Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

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terça-feira, 24 de setembro de 2013

Judaísmo no Brasil Parte II - Expressões de origem judaica.

Continuando nossa saga, falando da importância dos judeus no Brasil.



Nem todos os sobrenomes de origem animal e/ou botânica são de origem Judaica.
Alguns, porém tem essa procedência sem dúvida.

O Nordeste Brasileiro foi colonizado por Judeus.
A ilha de Itamaracá, na costa Pernambucana, foi a primeira colonização Judaica do país.
A música de roda "Essa ciranda quem me deu foi Lia que mora na ilha de Itamaracá" é uma referência a uma das matriarcas do Judaísmo, Leah, e a dança ciranda é uma paródia da Hora Dani hebraica que é igual a ciranda...

Abaixo um texto interessante, com alguns fatos pitorescos remanescentes da cultura Judaica, que o Brasil incorporou em seu dia-a-dia.
Existem mais de 10 milhões de brasileiros que podem ser considerados descendentes de Judeus.
Sua grande maioria está no Norte e Nordeste além de Minas Gerais.

Existe uma obra esclarecedora, de autoria da historiadora da USP Anita Novinski, expert mundial nos Anusim (aqueles que foram convertidos a força) no Brasil.

"PÃO-DURISMO MINEIRO": MITO OU REALIDADE?

Os judeus participaram de todos os ciclos da economia brasileira, inclusive o do ouro e pedras preciosas das Minas Gerais.
Obrigados a se manter no anonimato, para não serem denunciados à Inquisição e ao mesmo tempo preocupados em seguir as regras dietéticas da kashrut (1), desenvolveram um mobiliário que permitia agradar a gregos e troianos, que é a famosa "mesa com gavetas" dos mineiros. 
Em que consistia?
Muito simples: as mesas das cozinhas e copas onde eram realizadas as refeições dispunham de gavetas estrategicamente dispostas no lugar onde os comensais deveriam sentar.
A cada refeição, eram preparados dois pratos para cada pessoa.
Um, taref (2), para inglês ver, no caso de chegar alguma visita inesperada, composto pelos alimentos habituais da cozinha mineira, como lingüiça, torresmo, leitão e outros quitutes que, além de seu elevado teor calórico, eram proibidos aos judeus.
O outro prato continha os alimentos preparados segundo a tradição judaica de não misturar carne com leite e derivados, de evitar a ingestão de crustáceos e peixes sem escamas e uma série de outras recomendações, especialmente a de não consumir carne ou gordura de porco.
E era um tal de bota e tira os pratos nas tais gavetas a cada aproximação de um estranho que o zé povinho acabou forjando a lenda de que os mineiros eram pão-duros, pois preparavam dois tipos de comida.
Uma, de melhor qualidade e sabor, para o pessoal da casa e outra, mais simples, para o caso de chegar uma visita inesperada.

FESTIVAL DA ALHEIRA

Quem freqüenta, no Rio, as sinagogas Shel Guemilut ou Ari, já teve a oportunidade de passar pela frente de um tradicional restaurante português localizado nas proximidades.
Esse estabelecimento costuma realizar, todos os anos, um "Festival da Alheira", ansiosamente aguardado pelos apreciadores da boa mesa.
Mas afinal, o que vem a ser a alheira?
Uma das evidências para um judeu ser denunciado à Inquisição era o fato de não comer carne suína, especialmente os embutidos com ela preparados, como o presunto, os salames e as lingüiças.
Uma casa portuguesa genuinamente cristã deveria exibir, penduradas e à vista de todos, fieiras de embutido s de porco preparados com essa carne considerada impura pelas leis dietéticas judaicas.
Os israelitas portugueses, especialmente das regiões da Beira Alta e Trás os Montes, logo se deram conta do risco que corriam ao não exibir essa tradicional - e proibida - iguaria no entorno de suas casas.
Criaram uma falsa lingüiça que, ao invés do porco utilizava carne de gado.
No lugar do toucinho, de cor branca, colocavam nacos de pão e, para mascarar o cheiro, folhas de um arbusto da região de nome alheira que possuía um forte odor, semelhante ao do alho.
Além de afastada a razão para uma possível denúncia, estava criado um novo e delicioso prato, que até hoje faz a festa em muitas casas e estabelecimentos especializados em culinária regional portuguesa.
Mas atenção, antes de pedir uma alheira em um restaurante de comida portuguesa, bata um papo com o maitre a respeito do seu conteúdo, pois muitos fabricantes do produto, desinformados sobre a origem e o valor histórico da iguaria, acabaram substituindo a carne bovina por...adivinhe... nada mais nada menos do que... porco.

