De todas as cidades em que vivi, Belo Horizonte é a mais querida. Passo agora, para os que acompanham este blog, a pungente crônica sobre a capital dos mineiros.
Pobre de ti, Belo Horizonte
Pois bem, de lá para cá tudo se transformou.
Já não ouço os sinos da catedral ou da Igreja São José, com os ouvidos ensurdecidos pelo barulho de motos e carros envenenados.
Já não vejo janelas e portas abertas. As primeiras têm grades: as segundas estão cobertas por muros altíssimos. Cachorros de maus bofes rondam as casas. Já não é a mesma esta minha Belo Horizonte.
Onde estão os teus meninos?
Nos sinais de trânsito, vendendo frutas. Roubando colares das velhas senhoras. Assaltando idosos no meio da rua. Mendigando nas portas dos cinemas, na entrada das lanchonetes. Tomando conta de carros (senão, riscam-nos). Jogando nas casas de videogame, naquelas máquinas infernais. Uns cheiram cola de sapateiro; outros, drogas mais fortes. Alguns morrem atropelados enquanto saqueiam caminhões acidentados nas rodovias, em busca de comida. Têm fome. Assim como aqueles que brigam por frangos (vivos) de uma carreta tombada.
Onde estão teus adolescentes?
Os miseráveis, fazendo o mesmo que os meninos (pilhando, atacando, implorando); os abastados, entulhando os shoppings na paquera descompromissada.
Onde estão teus homens e tuas mulheres?
Desempregados, sem escola para pôr os filhos, com os barracos invadidos pela água da chuva, com suas posses (míseras posses) levadas pela enxurrada e pela lama. Ou em direção ao emprego mal remunerado, presos no trânsito engarrafado.
Enquanto isto, roubam tuas casas. Assaltam teus apartamentos. Seqüestram tuas crianças. Pipocam greves. Os motoristas, os empregados públicos, os médicos, os petroleiros... Greve a-Deus-dará.
Vive-se sobressaltado, amedrontado, preocupado. A qualidade de vida se deteriora.
Teus velhos, abandonados, jogam dama na Praça Sete, sobrevivendo com salários miseráveis.
O centro está coalhado de gente. Vendedores de bugigangas mil fazem de tuas ruas um imenso mercado persa, sem tapetes, mas com produtos paraguaios.
Pobre de ti Belo Horizonte. Teus filhos sofrem. Não mais se alegram, não caminham tranquilamente pelas tuas praças e avenidas.
Há algo de triste no ar.
Há algo de triste na terra.
Belo Horizonte não é mais a cidade vergel, a cidade jardim.
Choro por ti, ó minha pobre Belo Horizonte.
Caro Cleber,
ResponderExcluirParabéns pela sua entrada na vida de blogueiro. Faço votos que tenha sucesso e consiga mantê-lo atuante.
Na apresentação, você mostra o saudosismo pela nossa Belo Horizonte. Mas há mais. Internamente, no espírito da cidade, vemos o desmoronamento da Vida. O que era social hoje é uma arena, onde as pessoas se entregam a disputas frívolas, sem objetivos. Os corpos sem mente própria são movidos pela mídia corporativista. O modismo impera; não há individualidade. Ás drogas estão em plena ascensão,indlusive a pior delas: o consumismo.
Seja benvindo. Maurício