Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

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sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Solidão: dois tipos.

Depois de um mês cheio de postagens longas, vou terminar Setembro com um texto curto, mas forte: a solidão. Preparem-se para enfrentá-la e também os artigos longos que virão no próximo mês. Leitores exigentes precisam de textos robustos.


S O L I D Ã O

Mário Cleber da Silva.

Há dois tipos de solidão: a do dia a dia e a existencial.  A primeira é interpessoal, a de estar isolado de outras pessoas. De estar sozinho. Esta solidão, causada muitas vezes pelo medo de intimidade, pelo sentimento de rejeição, vergonha ou de não ser amado, já é velha conhecida de todos nós. Tanto é que a maioria de pacientes de psicoterapia tem como objetivo manter relacionamentos mais íntimos, mais constantes e duradouros.
A solidão existencial surge no vazio entre a pessoa e os outros. E isto se deve não só porque fomos lançados ao mundo sozinhos e termos que existir sozinhos,  como também ao fato de que cada um habita o seu próprio mundo, que só ele conhece.
De acordo com os últimos estudos científicos, sabemos que  todos nós temos nosso próprio aparelho neurológico e que é ele que nos leva a ser protagonistas na criação de nossa própria história, de nossa própria realidade, o nosso modo particular de ser e viver.  Em outras palavras, há um grande número de categorias mentais inatas (como qualidade, quantidade, causa e efeito) que desempenham papel importante quando somos confrontados com os dados dos sentidos e nos levam, automática e inconscientemente, a construir um mundo à nossa maneira.
Esta solidão existencial está ligada não só à nossa própria “finitude” e perda de nossa vida biológica, mas também à perda deste mundo rico, maravilhoso e cheio de novidades, e que não existe  da mesma maneira na mente de outras pessoas. As minhas memórias mais marcantes – andar de velocípede em Andrelândia, comer o bolinho de fubá frito e quente que minha mãe fazia, ir para a fazenda do meu avô e passar perigosamente pelas “pinguelas”, ir ao cinema assistir os faroestes e os jogos de ping pong no seminário – todas estas memórias, e outras incontáveis como as estrelas do céu, só a mim me pertencem e só eu tenho acesso às mesmas. E desaparecerão com minha morte. Haja solidão existencial, então.
Este isolamento interpessoal – a solidão do dia a dia -  nós o experimentamos em diversas fases de nossa vida. Mas o isolamento existencial só é vivido mais incisivamente quando chegamos à velhice ou quando a morte se avizinha.
(Tradução resumida de umas páginas de Staring at the Sun, de Irving Yalom).

2 comentários:

  1. Texto profundo, que nos leva à meditação e ao silêncio interior!
    Gostei! Nem sempre damos valor aos apelos da alma, do espírito.
    Antônio Carlos Faria Paz - Itapecerica-MG

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  2. Gostei muito Mário. Sempre achei que somos sozinhos e por isso,ha que se saber conviver conosco mesmos. Adoro o silêncio, o espaço, a solidão, não todo dia, nem toda hora, mas considero fundamental para a lucidez. Um grande abraço.
    Simone Lisboa.

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