PASSAR A MÃO NA CABEÇA

Quem já não ouviu ou pronunciou a expressão "passar a mão na cabeça", que significa proteger ou mesmo fazer vista grossa para um determinado fato?
Se o leitor suspeita que essa frase esteja relacionada ao ato judaico de abençoar alguém colocando as duas mãos sobre sua cabeça ao mesmo tempo em que se pronuncia uma breve oração em hebraico, está redondamente acertado.
É mais uma prova da influência judaica na cultura popular brasileira.

VESTIR A CARAPUÇA

É uma expressão com origem trágica, pois remonta ao obscuro período da Inquisição em que os condenados eram obrigados a vestir trajes ridículos ao comparecer aos julgamentos e Autos de Fé.
Além do sambenito, túnica com o formato de um poncho, precisavam colocar sobre a cabeça um longo e pontiagudo chapéu, conhecido como carapuça.
A frase "vestir a carapuça" acabou sendo incorporada ao português escrito e falado com o sentido de "assumir a culpa".

NÃO APONTAR PARA AS ESTRELAS

Apontar para uma estrela, segundo o conceito popular, poderia causar o surgimento de uma verruga na extremidade do dedo infrator.
Qual a origem dessa crendice?
É fácil de entender.
O calendário judaico é regido pela lua e o despontar da primeira estrela marca o início de um novo dia, especialmente se esse dia for o Shabat (3).
Antes da expulsão da Espanha de 1492 e da conversão forçada de Portugal de 1497 era comum que as crianças judias, ao entardecer das sextas-feiras, ficassem procurando no firmamento o brilho da primeira estrela, indicativa da chegada de um dia muito especial.
Era a Estrela D'Alva, também conhecida como Vésper, mas que, na realidade, não é exatamente uma estrela, mas sim o Planeta Vênus, que por brilhar com mais intensidade se destaca dos outros corpos celestes.
Quem apontasse primeiro provavelmente ganharia a admiração dos mais velhos e, quem sabe até, algum presente.
De uma hora para outra esse gesto simples passou a ser denunciador da condição judaica e a primeira coisa que as precavidas mamães fizeram foi assustar seus filhos com a possibilidade do surgimento de uma baita verruga na ponta do dedo.
A Inquisição, felizmente, já acabou há bastante tempo, mas a crendice ainda persiste em muitas regiões desse imenso país. Por isso, não se preocupe quando vir uma criança ou adulto apontando para o céu.
Mesmo porque já se sabe que as verrugas são causadas por vírus e os dermatologistas dispõem de eficazes tratamentos para erradicá-las.

OFERECER A BEBIDA AO SANTO

É comum em muitos bares e botequins de norte a sul do Br asil despejar no chão o primeiro gole de aguardente, em sinal de respeito "ao santo".
Qual o santo? Nada mais nada menos do que o nosso conhecido Eliyahu Hanavi (4), o Profeta Elias da tradição judaica.
Nas mesas do Seder (5) de Pessach (6) é costume reservar um lugar para o Profeta, colocando-se um prato, talheres e um cálice com o delicioso vinho adocicado especialmente preparado para a ocasião. Ninguém toca nesse cálice, reservado para Elias.
Diz-se que, a cada ano, ele faz uma visita a todos os lares judaicos durante o Pessach e não ficaria bem encontrar seu cálice sem o precioso líquido.
Com as perseguições aos judeus, começou a ficar perigoso mencionar o nome de Elias, que passou a ser chamado de "santo". De profeta para santo e de vinho para pinga foi um pulo.

COVA DE SETE PALMOS DE FUNDURA

O grande escritor e poeta João Cabral de Melo Neto imortalizou nos versos de "Morte e Vida Severina" a estrofe que fala de uma cova com sete palmos de fundura.
É uma tradição 100% nordestina envolver as pessoas falecidas em uma mortalha de linho, sepultando-a em cova preparada em terra virgem com a profundidade de sete palmos.
Também fazia parte da tradição judaica ibérica, por ocasião da morte de um ente querido, ao invés de sepultá-lo em um caixão, revestir seu corpo em uma mortalha confeccionada com algodão ou linho e enterrá-lo em uma cova escavada igualmente em terra virgem e com os mesmíssimos sete palmos de profundidade.
Os homens costumavam ser sepultados envoltos no seu talit (7), manto com franjas utilizado durante as cerimônias religiosas.
Coincidência? Nada disso. O Nordeste foi colonizado por judeus, gente!

