Boa leitura.
Três
anos antes do descobrimento do Brasil o número de judeus em Portugal
ultrapassava a casa dos 10% da população.
Cem
mil judeus expulsos da Espanha em 1492 tinham procurado refúgio no país
vizinho, pela própria proximidade geográfica, vindo se somar à já existente e
próspera coletividade israelita do país.
Portugal,
à época, tinha uma população estimada em um milhão de habitantes.
Por
volta de 1496, quatro anos após a chegada dessa numerosa e qualificada leva
migratória à terrinha, D. Manuel, o Venturoso, tido como "muy amigo"
dos judeus, pediu a mão da filha dos Reis de Espanha, Isabel e Fernando, cujos
nomes provocam, até hoje, arrepios em muitos sefaradis.
A
princesa, que não era esbelta nem esperta, foi buscar orientação com seu
confessor, o temível Torquemada, que proibiu terminantemente sua entrada em
solo português enquanto existissem judeus no país.
D.
Manuel ficou numa sinuca de bico.
Por
um lado, precisava dos judeus, alfabetizados, cultos, poliglotas, em cujo seio
era possível encontrar médicos, astrônomos, tradutores e artesãos experientes
no manejo do couro e dos metais, em uma época em que Portugal se lançava aos
grandes descobrimentos marítimos e precisava dessa mão de obra altamente
qualificada.
Por
outro, o soberano português temia, com justa razão, a presença ao seu lado de
uma Espanha militarizada e agressiva que acabara de conquistar a Andaluzia aos
árabes e expulsar os judeus do país.
Espanha
essa que possuía população e território muitas vezes superior ao de Portugal,
um pequeno país espremido entre o mar e seu nada amistoso vizinho.
BATISMO
EM PÉ
Com
esse casamento, D. Manuel esperava matar dois coelhos de uma só vez.
Além
de constituir família e garantir a continuidade da sua dinastia, afastava, pelo
menos momentaneamente, a ameaça de uma anexação de Portugal pela Espanha.
Todavia,
como resolver a delicada questão dos judeus, de que ele tanto precisava?
No
domingo de Ramos de 1497 D. Manuel convidou os israelitas da capital portuguesa
para um grande encontro na Praça do Comércio, bem em frente ao Tejo , com a
promessa de que embarcariam em navios que os levariam à Terra Santa, sonho da
imensa maioria dos judeus ibéricos.
Ao
mesmo tempo, em segredo, convocou o maior número possível de padres, a quem foi
distribuída uma grande quantidade da assim chamada água benta, no episódio
conhecido como "batismo em pé".
Enquanto
os religiosos católicos aspergiam a água dita santa sobre a multidão que se
acotovelava no cais, D. Manuel, feliz da vida, enviava seu emissário à corte
espanhola para avisar que não havia mais judeus em Portugal, só cristãos.
E
os judeus, olhos fixos no horizonte, "ficaram a ver navios", pois
além de ludibriados com a falsa promessa da viagem à Terra Prometida, ainda
tinham sido convertidos, contra a vontade, em cristãos.
Cristãos
de segunda classe, diga-se de passagem, pois estavam proibidos de ocupar cargos
no governo, no clero e na oficialidade militar.
Esse
lamentável episódio se, por um lado, evidenciou uma atitude de total
desrespeito à liberdade religiosa em relação a uma parcela ponderável da
população, por outro serviu para deixar uma marca indelével e inequívoca da
presença judaica na formação do inconsciente coletivo de portugueses e
brasileiros, o que pode ser constatado ao se analisar certos hábitos, muitos
provérbios e até mesmo algumas estranhas superstições que se incorporaram à
nossa maneira de ser.
A
própria expressão "ficar a ver navios", para citar um exemplo, acabou
sendo agregada ao vocabulário popular, servindo para designar uma situação de
promessa não cumprida, de enganação, de desejo frustrado.
Teria
sido esse "ficar a ver navios" a única evidência da presença judaica
no dia-a-dia da população luso-brasileira, de suposta maioria cristã?
Claro
que não e o objetivo deste artigo é exatamente o de utilizar artifícios
freudianos para resgatar, dos profundos e nebulosos meandros do inconsciente
para o estado de consciência plena, uma série de fatos que evidenciam, de forma
cabal e inequívoca, a forte presença judaica nos hábitos da população
brasileira.
Está aí um assunto que eu ignorava completamente. Parabéns pelo artigo. GERALDO VILGER
ResponderExcluirPrepare-se Geraldo. Vem a segunda parte. Engraçada, curiosa e que pouca gente conhece.. Viu sua foto. Maravilhosa. Como falamos de judeus, Jeová descendo das núvens ficam bem adequado.
ExcluirÓtimo artigo, com uma boa aula de história. Parabéns!
ResponderExcluirAntônio Carlos Faria Paz.Itapecerica/MG
Esperando a segunda parte!
ResponderExcluirAbraços!
Nívea