Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes
Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Niemeyer.


(A Coerência, as Obras e a pronúncia de ) Niemeyer,  e Eu.

Falecido recentemente quase aos 105 anos, mesmo com este tempo todo de vida ele não se encontrou comigo. E nem eu com ele. Uma lástima. Para mim, claro. Teria conhecido um gênio da arquitetura e um homem de idéias e posturas a serem imitadas. Até hoje nenhum ateu convicto e explícito recebeu tantas homenagens no Brasil como ele. (Novos tempos?) Só não gostei de um grupo de religiosos em torno do caixão entoando cantos e preces para ele. Por ser bem educado, até depois da morte, ele não se revirou no caixão.

Mudou Niemeyer ou mudou a Igreja Católica?
Na década de 40 do século passado, quando o arquiteto bolou a Igreja da Pampulha, o arcebispado de Belo Horizonte não quis abençoar o templo e, assim, não era de fato uma igreja. E ficou fechada. Falou-se até que tinha os dois símbolos do comunismo: a foice o martelo. Agora em 2012, o arcebispado de Belo Horizonte convida Oscar Niemeyer para fazer a Catedral da Fé (?). Quem mudou nestes 70 anos? Oscar ou a Igreja? O Oscar da Coerência vai para ...

As obras do arquiteto.
Conheci por dentro o Conjunto Edifício JK em Belo Horizonte - na verdade são dois prédios. Um amigo (desde a minha primeira infância) morava lá e eu o visitava constantemente. Os longos corredores, os múltiplos tipos de apartamentos, as vidraças por toda parte externa do edifício, neste conjunto viviam mais de 8 mil ... vá lá (como picardia para um ateu), almas. O que me impressionava – além do imenso calor interno (a grande crítica que se faz a ele entre os colegas arquitetos: não é nada funcional. Só tem vista bonita.) – eram  os elevadores. Por um sistema de quatro ou cinco degraus para cima ou para baixo, o elevador parava em um determinado piso e servia para dois andares simultaneamente. A gente parava no meio do quarto andar, por exemplo, e subindo três degraus ia para o quinto. Descendo três ia para o quarto. Prático e inovador. Parece que ele perdeu esta ideia e no centro administrativo de Belo Horizonte – onde fui, bem acompanhado, diga-se-, lá tem mais de 18 elevadores. Corredores enormes e longuíssimos, carpetados, um calor infame na época quente – quase o ano todo em Belo Horizonte. Vidros enormes por fora. Continuam lindos externamente os edifícios do Oscar.

A pronúncia: niemaier.
Era a primeira vez que eu visitava os Estados Unidos. Nova Iorque, para ser preciso. Além da Broadway, Estátua da Liberdade, o Empire State Building (quando comecei a estudar inglês era o maior edifício do mundo) e outros lugares típicos para turistas (não andei de charrete no Parque), resolvemos assistir um culto religioso no Harlem. Únicos brancos no meio deles, procuramos em vão não chamar a atenção. Quietinhos observávamos o desenrolar da cerimônia, tão diferente. O templo em forma circular, com um grande mezanino (onde nos encontrávamos), estava lotado. De vez em quando alguém gritava alguma coisa. Um haleluia. Outro som não identificável. E nada de entendermos o inglês. Quando o pastor começou a pregar, uma palavra nos era conhecida: niemaier. Niemaier pra lá, niemaier para cá. Os fieis também gritavam o nome “niemaier”.
Mas, que diabos, por que chamavam tanto o Niemeyer? Teria ele construído o templo? Ele estava tão famoso a ponto de uma igreja no Harlem falar o nome dele?
Foi só quando voltei pro Brasil e fui dar uma lida na Bíblia em inglês que os frades americanos tinham me dado em Andrelândia, como presente por ter entrado no seminário, que descobri. Tinha um profeta no antigo Testamento que era chamado de Nehemiah (para nós Neemias) e que se pronuncia NIEMAIER em inglês.


Bem, isto é homenagem? Que o seja. Se estivesse vivo ele iria me perdoar.




2 comentários:

  1. Excelente matéria, sem aquelas bajulações de jogar confete, com uma dose de realidade, que é de sua peculiaridade, pois como já dia o filósofo Buffon "O Estilo é o homem"


    Antônio Carlos Faria Paz.

    ResponderExcluir
  2. Muito interessante a sua crônica sobre "Niemaier".Não sabia da existência desse vocábulo em inglês.
    Abraço da
    Graça Rios

    ResponderExcluir