Tio Mateus, assim chamado por causa dos sobrinhos, não é meu
tio e também é bem mais novo que eu. No entanto, é um grande contador de causo.
No final de semana, degustando um franguinho com ele, a mãe (dele) e a amada (minha), ele veio
me contando a tristeza que anda passando em seu coração. “Olha, me dizia com a
voz embargada, como a violência tem vindo até o interior. Aqui mesmo, em
Brumadinho, aconteceu uma morte por causa de um quilo de quiabo”.
- Não acredito. Por causa de um quilo de quiabo? Mas, me
conta, como foi? - Disse eu com cuidado por causa da farofa.
E ele não se fez de rogado.
- E o chato é que o sujeito é meu conhecido. Muito conhecido.
Lógico, toma umas e outras. Mas seu único defeito. Um sábado destes, depois de ter
batido uma laje na casa do patrão, foi pro mercado. Onde enfiou a cara – ou
melhor, a boca – na cerveja e na pinga,
fazendo uma mistura etílica tenebrosa. Comia alguns petiscos, mas o que são
petiscos para uma barriga esfomeada e um trabalho duro como batedor de laje.
Nada, nadica de nada.
De modo que pensou na mulher e na comidinha gostosa que ela fazia naquele fogão
à lenha e a fome aumentou. Decidiu ir embora. Ao passar pela última banca, viu
uns quiabos maravilhosamente verdes e degustáveis.
Nem titubeou. Comprou um quilo, colocou por debaixo do braço,
como os franceses fazem com o pão, e marchou resoluto para a sua “humilde
residência”, cantarolando essa música que fala estas duas palavras. Não avisou a
mulher, pois não usava celular. Era do MSTC: Movimento sem Telefone Celular”.
Chegou levemente sóbrio e gritou:
- Mulher, cheguei.
A esposa saiu esbaforida de dentro da residência, arrumando
os cabelos pretos e revoltos, abotoando a blusa que teimava em abrir nas horas
impróprias, e deu de cara com o marido meio trôpego e uns quiabos que ela nunca
tinha visto tão lindos e gostosos.
- Ah, meu bem, com estes quiabos eu vou ter que MATAR um frango...
Hilário, simplesmente hilário! Muito boa crônica com este toque muito bem engendrado de humorismo.
ResponderExcluirAntônio Carlos Faria Paz-Itapecerica/MG
Como boa mineira que sou, adorei o causo. Mas, o que eu faço agora com essa vontade de almoçar na casa dos meus pais?
ResponderExcluirNívea Braga