UM HOMEM QUE GRITA...
Para quem está acostumado com as produções holliwoodianas, não vai gostar deste filme. Mesmo aqueles que saem do circuito cinematográfico europeu e se extasiam com os filmes iranianos vão ficar chocados. Mas vale a pena correr o risco e ir ao cinema assistir “Um Homem Que Grita”. E vá logo, antes que saia de cartaz. Não perca. Além de ser um filme africano (coisa raríssima), dirigido por um africano, com atores africanos – a única personagem não africana é uma “amarela”, uma chinesa,- narra uma belíssima e triste história de guerra sem mortos (os únicos mortos que aparecem estão na TV), de amor filial com enorme capacidade de perdão, a globalização em seu estado maligno, o sofrimento e as reações patológicas de um pai e a importância de ser reconhecido por um feito esportivo acontecido há décadas. Ouvi expectadores comentarem que ele é lento. É. Tem um close fantástico no rosto do personagem principal. Não tem música. A não ser uma dolorosa e pungente canção árabe.
A primeira e última cena acontecem com os mesmos personagens, em um mesmo ambiente estranho à África árida (água), mas com sentimentos opostos: enquanto em uma há vida, alegria, felicidade, na outra vemos infelicidade, ausência de vida e sofrimento. E talvez até paz, diante da beleza do crepúsculo. A história se passa no Chade, com guerra entre rebeldes e forças do governo (o próprio diretor fugira de lá, carregando os pais, já envelhecidos, num carrinho de mão). No hotel, comprado pelos chineses, o zelador da piscina, um antigo campeão olímpico de natação pelo Chade, é demitido e em seu lugar é colocado o próprio filho. A partir deste momento, uma série de situações complicadas vai acontecendo, levando-o a sofrimentos e comportamentos incontroláveis.À mulher que reclama que ele mudou, responde: “o mundo mudou”. É verdade. O mundo mudou, o mundo muda. Mas temos que mudar com ele. Mudar o nosso comportamento. Mas de forma adaptativa, e não neurótica e patológica. Há momentos também de desespero e falta de fé em um Deus que, supostamente, os abandonara. Deixe a pipoca de lado e mergulhe nesse comovente filme.
Nenhum comentário:
Postar um comentário