Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Mudou o Natal ou Mudou Minas Gerais?

De vez em quando vou ao fundo do baú e resgato alguma coisa que escrevi no passado. A crônica de hoje, irônica, como de costume, e crítica, para não perder o hábito, vai misturar a época - Natal - com algumas bobagens - entre as milhares - que passam dentro das cabeças dos políticos (o que é um elogio à classe política, visto ser a cabeça dos mesmos naturalmente oca).


Mudou o Natal ou mudou Minas Gerais?
Mário Cleber da Silva


            Originariamente o título deste artigo seria “Triângulo Mineiro ou Farinha Podre”, pois pretendia comentar sobre algumas ideias separatistas que andam surgindo na cabeça do pessoal do Triângulo. Entretanto, como essas notícias são veiculadas invariavelmente no final do ano, época do Natal (já em dois ano consecutivos), aproveitei para parafrasear a célebre “Mudou o Natal ou mudei eu? - reforçando um sentimento que tomou conta de mim nestas últimas férias.
            Minas Gerais está se descaracterizando. É uma triste constatação de alguns jornalistas mineiros. E não é por causa das enchentes. Vejamos como isto está se procedendo.
            Há anos que a região da Mata, onde se situa Juiz de Fora e a minha cidade, Andrelândia, pretende se transferir de mala e cuia para o Estado do Rio de Janeiro. Se você quiser elogiar alguém de lá, é só perguntar se Juiz de Fora pertence ao Rio de Janeiro. Até o sotaque carioca, puxando o “s”, está amplamente imitado. Em Andrelândia, qualquer um que viajasse para Barra Mansa voltava falando, “Não me enche o xaco, eu “Extou felix”. De modo que aquela banda de lá está praticamente perdida para os cariocas.
            O norte de Minas, que até o século passado pertencia à Bahia, tem inequívocas influências do povo baiano não só no sotaque – fala-se muito abertamente por lá: “felicidade” (com o primeiro e fechado: ê) vira “félicidade” , com é aberto- , como também em usos e costumes. A alimentação é mais apimentada e, mais, as imagens televisívas de Antônio Carlos Magalhães Neto estão mais presentes do que as do governador mineir. Na região de Juiz de Fora e adjacências, os canais são todos cariocas.
            As cidades vizinhas ao Espírito Santo, tirando algumas querelas históricas, ficam mais próximas de Vitória do que de Belo Horizonte.
            Quem anda por Poços de Caldas, Pouso Alegre e Itajubá pensa estar entrando em território paulista, desde o sotaque “dê” de “boa tardê” com o “r” carregado, até os programas de TV e as compras na capital bandeirante. Tudo ali é São Paulo.
            E agora vem o Triângulo Mineiro – antigamente chamado de Farinha Podre – querer se desvencilhar de Minas Gerais! (Para quem está curioso com este apelido de “farinha podre”, eis a explicação: dizia-se que na época de desbravamento do Triângulo os exploradores enterravam a farinha no solo para recolhê-la quando voltassem e, ao retirá-la do solo, encontravam-na apodrecida). Ora, e por que este súbito interesse em virar um estado independente? A distância da capital mineira, afirma a nota publicada em anos passados em  jornais . Venhamos e convenhamos que esta é uma bela desculpa, e sem pé e nem cabeça. Se fosse por causa de distância, o Rio Grande do Sul poderia querer se tornar um Estado independente do Brasil, pois fica longe de Brasília (aliás a vocação separatista de gaúcho é sobejamente conhecida). E o Amazonas, o Acre e o Rio Grande do Norte?! E que imensa distância seria essa? Uns míseros 800 quilômetros. Ora, ora, quem sair cedo de carro vai chegar a Belo Horizonte à tardinha ou no começo da noite. Além do mais, a viagem é toda feita em asfalto, e não em lombo de burro ou em estradas empoeiradas ou lamacentas. Essa desculpa de distância não cola. O que é preciso é manter as tradições mineiras, retornar o elo perdido com o passado, voltar para as próprias origens e raízes. Ou, então, formar mesmo um Estado independente e que tenha, pelo menos, o nome que já recebeu no passado: “Farinha Podre”, cuja capital seria Barretos. Ah, Barretos, não. Barretos é uma das três grandes cidades do Triângulo Mineiro começada com B. As outras duas são “Beraba” e “Berlândia”.
           


Um comentário:

  1. Minas não pode perder suas características. Moro em Itapecerica, décimo município das Minas Gerais, da era colonial. Pena que também já se está descaracterizando, como tudo no Brasil, pois que é um País sem memória. Excelente crônica, como sempre!
    Antônio Carlos Faria Paz.

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