IDADE E MUDANÇA DE HUMOR – ajudar os pais que envelhecem sem nos
desgastar.
Mário Cleber da Silva.
Este é o título de um pequeno, mas importante, livro, escrito por
Claudine Badey- Roddriguez que vai passar ao leitor dicas de como lidar com os
pais que envelhecem.
Com linguagem clara, começa
falando da chegada da aposentadoria. Algo tão importante na vida de alguém. Positivo (meu caso e de alguns que conheço), ou negativo (infelizmente para a
maioria). Entrar na aposentadoria representa para grande parte dos adultos o primeiro passo para a
velhice. E onde o humor de nossos pais se altera.
É um momento de grande fragilidade para eles. Implica
forçosamente mudanças e, muitas vezes, modificação do humor.
Que eles não se tornem “Jaques”: “Já que” você não tem nada que
fazer, faça isto para mim”. Não se tornem babás sujeitos à disposição dos
filhos. Os pais têm o direito de aproveitar a vida e sem nenhuma obrigação de
cuidar de netos. Se os pais se fecham dentro de si mesmos, talvez estejam
necessitando deste momento para digerir
a nova situação, para enfrentar o "luto" do fim do trabalho, das amizades na emmpresa.
É difícil vê-los envelhecer. Este envelhecimento nos atropela às
vezes. Aqueles valorosos, destemidos, trabalhadores e dedicados pais vão
desaparecendo. E isto nos faz mergulhar em questões pessoais. Como vai ser o
meu envelhecimento?
Para nossa sociedade, velhice é um naufrágio e não idade de sabedoria.
Nosso próprio medo de envelhecer nos leva a aceitar mal o envelhecimento de
nossos pais. É o espelho de nosso futuro. E muitas vezes somos,
equivocadamente, levados a acertar as contas com eles: foram exigentes, nos
abandonaram, foram relapsos? Agora, eles me pagam. Isto não é uma boa idéia.
Neste momento. Evitar o contato, ou mantê-lo minimamente é preferível ao
confronto. Que pode provocar grande culpa.
E podem surgir das cinzas as rivalidades fraternas – até, às
vezes, com cumplicidade dos pais (“sua irmã vem mais aqui; sempre gostei do
fulano; ele continua falando mal de você”). Cuidado com esta armadilha.
Também é difícil para eles perceberem o próprio envelhecimento, a
diminuição de suas faculdades físicas e mentais, com medo da solidão e até de
ficar “caduco”.
A velhice é uma longa crise, difícil de viver e com poucos
benefícios. Para se proteger, eles usam de vários mecanismos: negação à
regressão. Se seus pais não suportam as frustrações da velhice, ajude-os a
falar sobre isto. Se ele perdeu o interesse por aquilo de que tanto gostava,
tente com delicadeza apresentar novos interesses.
Muitas vezes eles se tornam, ao envelhecer, tudo aquilo que não
gostaríamos de acontecer conosco se chegarmos lá: ranzinzas, negligentes,
egoístas, agressivos, críticos, queixosos. Como agir diante de tudo isto? O que
fazer? Certa distância, às vezes, é necessária. Baixa autoestima pode provocar
estas coisas também. Uma terapia – onde alguém vai ouvi-los sem crítica – seria
aconselhável. Para você também, se for necessário.
E se morre um deles?
Palavras como tristeza, suicídio, etc, podem vir à tona. É preciso ficar vigilantes. Quando os
pais precisam de ajuda constante, isto acaba pesando muito em nossas vidas. Há
um grande risco de nos esquecermos de nós mesmos e de colocar nossa saúde e até
mesmo o casamento em perigo.
A culpa que às vezes se instala dentro de nós nos faz agir sem
pensar. Antes de nos comprometermos com algo sério, complicado e pesado, como
convidá-los a morar conosco, precisamos ver bem o impacto disto sobre nós e
como modificará nossa vida. Não nos precipitemos em levá-lo (la) para nossa casa.. Deixar bem claras certas
regras de convivência.
Não ficar totalmente esgotado para encontrar outras soluções, como
pedir ajuda de parentes ou até profissionais, compartilhar com outros.
Estabelecer limites, por exemplo, para o excesso de telefonemas e
a toda hora.
Os velhos criticam muito e nossos pais vão aproveitar este deixa.
O que fazer? Enquanto nos criticam ou dizem coisas desagradáveis sobre nós, na
nossa cara, pensemos em elogios que recebemos de outras pessoas, amigos,
vizinhos, namorado ou namorada, ou até mesmo do companheiro. É uma forma de
tomar distância.
E o asilo ou casa de repouso? Discutir este assunto previamente
seria o ideal, ainda que difícil. Mas
nunca fazê-los acreditar que vai ser provisório, mentindo. Eles vão perder a
confiança nos filhos.
Cuidado com promessas
feitas em momentos terríveis, como na morte de um dos pais. Fuja disto. Diz que
vai fazer todo o possível de “ajudar o pai ou a mãe a viver com tranqüilidade,
segurança e sossego”.
Se o humor de nossos pais piora, temos que usar de algumas
atitudes:
- ser autêntico. Não dizer sim, quando quer fizer não. Cuidado com
a linguagem não verbal.
- Dizer o que sentimos, na hora que sentimos. Se os pais,
constantemente, atrasam para alguma coisa e nos atrapalham, tem que ser dito
isto. Nada de eufemismo. Eles não são incapazes. Nada de falar com eles como se
fossem crianças.
- Falar para ser entendido. Isto é, claramente, não use de
subterfúgios e nem dê respostas evasivas. Explique claramente porque você não
vai passar o final de semana com eles. Nada de desculpas esfarrapadas.
- Respeitá-los. Não aproveitar a fragilidade e ser autoritário ou
mandão com eles.
DOIS PONTOS IMPORTANTÍSSIMOS que ficam claro no livro:
- Faça o que você puder. Não exagere e nem prometa “mundos e
fundos”. Como disse um velho na casa de repouso: “Fazer o que podemos é fazer o
que devemos”.
- Cuidado com a culpa. Perigosíssima e razão de muito sofrimento.
Não deixe que ela se instale dentro de você. Ainda que tenha que procurar ajuda
psicológica para lidar com isto. Faça tudo que puder para você ficar bem. Se
você não ficar bem isto não vai ajudar nada aos pais. Vai atrapalhá-los mais
ainda.
Postagem muito interessante e atual. Saber lidar com o declínio dos anos e a própria aposentadoria requer sabedoria, bom senso e lucidez.
ResponderExcluirAntônio Carlos Faria Paz. Itapecerica/MG