Mudou o Natal ou mudou Minas Gerais?
Mário Cleber da
Silva
Originariamente o título deste
artigo seria “Triângulo Mineiro ou Farinha Podre”, pois pretendia comentar
sobre algumas ideias separatistas que andam surgindo na cabeça do pessoal do
Triângulo. Entretanto, como essas notícias são veiculadas invariavelmente no
final do ano, época do Natal (já em dois ano consecutivos), aproveitei para
parafrasear a célebre “Mudou o Natal ou mudei eu? - reforçando um sentimento
que tomou conta de mim nestas últimas férias.
Minas Gerais está se
descaracterizando. É uma triste constatação de alguns jornalistas mineiros. E
não é por causa das enchentes. Vejamos como isto está se procedendo.
Há anos que a região da Mata, onde
se situa Juiz de Fora e a minha cidade, Andrelândia, pretende se transferir de
mala e cuia para o Estado do Rio de Janeiro. Se você quiser elogiar alguém de
lá, é só perguntar se Juiz de Fora pertence ao Rio de Janeiro. Até o sotaque
carioca, puxando o “s”, está amplamente imitado. Em Andrelândia, qualquer um
que viajasse para Barra Mansa voltava falando, “Não me enche o xaco, eu “Extou
felix”. De modo que aquela banda de lá está praticamente perdida para os
cariocas.
O norte de Minas, que até o século
passado pertencia à Bahia, tem inequívocas influências do povo baiano não só no
sotaque – fala-se muito abertamente por lá: “felicidade” (com o primeiro e
fechado: ê) vira “félicidade” , com é aberto- , como também em usos e costumes.
A alimentação é mais apimentada e, mais, as imagens televisívas de Antônio
Carlos Magalhães Neto estão mais presentes do que as do governador mineir. Na
região de Juiz de Fora e adjacências, os canais são todos cariocas.
As cidades vizinhas ao Espírito
Santo, tirando algumas querelas históricas, ficam mais próximas de Vitória do
que de Belo Horizonte.
Quem anda por Poços de Caldas, Pouso
Alegre e Itajubá pensa estar entrando em território paulista, desde o sotaque
“dê” de “boa tardê” com o “r” carregado, até os programas de TV e as compras na
capital bandeirante. Tudo ali é São Paulo.
E agora vem o Triângulo Mineiro –
antigamente chamado de Farinha Podre – querer se desvencilhar de Minas Gerais!
(Para quem está curioso com este apelido de “farinha podre”, eis a explicação:
dizia-se que na época de desbravamento do Triângulo os exploradores enterravam
a farinha no solo para recolhê-la quando voltassem e, ao retirá-la do solo,
encontravam-na apodrecida). Ora, e por que este súbito interesse em virar um
estado independente? A distância da capital mineira, afirma a nota publicada em
anos passados em jornais . Venhamos e
convenhamos que esta é uma bela desculpa, e sem pé e nem cabeça. Se fosse por
causa de distância, o Rio Grande do Sul poderia querer se tornar um Estado
independente do Brasil, pois fica longe de Brasília (aliás a vocação
separatista de gaúcho é sobejamente conhecida). E o Amazonas, o Acre e o Rio
Grande do Norte?! E que imensa distância seria essa? Uns míseros 800
quilômetros. Ora, ora, quem sair cedo de carro vai chegar a Belo Horizonte à
tardinha ou no começo da noite. Além do mais, a viagem é toda feita em asfalto,
e não em lombo de burro ou em estradas empoeiradas ou lamacentas. Essa desculpa
de distância não cola. O que é preciso é manter as tradições mineiras, retornar
o elo perdido com o passado, voltar para as próprias origens e raízes. Ou,
então, formar mesmo um Estado independente e que tenha, pelo menos, o nome que
já recebeu no passado: “Farinha Podre”, cuja capital seria Barretos. Ah,
Barretos, não. Barretos é uma das três grandes cidades do Triângulo Mineiro
começada com B. As outras duas são “Beraba” e “Berlândia”.
Minas não pode perder suas características. Moro em Itapecerica, décimo município das Minas Gerais, da era colonial. Pena que também já se está descaracterizando, como tudo no Brasil, pois que é um País sem memória. Excelente crônica, como sempre!
ResponderExcluirAntônio Carlos Faria Paz.