Entre o corte e a raiva
Regina
Teixeira da Costa
Publicação: 26/05/2013 04:00
Todo mundo quer ficar bem. Só que estar bem exige atitudes. Não
basta deixar a vida rolar. Fazemos escolhas a cada instante, e todas têm
consequências. Também teremos de escolher entre nós e o outro.
Quem escolhe a si mesmo faz bem, e quem sempre escolhe altruisticamente o outro, mais cedo ou mais tarde, vai apresentar a conta. Se sacrificar pelo outro tem um custo. O custo é alto porque é o preço da anulação do próprio sujeito.
De fato, haveremos de escolher sempre. Não algumas vezes, mas muitas e muitas. Se alguém pensa que pode ser poupado de se posicionar a cada vez que se encontra com outro ser humano, pode continuar sonhando. Será como uma folha n’água boiando. Passará passivo.
Dificuldades aparecem no caminho todo o tempo e não há como evitar. É como o poema de Carlos Drummond ‘‘No meio do caminho’’, que diz: “No meio do caminho tinha uma pedra/tinha uma pedra no meio do caminho/ tinha uma pedra/ no meio do caminho tinha uma pedra”.
Viver é muito difícil. Saber como nos virar a cada momento, sermos pegos de surpresa o tempo todo é difícil. Nunca estamos prontos para nada. Não nascemos preparados para a vida. Ao contrário, viemos ao mundo prematuros e sem manual. Nunca poderemos prever todas nem algumas situações. Não é como a tabuada da escola, que, decorando, passamos na prova. Nem como no teatro com direito a ensaio prévio.
Todo o cuidado é pouco para viver e precisamos conviver, nos fazer entender, trocar figurinhas. Saber fazer cortes sem ferir. Mas como? Pensamos que colocar limites é um castigo? Uma maldade? Se assim pensamos, será muito difícil assumir posição de sujeito que comanda a própria história. Ficaremos silenciosos para não discordar?
Até para educar é preciso dizer o certo e o errado, todo o tempo, é uma canseira inevitável. E observem que tanto crianças quanto adultos nos provocam como se pedissem limites em determinadas situações. Ao acolhermos esse pedido, as coisas se resolverão, se apaziguarão. Limite funciona que é uma beleza. Nada como um nãozinho jeitoso!
Quem não pode estabelecer lugares, inclusive o seu numa relação, é um escravo voluntário, que pensa que ser contrariado ofende o outro e também não gosta que lhe deem a medida do real.
Se existe alguma coisa difícil, é aprender a não corresponder às expectativas alheias. Mas viver por conta delas também não seria insuportável? Não é preciso muito esforço pelo outro, ele deve nos amar ou não espontaneamente, sem nada em troca.
Virar as costas quando a situação é de abuso pode parecer absurdo porque as pessoas negam as situações. Quando um coloca o outro à sua disposição sem se importar com o consentimento desse outro, pode passar despercebido porque é velado. Então só você pode esperar, se incomodar, espernear? Nada abala aquele que só faz o que quer, na hora que quer, sem medir consequências. E muitos são assim. E outros engolem qualquer coisa, mas não digerem.
Diante disso, mesmo convivendo com quem não consegue abrir mão dos sintomas, as pessoas se constrangem em dizer o que pensam. Têm medo de confusão, de brigas, de perdas, e por isso se calam, suportando tudo em silêncio. Temem ficar no lugar do chato.
É aquela coisa de consentir tudo a quem não tolera nada. Seria o mesmo que dizer ‘‘eu posso gozar desse jeito, você não!’’ O que faz com que pessoas inteligentes ajam assim? Não é possível compactuar com alguns sintomas que se repetem e não mudam porque o sujeito não se move.
Daí começam os problemas pequenos que se tornam grandes. Podem tornar-se uma úlcera, um refluxo, uma obesidade mórbida de tanto engolir... Há ainda uma opção: torne-se um ermitão, um antissocial, mas acho que essa opção para quem vive na humanidade é um escape.
Enquanto isso, para nós, os insistentes sobreviventes ou con-viventes: tolerância é boa medida, mas que nunca seja total nem absoluta!
