Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

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terça-feira, 15 de novembro de 2011

Inversão de Papéis

A Secretaria da Mulher do Governo Dilma criou uma boa celeuma recentemente ao tentar - despoticamente, viés característico do partido no poder - proibir uma propaganda com Gisele Buntchen.Voltou atrás. Isto me deu a chance de buscar em meus alfarrábios algo escrito há dezenas de anos.Eis o artigo/comentário:

Inversão de Papéis


            As mulheres, de há algum tempo para cá, muito justa e sabiamente estão reclamando um direito que lhes pertence: o de serem tratadas como seres humanos. Realmente, pelo que se tem visto nas sociedades capitalistas e patriarcais, o papel da mulher tem sido relegado a um segundo plano ou mesmo visto como objeto de cama e mesa. E adorno também. Os tempos estão mudando e o movimento pela libertação da mulher – ao lado do movimento de libertação de outras melhorias étnicas, religiosas e sexuais (no caso de gay people) – se alastrou pelo mundo todo. Como todo movimento, teve seus extremismos, por exemplo, Betty Friedman e algumas líderes feministas pagas pela Cia para conturbar a revolução de Khomeini, acusando-o de porco chauvinista e assassino. Talvez o seja (não duvido), mas onde estavam as líderes feministas para reclamar polícia política do Xá, a terrível Savak? A coerência (ou a busca da mesma) acima de tudo.
            Aqui também no Brasil alguns passos foram dados neste sentido. Veja por exemplo a psicóloga e sexóloga Shere Hite que acabou tendo proibido o seu relatório entre nós. Ou mesmo na televisão, com a famosa rede Plim Plim apresentando um supostamente programa feminino ou feminista: Malu-Mulher, em que temas tabus, como aborto e pílula, são abordados. Não levando em conta a própria mensagem do programa: o desquite visto pelo lado da mulher. Telespectador viciado, acabei me deparando com algumas cenas televisivas que me deixam pensativo e pensando na modificação profunda que pode ter nas pessoas a inversão de papéis. Vejamos, os exemplos.
            Escondido em todo o coração de mulher está o sentimento materno. (Também o homem poderia, em tese, ter tal sentimento: dar uma de maternal em cima dos outros; porém como o chauvinismo e o machismo trabalham contra o próprio homem, tal sentimento é proibido). Então o que se deve fazer uma agência de propaganda para atingir a dona de casa num assunto que lhe diz respeito, a limpeza? Coloca um jovem, magro, todo frágil e desajeitado para vender sabão, detergente e outras coisas mais, justamente para despertar aquele sentimento de piedade nas mulheres. Pode-se dar ao luxo sádico de rir do “garoto”, quando ele escorrega o cotovelo e quase cai.
            Num outro comercial vemos um homem forte, destes que não titubearíamos em chamar de machão, tipo Mister Universo, varrendo com todo gosto uma copa-cozinha e falando da importância do detergente que ele usa. A mulher, creio que pintando as unhas (ainda o ranço preconceituoso – ela poderia, por exemplo estar trabalhando),  diz com uma voz fresca e estúpida: ele é tão forte!
            Uma agência de publicidade teve seu anúncio muito criticado por setores mais tradicionais da sociedade: era a do leite fresco. Um homem bem vestido, seguro de si, acaba desmunhecando no fim, quando descobre que as vozes (maioria feminina) chamam de “fresco” não a ele, mas ao leite. Enfim, o homem é fresco.
            Uma linda jovem loura (agora é o preconceito com as morenas: mulher tem que ser nórdica) é paquerada (de novo) quando  ele está vendo umas roupas penduradas num cabide bem alto e comprido. Ela sorri, sorri (compreensivamente? estupidamente? em conluio?) e quando aparece toda no vídeo tem ao seu lado um homem feio, careca, baixo e de óculos. O outro engole em seco.
            E finalmente, outra preciosidade do vídeo. Um outro garoto propaganda, jovem, magro, delicado, feio (com um queixo de fazer inveja a um jumento) e de voz horrorosa fala maquinalmente sobre as qualidades de um aspirador de pó. Fala delicadamente e no fim (seria para recompensar o bonequinho? o pobrezinho?) vem uma mulher (loura pra variar) e vupt pega-o no colo e o leva, ele satisfeito da vida.
            Não diria que “há algo de podre no Reino da Dinamarca”, mas que os valores estão sendo contestados e sem qualquer perspectiva de como substituí-los e que uma inversão pura e sistemática dos papéis pode confundir muito “carinha"  por aí, ah, isto eu digo.

Mário Cleber Silva
16/09/1979. 


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