Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

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sábado, 17 de novembro de 2012

"Olho Gordo" existe?


VOCÊ ACREDITA EM “OLHO GORDO”?

Décadas atrás, li um pequeno,  mas marcante livro: A Psicologia da Superstição. Se eu já não era dado a superstições, depois da leitura do texto, deixei de ser supersticioso (gato preto, passar debaixo de escada, número 13, e outros mais.). /Quanto ao “olho gordo”, aí a coisa muda de figura. O artigo logo abaixo vai colocar duas posições: uma, totalmente contrário à sua existência e outra, a favor.
Acho melhor ficar como o espanhol da piadinha: non creo em las brujas, pero que las hay las hay.

Mesmo quem não acredita no poder do "olho gordo", sabe do que se trata: é o nome que se dá às supostas energias negativas transmitidas por alguém à outra pessoa, por raiva, inveja, despeito e outros sentimentos do tipo. A vítima poderia sofrer seus efeitos em diferentes níveis: de riscar acidentalmente o carro novo a ficar doente. Outros sinais seriam sentir desânimo, cansaço, baixo astral e uma sensação de que, por mais que se batalhe, nada dá certo. Para afastar os efeitos do "olho gordo", muita gente busca proteção com rezas, amuletos, simpatias.
Mas, afinal, "olho gordo" existe? E, se existe, pega? Para Etienne Higuet, professor do programa de pós-graduação em Ciências da Religião da Umesp (Universidade Metodista de São Paulo), primeiro é preciso entender o conceito de superstição: crenças e práticas que não são consideradas válidas pelas instituições religiosas oficiais --que no Brasil são, sobretudo, cristãs-- e tidas ainda como vãs e irracionais pela ciência.

"Acreditar que o olhar de certas pessoas têm um poder mágico vem de um fundo religioso muito antigo e arraigado nas culturas ameríndias, afro-americanas e europeias, especialmente latinas e camponesas, que o cristianismo institucional nunca conseguiu abafar completamente", afirma. Etienne explica que essa ideia subsiste no inconsciente coletivo e, no Brasil, ganha força com a herança das culturas indígenas e africanas, a intensa adesão local ao espiritismo e o sincretismo entre todas as tendências religiosas.
 
Para o especialista da Umesp, o "olho gordo" corresponde à imensa vontade humana de poder controlar o destino. Só que esse desejo encontra múltiplos obstáculos, de modo que qualquer fracasso pode ser facilmente atribuído a pessoas mal intencionadas ou detentoras de forças que elas mesmas não conseguem controlar. "Pode ser um meio de não assumir a responsabilidade por certos fracassos ou acontecimentos, atribuindo o ocorrido a outras pessoas ou a forças irracionais incontroláveis", diz.
 

Suscetibilidades e intenções


Na opinião do psicanalista Leonard F. Verea, especialista em Medicina Psicossomática e Hipnose Clínica, as chamadas energias negativas acabam atingindo quem crê na sua força e no seu poder. "Essas pessoas, em geral, não têm boa autoestima nem valorizam o suficiente as próprias qualidades. A insegurança às torna suscetíveis às opiniões alheias", conta. Para ele, uma forma de se preservar do "olho gordo" seria se transformar no próprio amuleto, fortalecendo o pensamento positivo e a autoimagem.

A intenção de quem supostamente emite energias negativas pode ser consciente ou não. Marta Leopoldo dá o exemplo de quando batemos o dedo numa porta e a chutamos, com raiva. "Essa atitude nada mais é do que dar o troco. É como se quiséssemos que a porta sentisse a nossa dor", diz. A pessoa que emana o "olho gordo" está sofrendo e incomodada, mas nem sempre se dá conta das razões. Ao "secar" alguém e presenciar o outro se dando mal, de algum jeito, ela se sente acolhida e aliviada, pois repartiu sua amargura.

