado e a tantas outras coisas. para ser turista é preciso saber se portar como tal, senão não vale à pena. Excelente artigo!
    Antônio Carlos Faria Paz - Itapecerica/MG

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