Gosto de ler tudo. Até bula de
remédio, sobretudo quando não quero tomar : bulas não são incentivadoras.
De formação católica, abro-me ao conhecimento religioso de todos os matizes, desde
que inteligentes. Já li tese de pós graduação de pastor luterano, textos
budistas, livro muçulmano (fiz um trabalho sobre Maomé), frases de Confúcio e –
em longa data – escritos espíritas. Atraem-me sobremaneira os livros de ateus,
entre eles, Richard Dawkings e José Saramago e Umberto Eco.Mas existe um tipo de pensador
que me agrada: aquele que repensa seu próprio caminho, reavalia e toma um
atalho pessoal. Frei Cláudio em Belo Horizonte é um deles, cujas ideias batem
com as minhas. Mas há outro: Rubem Alves. Escreve maravilhosamente bem. Espero
que gostem.
Um Deus
que sorri
Rubem Alves
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Eu acredito em Deus!
Mas não sei se o Deus em que eu acredito, é o mesmo Deus em que acredita o balconista, a professora, o porteiro, o bispo ou pastor...
O Deus em que acredito não foi globalizado.
O Deus com quem converso não é uma pessoa, não é pai de ninguém.
É uma idéia, uma energia, uma eminência.
Não tem rosto, portanto não tem barba.
Não caminha, portanto não carrega um cajado.
Não está cansado, portanto não está sempre no trono.
O Deus que me acompanha vai muito além do que me mostra a Bíblia.
Jamais se deixaria resumir por dez mandamentos, algumas parábolas e um pensamento que não se renova.
O meu Deus é tão superior quanto o Deus dos outros, mas sua superioridade está na compreensão das diferenças, na aceitação das fraquezas e no estímulo à felicidade.
O Deus em que acredito me ensina a guerrear conforme as armas que tenho e detecta em mim a honestidade dos atos.
Não distribui culpas a granel: as minhas são umas, as do vizinho são outras. Nossa penitência é a reflexão.
Para o Deus em que acredito, só vale o que se está sentindo.
O Deus em que acredito não condena o prazer.
O Deus em que acredito não me abandona, mas me exige mais do que uma flexão de joelhos e uma doação aos pobres: cobra caro pelos meus erros e não aceita promessas performáticas, como carregar uma cruz gigante nos ombros.
A cruz pesa onde tem que pesar: dentro.
É onde tudo acontece e este é o Deus que me acompanha:
Um Deus simples. Deus que é Deus não precisa ser difícil e distante, sabe tudo e vê tudo. Meu Deus é discreto e otimista.
Não se esconde, ao contrário, aparece principalmente nas horas boas para incentivar, para me fazer sentir o quanto vale um pequeno momento grandioso: de um abraço numa amizade, uma música na hora certa, um silêncio.
O Deus que eu acredito também não inventou o pecado, ou a segregação de credo.
E como ele me deu o Livre-Arbítrio, sou eu apenas que respondo e responderei pelos meus atos.
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