Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

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terça-feira, 2 de novembro de 2010

Décima Quinta Cova - Meu Poema..

FINADOS.

Em nossa cultura católica, o dia de Finados é muito respeitado. Virou até feriado nacional para dar uma folga aos vivos. Cemitérios ficam apinhados. As missas fúnebres são lindas com seus Cantos Gregorianos. Não deixando passar em branco esta data, passo aos leitores um poema meu, escrito após a morte de meu pai.

Minha professora de literatura dizia que ser "modernista" é saber a quem copiar. Todos estamos aproveitando a experiência de outros, seus saberes e obras e fazendo a nossa própria obra. "Nada de novo sob o sol", já dizia há mais de dois mil anos um livro da bíblia. Anos atrás ganhei de um amigo um livro. Ele, um poeta de mão cheia, escreveu algo sobre o lugar onde o pai dele estava enterrado. Gostei demais. Peguei a idéia e também me enveredei por este tema. O poema chegou a ser publicado num livro-coletânea dos alunos do Curso de Português do "Pleno Viver", da UEMG. Apresento uma tradução em inglês, realizada por um artista/poeta de Cambridge, Inglaterra.



DÉCIMA QUINTA COVA

Mário Cleber da Silva.


Não. Meu pai não está enterrado na curva do rio,
Nem ao pé do morro que circunda a cidade.
Nem no alto do outeiro perto da igrejinha.
Ele está enterrado na décima quinta cova
.
À esquerda do esquelético pinheiro,
Que não lhe dá sombras nem ao entardecer.

As vizinhas árvores, avaras,
Nem riscam de leve seu túmulo.

Uma lápide despida de flores
Desprovida de adornos
Negra, lisa, aquecida pelo sol
Suave de manhã, inclemente à tarde

O muro fica distante, isolado pelas casas
Que, em volta, pululam, cheias de gente.
E de vida.

Meu pai está perto e longe
Das casas do bairro, da cidade
Das gentes.

À noite, a lua vem
Insone, iluminar o túmulo.
E a lápide, antes quente
Esfria. Congela.
Meu pai está enterrado na décima quinta cova,
À esquerda.

Sol e lua são seus. Por inteiro.
Ele é uma raiz Que vai crescer
Sem sombras que o impeçam
De ver, de ser a luz.




The 15th Grave –
translated by James Nesbitt

No, my father is not buried in the bend of the river,
Nor is he at the foot of the hill,
which surrounds the town,
and he isn't at the top of the knoll,
near the small church.

He is buried in the 15th grave,
The left side of the skeletal pine tree
is where he lies,
He has no shadow, not even at sunset.

The neighbour trees are all parsimonious,
They leave no scratch marks on his tomb,
not even thin ones

A flowerless tombstone,
without adornments.
Smooth, black and cold
warmed only by the severe sun,
in the afternoon
like an insect held under a magnifying glass

The wall is very far away
Isolated by the houses that surround
yet swarmed and congested by their
overlooking eyes
Full of life

Near and far is my father
Near and far from the houses
The town
The counties
All living souls

At night a sleepy moon looks down
Enlightens the grave
The tombstone
Returning to its cold state

The sun and the moon belong to him
My father
He is a seed that will grow
Prevented by nothing
Seeing and being the light
My father is buried in the 15th grave.





2 comentários:

  1. Cleber - descobri seu blog por acaso. parabéns. gostaria que entrasse em contato comigo

    ademir pradela ( SJRP) adpradela@di.com.br

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    Respostas
    1. Ademir, tentei responder pelo gmail e pelo yahoo. Se não conseguir , vai aqui mesmo. Me passe seu telefone.
      Veja o que coloquei no computador:
      Vi seu comentário no blog hoje.
      São três as grandes lembranças que tenho de Rio Preto: o calor, a missa na Redentora e você. Sempre comento de você com amigos. Estive aí em 2003 para lançar meu livro e te liguei. Mas não foi possível. Uma única pessoa compareceu na livraria para comprar o livro, sem dar o nome. Pensei que era você.
      Vamos nos contatar.
      Ontem encontrei um amigo que não via há 45 anos.
      Meu novo livro tem o título de "Contos, Encontros & Reencontros".
      Eis o momento dos reencontros.
      Um abraço
      Cleber
      wwwcleber2010.blogspot.com

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