Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes
Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

quarta-feira, 12 de junho de 2013

"O Filho do Comendador" - pequena crônica.

Dia dos Namorados.

Não sou muito a favor de datas comemorativas, ainda mais com esta ênfase consumista. No Dia dos Namorados, resolvi colocar uma pequena história de amor, com final inesperado e “incompreendido”.  E acrescento uma pequena biografia do autor, Humberto de Campos.

De origem humilde, era filho de Joaquim Gomes de Farias Veras e Ana de Campos Veras. Nasceu  em 1886 no então Município maranhense de Miritiba - hoje batizado com o seu nome. Com a morte do pai, aos seis anos, mudou-se para São Luís, onde começou a trabalhar no comércio local para auxiliar na subsistência da família. Aos dezessete, muda-se novamente para o Pará, onde começa a exercer atividade jornalística na Folha do Norte e n'A Província do Pará.
Em 1910, quando contava 24 anos, publica seu primeiro livro de versos, intitulado "Poeira" (1.ª série), que lhe dá razoável reconhecimento. Dois anos depois, muda-se para o Rio de Janeiro, onde prossegue sua carreira jornalística e passa a ganhar destaque no meio literário da Capital Federal, angariando a amizade de escritores como Coelho Neto, Emílio de Menezes e Olavo Bilac. Torna-se cada vez mais conhecido em âmbito nacional por suas crônicas, publicadas em diversos jornais do Rio de Janeiro, São Paulo e outras capitais brasileiras, inclusive sob o pseudônimo "Conselheiro XX".
Em 1919 ingressa na Academia Brasileira de Letras, sucedendo Emílio de Menezes na cadeira n.º 20.
Em 1933, com a saúde já debilitada, Humberto de Campos publicou suas Memórias (1886-1900), na qual descreve suas lembranças dos tempos da infância e juventude. A obra obteve imediato sucesso de público e de crítica.
Após vários anos de enfermidade, que lhe provocou a perda quase total da visão, Humberto de Campos faleceu no Rio de Janeiro, em 5 de dezembro de 1934, aos 48 anos, em virtude de uma síncope ocorrida durante uma cirurgia.


O Filho do Comendador

Humberto de Campos 

Foi um contentamento para o comendador Felisberto a notícia, que a esposa lhe dera, de que lhe ia oferecer, em breve, um pequeno herdeiro do seu nome, e, sobretudo, da sua fortuna.
- É verdade isso? - exclamou o velho capitalista, contendo os ímpetos do coração.
E como fosse fraco dos nervos, desatou a chorar de satisfação, ensopando de lágrimas de felicidade o seu alvo lenço de linha, vasto como um lençol.
A generosidade do comendador, durante os meses de expectativa, foi espantosa. Fraldas, camisinhas, sapatinhos de lã, barretinhos de seda, tudo isso entrava em quantidade pela porta do palacete, em que dona Enedina engordava contente, esperançada com a idéia de ter, enfim, uma criaturinha do seu sangue.
Passou-se, porém, o quinto mês. E o sexto. E o sétimo. Este último, passou-o o velho capitalista a procurar, sorridente, um nome para o pirralho. E concluiu:
- Se for homem, chamar-se-á Benevenuto.
- E se for mulher? - indagou a esposa.
- Terá o nome da mãe. Será, também, Enedina...
Antes do oitavo mês, o comendador mandou a esposa para a Europa. E trinta dias depois, recebia o seguinte telegrama:
“Comendador Felisberto Maia - Rio. - Extraí fibroma. Saudades – Enedina”.
Para o capitalista, essa notícia foi um choque. E foi furioso, apoplético de raiva, que respondeu imediatamente:
“Madame Felisberto Maia - Paris - Combinação aqui foi dar outro nome criança. Caso insista dar nome Fibroma recém-nascido suspenderei mesada – Felisberto”.
E respirou, com força. Era pai... 


Um comentário:

  1. Crônicas são parte da vida! Esta crônica tão bem delineada, com fino toque de humor é uma amostra de quem foi Humberto de Campos: Um Cronista de escol.
    Antônio Carlos Faria Paz - Itapecerica- MG

    ResponderExcluir