S O L I D Ã O
Mário Cleber da Silva.
Há dois tipos de solidão: a do dia a dia e a
existencial. A primeira é interpessoal,
a de estar isolado de outras pessoas. De estar sozinho. Esta solidão, causada
muitas vezes pelo medo de intimidade, pelo sentimento de rejeição, vergonha ou
de não ser amado, já é velha conhecida de todos nós. Tanto é que a maioria de
pacientes de psicoterapia tem como objetivo manter relacionamentos mais
íntimos, mais constantes e duradouros.
A solidão existencial surge no vazio entre a pessoa e os
outros. E isto se deve não só porque fomos lançados ao mundo sozinhos e termos
que existir sozinhos, como também ao
fato de que cada um habita o seu próprio mundo, que só ele conhece.
De acordo com os últimos estudos científicos, sabemos
que todos nós temos nosso próprio aparelho
neurológico e que é ele que nos leva a ser protagonistas na criação de nossa
própria história, de nossa própria realidade, o nosso modo particular de ser e
viver. Em outras palavras, há um grande
número de categorias mentais inatas (como qualidade, quantidade, causa e
efeito) que desempenham papel importante quando somos confrontados com os dados
dos sentidos e nos levam, automática e inconscientemente, a construir um mundo
à nossa maneira.
Esta solidão existencial está ligada não só à nossa própria
“finitude” e perda de nossa vida biológica, mas também à perda deste mundo
rico, maravilhoso e cheio de novidades, e que não existe da mesma maneira na mente de outras pessoas.
As minhas memórias mais marcantes – andar de velocípede em Andrelândia, comer o
bolinho de fubá frito e quente que minha mãe fazia, ir para a fazenda do meu
avô e passar perigosamente pelas “pinguelas”, ir ao cinema assistir os
faroestes e os jogos de ping pong no seminário – todas estas memórias, e outras
incontáveis como as estrelas do céu, só a mim me pertencem e só eu tenho acesso
às mesmas. E desaparecerão com minha morte. Haja solidão existencial, então.
Este isolamento interpessoal – a
solidão do dia a dia - nós o
experimentamos em diversas fases de nossa vida. Mas o isolamento existencial só
é vivido mais incisivamente quando chegamos à velhice ou quando a morte se avizinha.
(Tradução
resumida de umas páginas de Staring at the Sun, de Irving Yalom).
Texto profundo, que nos leva à meditação e ao silêncio interior!
ResponderExcluirGostei! Nem sempre damos valor aos apelos da alma, do espírito.
Antônio Carlos Faria Paz - Itapecerica-MG
Gostei muito Mário. Sempre achei que somos sozinhos e por isso,ha que se saber conviver conosco mesmos. Adoro o silêncio, o espaço, a solidão, não todo dia, nem toda hora, mas considero fundamental para a lucidez. Um grande abraço.
ResponderExcluirSimone Lisboa.