Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

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terça-feira, 17 de setembro de 2013

Judeus no Brasil e sua influência nos costumes e falas - Parte 1

Há  povos de quem eu sou fã de carteirinha. Gregos, desde que entrei na  sua mitologia pelas mãos de Monteiro Lobato em "Os Doze Trabalhos de Hércules", lido aos 12 anos em Andrelândia. Japoneses, não só pelo fato de que nos chamavam, a mim, irmãs e tios de japoneses, por causa dos olhos puxados, característica familiar (na Inglaterra alguém me chamou de "oriental looking father"), como também a ideia alucinante, para um garoto, da gueixa (houve até uma fantasia de querer casar com uma japonesa). Os judeus - que eu nunca tinha conhecido um pessoalmente, até entrar no curso de Psicologia ( ele, um adversário vencedor na conquista do coração de uma colega)  - pela sua cultura, inteligência, história e enfrentamento das adversidades. No início do século XXI, fiquei conhecendo uma família inteira e um deles costuma me mandar emails com ótimos textos. O de hoje será repartido em dois - o segundo será  postado posteriormente - e que  fala sobre judaísmo no Brasil e a ideia do batismo em pé e a expressão "a ver navios"..

Boa leitura.



Três anos antes do descobrimento do Brasil o número de judeus em Portugal ultrapassava a casa dos 10% da população.
Cem mil judeus expulsos da Espanha em 1492 tinham procurado refúgio no país vizinho, pela própria proximidade geográfica, vindo se somar à já existente e próspera coletividade israelita do país.
Portugal, à época, tinha uma população estimada em um milhão de habitantes.
Por volta de 1496, quatro anos após a chegada dessa numerosa e qualificada leva migratória à terrinha, D. Manuel, o Venturoso, tido como "muy amigo" dos judeus, pediu a mão da filha dos Reis de Espanha, Isabel e Fernando, cujos nomes provocam, até hoje, arrepios em muitos sefaradis.
A princesa, que não era esbelta nem esperta, foi buscar orientação com seu confessor, o temível Torquemada, que proibiu terminantemente sua entrada em solo português enquanto existissem judeus no país.
D. Manuel ficou numa sinuca de bico.
Por um lado, precisava dos judeus, alfabetizados, cultos, poliglotas, em cujo seio era possível encontrar médicos, astrônomos, tradutores e artesãos experientes no manejo do couro e dos metais, em uma época em que Portugal se lançava aos grandes descobrimentos marítimos e precisava dessa mão de obra altamente qualificada.
Por outro, o soberano português temia, com justa razão, a presença ao seu lado de uma Espanha militarizada e agressiva que acabara de conquistar a Andaluzia aos árabes e expulsar os judeus do país.
Espanha essa que possuía população e território muitas vezes superior ao de Portugal, um pequeno país espremido entre o mar e seu nada amistoso vizinho.

BATISMO EM PÉ

Com esse casamento, D. Manuel esperava matar dois coelhos de uma só vez.
Além de constituir família e garantir a continuidade da sua dinastia, afastava, pelo menos momentaneamente, a ameaça de uma anexação de Portugal pela Espanha.
Todavia, como resolver a delicada questão dos judeus, de que ele tanto precisava?
No domingo de Ramos de 1497 D. Manuel convidou os israelitas da capital portuguesa para um grande encontro na Praça do Comércio, bem em frente ao Tejo , com a promessa de que embarcariam em navios que os levariam à Terra Santa, sonho da imensa maioria dos judeus ibéricos.
Ao mesmo tempo, em segredo, convocou o maior número possível de padres, a quem foi distribuída uma grande quantidade da assim chamada água benta, no episódio conhecido como "batismo em pé".

Enquanto os religiosos católicos aspergiam a água dita santa sobre a multidão que se acotovelava no cais, D. Manuel, feliz da vida, enviava seu emissário à corte espanhola para avisar que não havia mais judeus em Portugal, só cristãos.
E os judeus, olhos fixos no horizonte, "ficaram a ver navios", pois além de ludibriados com a falsa promessa da viagem à Terra Prometida, ainda tinham sido convertidos, contra a vontade, em cristãos.

Cristãos de segunda classe, diga-se de passagem, pois estavam proibidos de ocupar cargos no governo, no clero e na oficialidade militar.
Esse lamentável episódio se, por um lado, evidenciou uma atitude de total desrespeito à liberdade religiosa em relação a uma parcela ponderável da população, por outro serviu para deixar uma marca indelével e inequívoca da presença judaica na formação do inconsciente coletivo de portugueses e brasileiros, o que pode ser constatado ao se analisar certos hábitos, muitos provérbios e até mesmo algumas estranhas superstições que se incorporaram à nossa maneira de ser.

A própria expressão "ficar a ver navios", para citar um exemplo, acabou sendo agregada ao vocabulário popular, servindo para designar uma situação de promessa não cumprida, de enganação, de desejo frustrado.
Teria sido esse "ficar a ver navios" a única evidência da presença judaica no dia-a-dia da população luso-brasileira, de suposta maioria cristã?
Claro que não e o objetivo deste artigo é exatamente o de utilizar artifícios freudianos para resgatar, dos profundos e nebulosos meandros do inconsciente para o estado de consciência plena, uma série de fatos que evidenciam, de forma cabal e inequívoca, a forte presença judaica nos hábitos da população brasileira.


4 comentários:

  1. Está aí um assunto que eu ignorava completamente. Parabéns pelo artigo. GERALDO VILGER

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    Respostas
    1. Prepare-se Geraldo. Vem a segunda parte. Engraçada, curiosa e que pouca gente conhece.. Viu sua foto. Maravilhosa. Como falamos de judeus, Jeová descendo das núvens ficam bem adequado.

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  2. Ótimo artigo, com uma boa aula de história. Parabéns!
    Antônio Carlos Faria Paz.Itapecerica/MG

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  3. Esperando a segunda parte!

    Abraços!

    Nívea

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