ACENDER VELAS PARA AS ALMAS

A cerimônia doméstica do Shabat tem início logo após a dona da casa ter acendido as duas velas do candelabro ritual e pronunciado a benção própria para a ocasião.
Quando isso acontece? Um pouco antes do pôr do sol das sextas-feiras.
Como driblar os olheiros da Inquisição?
Acendendo velas "para as almas", além das sextas, também às segundas-feiras.
Pronto, estava resolvido o problema.
O acendimento das segundas-feiras era só para despistar e o das sextas para valer.
A moda de acender velas duas vezes na semana pegou.
Para felicidade das almas e dos fabricantes de velas.

DIA NACIONAL DA FAXINA

Em que dia da semana os brasileiros costumam fazer a faxina e trocar a roupa de cama e banho de suas casas? Pense bem antes de responder: às segundas, terças, quartas ou quintas-feiras? Não acertou? Isso mesmo, pois todos sabem que o dia nacional consagrado à faxina é às sextas-feiras.
Você já questionou o porquê desse dia?
Será que não tem algo a ver com a preparação para o Shabat, que, por uma estranha coincidência, também acontece ao entardecer das sextas-feiras? Mais uma coincidência?
Não, tudo a ver com um país que foi descoberto e colonizado por israelitas, que precisaram esconder essa condição durante muitos séculos para não serem denunciados, perseguidos, torturados e mortos pela Inquisição, mas que conseguiram transmitir para o restante da população uma série de costumes, provérbios e princípios que hoje em dia estão intimamente ligados ao próprio estilo de vida do povo brasileiro, ao qual os judeus, juntamente com os católicos, protestantes, muçulmanos, evangélicos, espíritas, budistas, umbandistas e agnósticos, pertencem. 

Glossário :
(1) Kashrut - Lei dietética judaica
(2) Taref - Alimento impróprio para consumo pela lei dietética judaica
(3) Shabat – Dia sagrado dos judeus, que vai do entardecer das sextas-feiras ao mesmo período do dia seguinte
(4) Eliyahu Hanavi – Nome hebraico do Profeta Elias
(5) Seder - Mesa cerimonial para a celebração do Pessach, a Páscoa Judaica
(6) Pessach - Celebração festiva da libertação dos Judeus do jugo egípcio
(7) Talit - Manto cerimonial utilizado pelos homens no Shabat e datas festivas


Ana Scherer - Coach

6 comentários:

  1. Aprendi muito com este texto! Esclarecedor!
    Antônio Carlos Faria Paz. Itapecerica-MG

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  2. ADOREI. Em caixa alta, com luzinhas fluorescentes e salva de palmas.

    Adoro textos que trazem um pouco de cultura geral para a nossa vida.

    Abraços,

    Nívea

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    Respostas
    1. Eu também adorei, Nívea. Você já leu a Casa de Mae Joana? Não perca? E "Será o Benedito", do grande Mário Prata. Gosto muito destas explicações de expressões e modo de falar. Obrigado por ser minha leitora.
      Cleber.

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  3. Muito inteligente!!! Amei esses textos e as curiosidades. Realmente é muito interessante saber-se a origem das expressões, que normalmente usamos no dia a dia. Mais interessante é saber que os judeus influenciaram mais nosso cotidiano, que nós poderíamos imaginar! Vlw, mt obrigada pela grata contribuição!

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    1. Muito bom, Rosângela, você gostar, e fazer seu comentário. A influência dos judeus realmente é curiosa e pouco conhecida do grande público. Apesar desta postagem não ser a mais acessada, é a mais comentada, rs. Por pessoas que gostam de ler.

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  4. Tenho profunda admiração pela cultura judaica,pelo povo, e gosto muito de aprender.
    Sou brasileira meus pais são nordestinos e muitos desses costumes mencionados nesse texto nós fazemos uso e foram passados desde nossos avós até nós.

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