Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

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domingo, 23 de novembro de 2014

O Taxista e a Bandeira Dois.- Conto.

Fico tempos sem escrever nada e, de repente, surgem borbotões de ideias e textos. Numa tarde desta, aqui em BH, enquanto pegava o ônibus, mais ou menos quente, entabulei uma conversa com o passageiro do meu lado. Saiu esta crônica/conto/caso.

O Taxista e a Bandeira Dois.
Mário Cleber da Silva.
Gosto de andar de ônibus. Primeiro, porque não pago. Segundo, porque ajudo a evitar o caos da cidade grande, não usando meu carro. E, por fim, por causa da fauna humana que se pode encontrar dentro do ônibus.
O calor do dia, logo após o almoço, era de arrasar. E, quando subi os degraus da lotação, vi que o motorista não estava em seus melhores dias. Reclamava e usando o celular. Fui direto para as cadeiras amarelas, próprias para os idosos, onde se aboletara um sujeito de uns supostos 77 anos. Mal sentei, ele puxou conversa.
- Está reclamando de trabalhar oito horas por dia (supus que falava do condutor). Como se a gente não tivesse trabalhando muito mais.
- É (! e?). – Meu mau humor seguia na mesma via do motorista.
- Trabalhei demais. Hoje estou aposentado há mais de vinte e cinco anos.
- Vinte e cinco anos? Uai, daqui a pouco você faz uma aposentadoria da aposentadoria. – Olhei incrédulo para ele – Quantos anos você tem?
- 89.
- O que? 89? Nossa, você está bem, hein? – Com esta idade, andando de ônibus sozinho e ainda conversando sem reclamar de dores.
- Trabalhei até de lanterninha de cinema.
- Lanterninha? – Nossa, conviver com quem trabalhou no que mais gosto: cinema. Era todo ouvidos e curiosidade. – Em que cinema?
- Todos os do Luciano...
- Eram uns vinte e sete – falei com a certeza de quem ouviu falar muito no famoso Luciano e suas aventuras cinematográficas.
- Vinte e três – me corrigiu - Ele pagava mal, mas pagava.
- Qual cinema que você mais gostou?
- O Cine Brasil. Não era esta coisa horrorosa de hoje, não. Mas o que eu gostava mesmo era das bilheteiras...
- Bilheteiras? Não é bilheterias?
- Não. Bilheteiras. Pegava todas elas.
- Ahn – pouco entusiasmado no assunto.
- Passava a mão em tudo quanto é lugar.
- Dava bobeira e você passando a mão.
- Lógico – penso que deu um sorriso. – Teve uma, acho que era casada, que a coisa foi mais longe. O marido era taxista. E trabalhava de noite.
- Enquanto ele trabalhava você pegava a bandeira dois...
Ele me olhou por uns segundos. Quanto a ficha caiu, ele riu e completou:
- É. Eu era muito bonzinho...
- Vou descer – disse apertando o botão da campainha. Caí na besteira de perguntar seu nome.
- Mário....
Ele não entendeu porque desci cuspindo marimbondo. Esta é boa: um xará...







2 comentários:

  1. Excelente crônica, começo muito bem seu novo livro!

    Antônio Carlos Faria Paz - Itapecerica/MG

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  2. Repetindo pois houve um err: "Excelente crônica, começou muito bem se novo livro caro Mário Cleber!

    Antônio Carlos Faria Paz - Itapecerica/MG

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