Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes
Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

terça-feira, 14 de maio de 2013

Religião. Porque as pessoas acreditam em Deus.

Tenho postado textos multirreligiosos (ver Horus e Jesus, em 14/12/11, Oração Celta de 31/12/12, Um Deus que Sorri, de 05/12/12, Diálogo com Buda, em 02/09/12), e recentemente deparei-me com este texto de uma psiquiatra australiana muito pertinente. Gostei. Passo para vocês refletirem.




Este artigo foi  escrito originariamente por Dorothy Rowe em um jornal inglês, alguns anos atrás e resolvi traduzi-lo, de forma livre, resumindo alguns trechos. 

Nascida em uma família sem ligação com religião, apesar de a mãe mandá-la assistir aos cultos religiosos em uma igreja pouco amigável, cheia de pessoas frias e também nada amigáveis. O pai, ateu, costumava ler artigos de Robert Ingersoll, um ateu do século XIX, cujos escritos curiosamente tinham o mesmo tom musical e erudição que se encontravam na Bíblia Inglesa. O Deus do Primeiro Testamento, cheio de crueldade e vaidade, não lhe agradava, mas sentia atraída pela figura de Jesus, um homem amável e educado
Deus não se encontra nas trincheiras ou em qualquer outro lugar, afirmaram-lhe os soldados que lutaram nas guerras, assim que ela entrou na faculdade. Ao estudar a religião, elencava as crueldades e estupidez que as religiões perpetraram pelos séculos afora no mundo todo, como escreveriam Richard Dawkins e  Christopher Hitchens 40 anos depois.
Quando ela foi trabalhar nos Hospitais Psiquiátricos, percebeu que discutir religião não era suficiente. Precisava entender porque a religião se tornava parte integrante da vida de uma pessoa e não desaparecia nem mesmo quando esta religião causava tanta dor, sofrimento e culpa e a levava a matar e até mesmo ao genocídio.
Embora não o reconhecessem, os pacientes deprimidos e psicóticos estavam travando uma luta contra questões que teólogos e filósofos também encetaram por milhares de anos: “ O que acontece quando eu morro”? “Como me tornar uma pessoa boa?” Por que acontecem coisas ruins com pessoas boas?”
Siegfried, um psiquiatra alcoólatra e deprimido, contou sobre o tio, um piloto da Aeronáutica Inglesa. Ele tinha a atenção e o amor do tio, que substituía o amor que não tinha dos próprios pais. Mas um dia o avião onde estava o tio espatifou no solo. Até aquela idade, 13 anos, ele tinha uma idéia vaga de Deus – cantava no coro da igreja aos domingos. As últimas lembranças que ele tinha de uma conversa com  Deus foi quando uma noite ele O xingou numa linguagem feia para uma criança: se Ele existe, ele é uma mer... Perguntado o que ele achava de Deus, agora, o psiquiatra respondeu: se Ele existe, Ele é uma mer...
Incapazes de encontrar respostas satisfatórias para o significado de suas existências, os pacientes psicóticos construíram muitas fantasias idiossincráticas. Ella era uma linda adolescente de 16 anos, retraída e isolada, cujos pais demoraram a perceber os seus problemas, porque era uma criança perfeitamente obediente a todas as ordens. A mãe de Ella disse: eu sempre obedeci a meus pais e esperava que minha filha me obedecesse. Com medo da raiva dos pais, Ella evitava as ações e comportamentos espontâneos. E disse à psicóloga: “Comecei a achar que eu sou a única pessoa que está viva, o único ser vivo. Tudo mais é uma visão. Vivo a vida de todo mundo. Estou neste mundo sem propósito nenhum. Meus pais não são pessoas reais. Tudo o que vejo é deus. Sou parte de Deus”.
Uma criança totalmente obediente é uma criança fraca. Somente se tornando o único ser vivo e parte de Deus é que Ella se tornaria poderosa, forte.
“Nada disto interessava aos psiquiatras e psicólogos com quem eu trabalhava”, escreve Dorothy Rowe. Eles estão interessados em identificar os sintomas: culpa irracional é sintoma de depressão, e alucinação e delírio, da esquizofrenia.
Os psiquiatras acham que os pacientes querem ser felizes, sem  perceber que, para muitas pessoas, é melhor ser bom do que ser feliz.
 “Morte” era um tema que aparecia nas conversas com os pacientes. Perguntava a eles: você vê a morte como fim de sua identidade ou como a entrada para uma nova vida? Isto provocava uma discussão sobre o objetivo da vida”.