Quem escolhe a si mesmo faz bem, e quem sempre escolhe altruisticamente o outro, mais cedo ou mais tarde, vai apresentar a conta. Se sacrificar pelo outro tem um custo. O custo é alto porque é o preço da anulação do próprio sujeito.
De fato, haveremos de escolher sempre. Não algumas vezes, mas muitas e muitas. Se alguém pensa que pode ser poupado de se posicionar a cada vez que se encontra com outro ser humano, pode continuar sonhando. Será como uma folha n’água boiando. Passará passivo.
Dificuldades aparecem no caminho todo o tempo e não há como evitar. É como o poema de Carlos Drummond ‘‘No meio do caminho’’, que diz: “No meio do caminho tinha uma pedra/tinha uma pedra no meio do caminho/ tinha uma pedra/ no meio do caminho tinha uma pedra”.
Viver é muito difícil. Saber como nos virar a cada momento, sermos pegos de surpresa o tempo todo é difícil. Nunca estamos prontos para nada. Não nascemos preparados para a vida. Ao contrário, viemos ao mundo prematuros e sem manual. Nunca poderemos prever todas nem algumas situações. Não é como a tabuada da escola, que, decorando, passamos na prova. Nem como no teatro com direito a ensaio prévio.
Todo o cuidado é pouco para viver e precisamos conviver, nos fazer entender, trocar figurinhas. Saber fazer cortes sem ferir. Mas como? Pensamos que colocar limites é um castigo? Uma maldade? Se assim pensamos, será muito difícil assumir posição de sujeito que comanda a própria história. Ficaremos silenciosos para não discordar?
Até para educar é preciso dizer o certo e o errado, todo o tempo, é uma canseira inevitável. E observem que tanto crianças quanto adultos nos provocam como se pedissem limites em determinadas situações. Ao acolhermos esse pedido, as coisas se resolverão, se apaziguarão. Limite funciona que é uma beleza. Nada como um nãozinho jeitoso!
Quem não pode estabelecer lugares, inclusive o seu numa relação, é um escravo voluntário, que pensa que ser contrariado ofende o outro e também não gosta que lhe deem a medida do real.
Se existe alguma coisa difícil, é aprender a não corresponder às expectativas alheias. Mas viver por conta delas também não seria insuportável? Não é preciso muito esforço pelo outro, ele deve nos amar ou não espontaneamente, sem nada em troca.
Virar as costas quando a situação é de abuso pode parecer absurdo porque as pessoas negam as situações. Quando um coloca o outro à sua disposição sem se importar com o consentimento desse outro, pode passar despercebido porque é velado. Então só você pode esperar, se incomodar, espernear? Nada abala aquele que só faz o que quer, na hora que quer, sem medir consequências. E muitos são assim. E outros engolem qualquer coisa, mas não digerem.
Diante disso, mesmo convivendo com quem não consegue abrir mão dos sintomas, as pessoas se constrangem em dizer o que pensam. Têm medo de confusão, de brigas, de perdas, e por isso se calam, suportando tudo em silêncio. Temem ficar no lugar do chato.
É aquela coisa de consentir tudo a quem não tolera nada. Seria o mesmo que dizer ‘‘eu posso gozar desse jeito, você não!’’ O que faz com que pessoas inteligentes ajam assim? Não é possível compactuar com alguns sintomas que se repetem e não mudam porque o sujeito não se move.
Daí começam os problemas pequenos que se tornam grandes. Podem tornar-se uma úlcera, um refluxo, uma obesidade mórbida de tanto engolir... Há ainda uma opção: torne-se um ermitão, um antissocial, mas acho que essa opção para quem vive na humanidade é um escape.
Enquanto isso, para nós, os insistentes sobreviventes ou con-viventes: tolerância é boa medida, mas que nunca seja total nem absoluta!
Artigo muito atual, pertinente e necessário, para ser aplicado no dia-a-dia da vida. Conselhos sábios, práticos para se viver e conviver, saber utilizar melhor nossa emoções, constantemente provadas, sobretudo no mundo hodierno.
ResponderExcluirAntônio Carlos Faria Paz. - Itapecerica/MG
Adoreeei esse texto! A vida é mesmo feita de escolhas diárias e como é difícil a relação humana... Se fazer sujeito, dono de sua própria história, ativo, não é fácil. Mas antes tentar do que deixar o pé acomodar-se ao sapato.
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