Quantas frustrações podemos ter se reforçamos este lado romântico
do amor! Vejam este texto de Regina Navarro.
Pessoas pensam que encontraram o grande amor de
suas vidas e depois ficam chocadas e
decepcionadas.
Muitas vezes, até em
relações duradouras, ouvimos a descrição do parceiro amoroso de alguém como
sendo uma pessoa maravilhosa, bonita, inteligente, carinhosa e nos sentimos
constrangidos quando somos apresentados a ela. É comum não possuir
absolutamente nenhuma das características atribuídas pelo outro.
O amor romântico é
construído em torno da projeção e da idealização sobre a imagem em vez da
realidade. A pessoa amada não é percebida com clareza, mas através de uma névoa
que distorce o real. Os amigos dizem: “O que ela viu nele?” ou “O que ele viu
nela?” Porque eles veem a pessoa, enquanto você vê a imagem idealizada do
outro.
Entretanto, para se
manter envolto na névoa que cobre o amor romântico depois de algum tempo de
relação, é necessário que o outro corresponda, evitando qualquer intimidade
real, se calando sobre os pensamentos e sentimentos mais íntimos, bem como
mantendo um certo afastamento físico.
As pessoas sempre
souberam disso. Até alguns anos atrás, o argumento que as mães usavam para
controlar o namoro de suas filhas era de que qualquer intimidade física antes
do casamento faria o rapaz perder o interesse pela moça. Parece que não havia
preocupação quanto ao depois. Aí já estariam casados e tudo tinha que ser
suportado. Ainda hoje encontramos defensores da falta de intimidade física para
adiar o desencanto.
O autor americano Robert
Johnson, em seu trabalho sobre o amor romântico, uma análise de como esse
sentimento tão valorizado entre os ocidentais afeta a vida das pessoas. O amor
romântico não resiste à intimidade porque a relação não é com a pessoa real, do
jeito que ela é. O “apaixonado” centraliza o seu ser na ilusão do romance,
acreditando que vai encontrar a si mesmo e a vida em toda a sua plenitude. Mas,
como a magia nunca dura e a idealização do outro acaba, surge o desencanto.
Nessa quebra de encanto, começamos a perceber que a pessoa amada e as projeções
colocadas nela são realidades distintas.
A convivência torna
evidentes as diversas características de personalidade da outra pessoa. Seu
jeito de ser e de pensar, como também sua generosidade ou seu egoísmo, sua
coragem ou suas inseguranças, por exemplo. Alguns aspectos nos causam
admiração, outros repúdio, mas de qualquer forma não conseguimos mais perceber
o outro tão maravilhoso e idealizado como no início da relação. As nossas
projeções sofrem a interferência da realidade.
Qualquer transgressão à
ordem social estabelecida é imediatamente perdoada se for em nome do amor.
Todos torcem para que o amor supere tudo e sempre vença. Ao mesmo tempo, estão
todos dispostos a reconhecer que a paixão é uma forma de intoxicação, uma
doença da alma como pensavam os antigos. Na era de Hollywood ninguém quer
acreditar nisso. Estamos todos mais ou menos envenenados.
Inegavelmente, o amor
romântico tem seu próprio tipo de excitação, temporária por natureza. Enquanto
estamos apaixonados por alguém, o mundo se reveste de tamanho significado que a
cada encontro somos transportados para fora da realidade e cria-se um estado de
exaltação. É como se uma parte que nos faltasse nos tivesse sido devolvida,
sentimo-nos enaltecidos, como se de repente tivéssemos nos elevado acima do
mundo comum.
Existe uma expectativa
no homem e na mulher de que o amor revele algo sobre eles mesmos ou sobre a
vida em geral. A paixão é sempre uma aventura. Transforma a vida de cada
pessoa, enriquecendo-a de novidades, riscos e prazeres.
As características do
amor romântico são inconfundíveis. O êxtase e a agonia que nos causam tornam a
vida emocionante, nos dando essa sensação de transcendência. Para se manter
nesse estado de plenitude, homens e mulheres exigem coisas impossíveis de seus
relacionamentos: nós realmente acreditamos inconscientemente que o outro tem a
obrigação de nos manter sempre felizes, de tornar nossa vida significativa,
vibrante, plena de encanto.
Mas, quando nos
desapaixonamos, o mundo instantaneamente parece desolado e vazio apesar de, em
alguns casos, continuarmos ao lado da mesma pessoa que antes nos propiciava
tanta felicidade.
Em nossa cultura, o
romance está em toda parte. A literatura, os filmes e músicas o expressam em
abundância. Ficamos dramaticamente encantados quando o romance está no pleno
vigor e desesperados quando ele acaba. Todo um conjunto de verdades sobre o
romance nos é oferecido. Inconsciente e automaticamente, nós o aceitamos sem
discutir e ficamos profundamente irritados quando alguém o faz.
Excelente tema para nos instigar a pensar e repensar...gostei!!!
ResponderExcluirAntônio Carlos Faria Paz - Itapecerica/MG
Nossa, muito profundo esse texto!!! Carambaaaaa!
ResponderExcluirA gente passa, normalmente, por todas essas fases no relacionamento!!!
Mas o grande encantamento da vida talvez seja exatamente essa coisa lúdica, meio infantil, que te faz sonhar... viajar pelos mundos afora... E a doce esperança de que um dia haverá um único e verdadeiro amor, que viverá ou sobreviverá para além da vida!!! Amor romântico ou amor pé no chão... Com paixão ou morno ou apenas bom... Amor adulto, maduro... Não sei se não vale a pena correr perigo, perigo!!! rsrsrs Claro que com o mínimo ou máximo de juízo!
Excelente texto! Parabéns por ousar acrescentar conhecimento e instigar-nos a repensar nossas vidas e relacionamentos!