Autossabotagem


Para a psicóloga Marta Rita Leopoldo, especialista em terapia junguiana e pós-graduada em neuropsicologia, nossa mente é extremamente complexa e pode, inclusive, nos boicotar. "Às vezes, por questões inconscientes, achamos que não merecemos determinadas coisas, que vão de bens materiais a relacionamentos amorosos. Abrimos espaço na vida para que as coisas deem errado", declara.
Ela comenta a já citada situação de ralar sem querer o automóvel novinho no portão da garagem. Para ela, no fundo, a pessoa não se sente merecedora de tê-lo. Ao estragá-lo, se sente mais confortável. Ainda segundo Marta Leopoldo, o medo é um fator que atrai as "más vibrações". Vale o mesmo exemplo do carro: o motorista tem tanto receio de lesar o bem que acaba justamente fazendo o que mais teme. "E aí, ao considerar esse acontecimento um sinal de ‘olho gordo’, se sente mais aliviado. 'Pelo menos já aconteceu', é o que pensa no íntimo", fala a psicóloga. O que isso significa? Que talvez o “olho gordo” possa ser produzido por nós mesmos.

Visão da física quântica


Dificilmente a ciência consegue explicar todos os fenômenos –em especial aqueles que supostamente acontecem na mente humana– e deixa uma importante margem para as crenças. Uma premissa da física quântica, no entanto, defende que não só o “olho gordo” existe como pode ser visto em laboratório.

"Para a física quântica, a matéria não é o mais importante. O que importa são os movimentos das energias, questões que vão além daquilo que ocorre no cérebro", afirma a cientista a psicoterapeuta Claudia Riecken, ativista quântica e seguidora do indiano Amit Goswami (uma das estrelas do documentário "Quem Somos Nós?", de 2004), referência mundial em estudos que buscam conciliar ciência e consciência.

Segundo Claudia Riecken, toda intenção gera uma frequência de ondas que altera o campo magnético das pessoas –daquelas que emanam e de quem recebe. "E isso é percebido em exames feitos por neurocientistas, através de mudanças nos fótons [partículas de luz] detectadas no cérebro", conta ela, declarando que não existem fronteiras que atrapalhem os resultados. Assim, o “olho gordo” poderia atingir até quem está no Japão.

Para a cientista, é possível barrar os pensamentos negativos ao trabalhar o próprio campo magnético de energia –através da compaixão, da autoestima, do perdão. "A inveja do outro fisga a sua. O ‘olho gordo’ só pega em quem também o traz dentro de si e quer competir, brigar, disputar", declara. De acordo com Claudia, atacar de volta nunca é o melhor estilo de se defender. 

Uma conclusão é comum entre os especialistas: se existe "olho gordo" ou não, o melhor é não prestar atenção ao redor, mas em si mesmo. Para Etienne Higuet, docente de Ciências da Religião, as pessoas têm razão em acreditar na presença maciça do mal no mundo, especialmente no mal que as pessoas desejam para as outras. "A influência de mentes perversas nunca deve ser superestimada", diz.
 

4 comentários:

  1. Antônio Carlos Faria Paz17 de novembro de 2012 às 03:56

    Excelente matéria para esclarecer melhor as pessoas, de algo que está na mente de cada um. João Paulo II em sua encíclica "Fides et Ratio" (Fé e razão) diz que a ciência convive bem com a fé, de modo que a ciência evita a muitas superstições e crendices, ao ponto que a fé humaniza a ciência e não a deixa cega.
    Antônio Carlos Faria Paz - Itapecerica/MG

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  2. Ao substituirmos o termo "inveja" por "olho gordo", a frase do escritor espanhol Francisco Quevedo pode parecer obscura, contraditória: "O olho gordo é assim tão magro e pálido porque morde e não come". Bom mesmo se olhares fossem aqueles defendidos por Dalai Lama, de empatia, generosidade, compaixão. Cleber, grande abraço e parabéns pelo sucesso de sua filha. Etelvaldo.

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    1. Salve Etelvaldo. Quando vi que tinha duas frases no texto, pensei: só pode ser o Etelvaldo. Um grande conhecedor de frases. Já imaginou escrever um compêndio de frases?
      Realmente, a Denise foi longe.
      Cleber

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