Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

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segunda-feira, 21 de julho de 2014

A mulher da minha vida, mas...





Este é o título de um artigo em  que o foco é uma autocrítica: está faltando tolerância no autor para com as mulheres. Ou para o seu amor. Vocês também acham que estamos ficando mais intolerantes, ou mais exigentes na busca da pessoa amada
O texto pode parecer machista, mas inverta-o e coloque na cabeça de uma mulher. Será também que ela não reagiria assim, mutatis mutandis?

Meus olhos foram ficando vermelhos. Ela perguntou se eu nunca tinha visto uma mulher nua, se aquilo tudo era emoção, se eu estava prestes a chorar ou se tinha fumado alguma coisinha diferente no caminho.  Em pouco tempo, meu nariz também ficou congestionado.  Tosse. Muita tosse. Tosse feia e alguma dificuldade para respirar. Achei que ia morrer.

Não tinha mais clima.

Recolhi as roupas que tinham sido atiradas no chão e pedi uma carona até o pronto-socorro mais próximo.

Era a mulher da minha vida, mas tinha gatos.

*

A garota saiu do cinema dizendo que ele tinha feito o mesmo filme mais uma vez, que o roteiro era apenas uma desculpa esfarrapada para uma sucessão de gags de graça duvidosa e que, ainda por cima, não se sentia à vontade em assistir algo dirigido por alguém suspeito de abusar da própria filha. No mais, ela me esfregou na cara que sempre torceu pela Mia Farrow.

Não tinha mais clima.

Recolhi minha alma de cinéfilo do chão e comprei outro saco de pipocas.

Era a mulher da minha vida, mas não gostava do Woody Allen.

*

Quando ela foi embora, eu ainda estava dormindo. Carinhosa, deixou um recado pendurado, com um ímã de pizzaria delivery, na porta da geladeira.  No bilhete, uma marca de batom e os seguintes versos: “Eu te dei o ouro do sol/ A prata da lua/ Te dei as estrelas/ Pra desenhar o teu céu/ Na linha do tempo/ O destino escreveu/ Com letras douradas/ Você e eu...”

Não tinha mais clima.

Recolhi os caquinhos de Chico Buarque por debaixo da porta, reclamei baixinho, e voltei a dormir.

Era a mulher da minha vida, mas citava Victor e Léo.

*

Assim como o diabo, o amor que fica no quase também mora nos detalhes.

A lista de pecados capitais, aqueles que desclassificam uma pessoa da série A das nossas fantasias, costuma ser maior que a lista de exigências do camarim da Madonna.

Difícil encontrar alguém que caiba exatamente no nosso ideal romântico. A idealização do outro é a maior fábrica de solitários (as) do mundo.

No mais, esse papo de alma gêmea já está mais fora de moda que camisa regata e pochete na praia.

Aliás, eu mesmo  já perdi campeonatos por menos de um décimo, fui desclassificado por usar shampoo 2 em 1 e não saber dirigir. Difícil essa coisa de se encaixar nas expectativas de outra pessoa.

Por tudo isso, a partir de agora, vou tentar ser mais tolerante. Não vou deixar que nenhum “mas” intrometido levante uma barreira entre o próximo grande amor da minha vida e eu.     

Que dizer...

Só não posso com gatos.

Tenho a impressão que a minha alergia será sempre maior do que o meu amor.




4 comentários:

  1. Oi, Cleber!!! Estou encantada com este texto, MA - RA - VI - LHO - SO!!! Achei o máximo vc abordar essa coisa de intolerância para com o outro, e acho que é mesmo dos dois lados. Penso que isso tem muito a ver com o excesso de "oferta de mercado"... Há muita "coisa"se oferecendo por aí, o problema é a qualidade, rsrsrs. Primeiro é que não se oferece o que é bom... O que é realmente bom, a gente tem que procurar e MUITO, tá sempre bem guardado e a gente somente poderá encontrar em lugares bem seletos, de acordo com o jeito e o estilo de quem "procura", claro... Lembrando só: "Quem procura, acha", mas custa pra achar, quando é verdadeiramente bom! Isso requer muita paciência e uma "boa lupa"!!!
    Acho, amigo, mais fácil, suportar e vencer essa alergia a gatos (já vi muita gente boa vencer isso!!!), rsrsrs, que conviver com quem recita Vitor e Léo!!! Alergia tem jeito, ignorância, só "conversão" e daquelas, viu??? hehe... Mesmo assim, tenta apresentar o Chico, o Buarque, claro! ;)
    Mas brincadeiras à parte, acredito que essa intolerância tem muito a ver mesmo com essa tal "oferta" exagerada, de "mercado", somada à globalização, onde encontramos de tudo e TUDO muito fácil. A isso tudo, ainda soma-se a falta de paciência em suportar o diferente, já que o espelho é sempre bem mais agradável e não nos contraria... Principalmente quando chegamos numa fase da vida, em que já não "precisamos" tanto, suportar coisas que não nos são agradáveis...
    Acho mesmo que vale a pena, por tudo, esperar ou procurar por alguém que pertença a um grupo sócio cultural mais próximo, já que coisas mais banais, por menos agradáveis que sejam, suportá-las não tira pedaço, mas tolerar gostos e/ou caráter duvidosos, isso não tem mesmo jeito, para homens e mulheres, que buscam substancialmente, qualidade no relacionamento.
    Um grande abraço, amigo querido e parabéns por estar sempre trazendo à baila, temas profundos de absoluta reflexão para nós, de uma forma tão agradável e leve. Isso nos faz saber mais sobre nós mesmos. Muito obrigada!!!
    Rosângela.

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    1. Obrigado, Rosângela, pelos seus comentários inteligentes, pertinentes e elogiosos (o que massageia meu ego). Muita cisa que você falou é pura verdade. Veja esta: "Principalmente quando chegamos numa fase da vida, em que já não "precisamos" tanto, suportar coisas que não nos são agradáveis..."
      É mesmo. Quando muito jovens, aceitamos muito fácil as diferenças. Que só aumentam com a idade. O excesso de ofertas também é outro problema. O pior de tudo (antes mesmo dos gatos) é não gostar do Wood Allen.
      Fico feliz de fazer o blog. Abraço.
      Cleber

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  2. Cleber, para nāo perder a mulher de seus sonhos, de sua vida, mesmo tendo que conviver com outra espėcie de felino, acho por bem você consultar um alergista e se submeter a doses de vacina. Nesta altura do campeonato, nenhum sacrifício é em vão. Que bobagem achar que uma alergiazinha pode ser maior que o amor! Abraços. Etelvaldo.

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