Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Conversa de Idosos - numa pequena cidade interiorana.

Em qualquer lugar você pode ouvir algo, presenciar uma cena e aproveitar para escrever um caso, conto ou historinha. Veja só o que me aconteceu (boa parte foi inventada).

CONVERSA DE IDOSOS.

Era o primeiro dia útil do mês e a fila de aposentados no banco começara cedo, antes mesmo que a porta giratória fosse aberta. O atendimento se fazia, lenta e morosamente, nos terminais, onde o vigilante – saindo de suas funções – ajudava as trêmulas mãos a digitarem os números da conta e virava o rosto para o cliente, “catando milho”, clicar os números da senha. Pouco afeitos à tecnologia, eles demoravam muito. Aos outros sobravam o silêncio, a paciência e o olhar distraído, até que:
- “Seo”, Zé, o senhor por aqui? – um homem reconheceu o velho da fila, e emendou: como vai?
- Mais ou menos – o homem respondeu secamente.
- E a dona Maria? – o homem queria mesmo puxar conversa.
- Separamos.
- Nesta idade?
- Pois ela. Ela me aprontou uma cachorrada.
(Acho que houve um silêncio quase – me desculpe a palavra, em respeito às idades avançadas deles – sepulcral)
- O quê??? – o homem estava incrédulo – Além de velha e feia, sem vergonha?
Desta vez houve risos, risinhos e até uma ameaça de gargalhada.
- Isto mesmo, a cachorra. Mas não tem problema, não. Vou arrumar outra namorada.
- É? – ele ficou mais incrédulo.
- Já vou colocar na rádio. Como não sei usar essa tal de internet, vou por na rádio.
- Mas o que tem para oferecer a ela? – este sujeito era mesmo impertinente.
- Minha casa e minha aposentadoria, quando morrer.
- E muito reumatismo. – Falou alguém no final da fila. Ninguém riu, porém.
- O que é isso? – falou o idoso. – Reumatismo é coisa de velho de antigamente. Hoje seria Alzheimer.
- Ou Parkinson – falou o incrédulo impertinente.
- Ataque cardíaco. – falou outro.
- AVC.
- Um cancerzinho.
- Vamos parar com este converseiro e esta bagunça aí.
Todos voltaram o rosto e viram o gerente pondo ordem e respeito naquele templo materialista, o banco.

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