Tudo o que sabemos com certeza sobre a morte é que a  pessoa fica estranhamente quieta e parada. Cada um de nós tem uma fantasia sobre o que acontece depois que se morre e esta fantasia é que vai determinar a finalidade de nossa vida. Se vemos a morte como fim de nossa identidade, o propósito da vida será transformar esta vida numa vida satisfatória, boa de se viver.
Há milhares de maneiras de definir o que é “satisfatório”, mas aquilo que escolhermos é que será nossa finalidade de vida.
Se se encara a morte como a entrada para uma nova vida, temos que decidir se esta vida será melhor do que a levamos aqui. Para nos dar esperança, decidimos que a próxima vida será melhor. Aqui se levanta a questão da justiça. Todos vão para uma vida melhor, ou existem alguns padrões de comportamento que devemos seguir?
O senso de justiça nos leva a escolher padrões, e fazendo assim, condenamo-nos a viver esta vida de acordo com a vida futura. Se você coloca modelos de comportamentos que você pode seguir com facilidade, você limita a quantidade de dor que você vai sofrer, mas caso você tenha padrões de vida rígidos, inflexíveis e quase impossíveis de seguir, você vai se recriminar por não conseguir segui-los.
Para todos nós, a vida é cheia de incertezas e dificuldades e termina em morte. Toda religião proclama que vence a morte, fornece certezas e recompensas  se sermos bons. É tão grande o medo que temos da vida e da morte que a maioria de nós deixa a esperança dominar a inteligência.
Um famoso esportista inglês colocou numa entrevista, após a morte de seu irmão caçula: “por que acontecem coisas ruins com as pessoas boas? Minha mãe é muito chegada em Deus. E eu acho que quanto mais perto de Deus você está, mais o diabo apronta com você. Ele vai fazer o possível para afastar você de Deus.”

Isto significa que se a mãe do jogador não fosse tão boa, o filho teria sobrevivido?  Nenhuma religião  nos aceita como realmente somos. Ao contrário.  Dizem que somos maus, insatisfatórios e desesperados. Temos medo de que isto realmente seja verdade e para nos dar um pouco de esperança  construímos a fantasia de como somos superiores àqueles que não partilham de nosso ponto de vista. Assim sendo, sentimo-nos à vontade para impor o nosso ponto de vista aos não crentes e, se resistirem, matá-los.
Na Austrália, falaram para a autora que os Presbiterianos eram melhores do que os Católicos, enquanto que os aborígenes nem humanos eram. Ela pensou que o homem Jesus não iria aprovar estas idéias e isto a levou a compreender que, embora as pessoas se diferem como indivíduos e em  termos de cultura, basicamente todos os seres humanos são iguais.
Todos nós queremos ser a pessoa que achamos que somos e que os outros nos reconheçam e que nos tratem com respeito. Queremos viver sem ser dominados pelo medo, ter bons relacionamentos e ter um lugar seguro em nossa sociedade. Ninguém é melhor do que ninguém por causa de suas crenças. Quando nos tornarmos aquela pessoa que sabemos que somos, sem vaidade ou auto piedade, vivenciaremos a maravilhosa experiência de nos sentir à vontade com tudo que existe. Alguns descrevem isto em termos religiosos, outros, em termos de natureza, mas, qualquer que seja, não temos a necessidade de uma religião nos dizer no que devemos acreditar.






,

Um comentário:

  1. crônica instigante, que faz pensar e refletir. Penso que existe algo mais, pois do contrário perderia o sentido de tanta luta.
    Antônio Carlos Faria Paz. Itapecerica/MG

    ResponderExcluir