Segundo o site http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/204387 o “Auto é uma peça de teatro curta comumente em um ato (auto), cujo assunto pode ser religioso ou profano, sério ou cômico. Os autos tinham a finalidade de divertir, de moralizar ou difundir a fé cristã. No Brasil eram apresentados, na maioria das vezes, ao ar livre.
AUTO DE NATAL – 2013.
(Peça em um único ato.)
(O palco está iluminado, enfeitado com símbolos
natalinos. A um canto, Papai Noel, vestido com roupa vermelha, barbas brancas,
gorro na cabeça, prepara as renas e os embrulhos de presentes no trenó para
começar a distribuição.)
- Lá vamos nós, minhas queridas – diz alegremente
para os animais.
- Alto lá – grita uma voz no fundo do palco. Uma
mulher se aproxima. – Sou da Associação Protetora dos Animais e queria saber se
o senhor tem licença para explorar estas renas.
- Mas nunca precisou – retorquiu o bom velhinho. – E
não estou explorando.
- Agora é preciso. – fulminou a mulher de maus
bofes. – Se até os beagles seqüestramos do laboratório, essas renas, vai ser
moleza... Sem ela o senhor não sai. Licenciar é preciso – falou revelando seu
lado poético.
- O que está havendo aí? – um guarda de trânsito,
sem nenhuma preocupação com as manifestações gigantes que pipocam por toda
parte, apita e entre na roda. – O Senhor está atravancando o tráfico...
- Não seria “tráfego”? São renas e não helicóptero.
- Que seja – concluiu o homem do apito. - E ainda por cima nesta época do Natal.
- Mas por isto mesmo – respondeu alegremente o homem
de falsas barbas brancas. – Eu sou o Papai Noel.
- Como? – indagou um terceiro homem (a esta altura,
o palco estava cheio de gente e todo mundo em cima do velhinho) – O senhor é
autônomo? Já pagou o ISS na prefeitura? Mostre-me o carnê. Quero ver o carnê. Vai ver que o senhor subornou os fiscais da prefeitura.
- Serve o do Baú da Felicidade ? – (Desconfio que
esta papai Noel é irônico e sarcástico).
- Nananinanão – brincou o fiscal – sem o carnê, o
senhor não pode trabalhar e nem entrar nas estatísticas de emprego que o
governo gosta de mostrar.
- Por falar nisto o senhor recolhe o INSS? – ouviu-se
outra voz irritada.- Vai ver que está dando golpe na previdência. Não chega os
grandes atravessadores?
- Mas, calma aí, gente – ponderou o velho -. Deve estar
havendo engano. Sou um simples papai Noel que todo ano distribui pacotes de
presentes para a meninada...
- Pacotes? Você é do governo querendo mais um pacote
para salvar a economia? Somos da oposição e somos contra.
- E essa roupa vermelha? Vai ver que é petista. –
uma mulher furiosa, como todos os antipetistas, brandia uma sombrinha molhada
de chuva. - Vai ver que é comunista.
-Ô,ô, ô,ô,ô. Que é isto, minha senhora? Sou vermelho por fora,
mas amarelo por dentro.
- E esta barba? Ou é petista de carteirinha, ou tem
medo de barbeiro e deve procurar um psicólogo ou quer aumentar a fila dos
desempregados entre os barbeiros? – um homem de avental branco, com pente e
tesoura na mão, gritava histericamente.
- Vai ver que é hippy.
- Ou espião russo disfarçado.
- Ah, não, o Obama já teria grampeado o celular dele.
- É travesti.
- Olha o respeito... – falou bravo o velhinho de
roupa vermelha.
- Respeito , por que? Por acaso você é homofóbico?
- Nada disto - ele retrucou veementemente.- Nos Estados Unidos eles me chamam de Santa...
- Afinal, você tem uma Mamãe Noel ou um Papai Noel?
- Nada disto - ele retrucou veementemente.- Nos Estados Unidos eles me chamam de Santa...
- Afinal, você tem uma Mamãe Noel ou um Papai Noel?
- Viva o Gordo – berrou alguém do grupo,
evidentemente bêbado, com uma garrafa de Cidra na mão.
- Cala a boca - gritaram várias pessoas. – Isto aqui
não é programa de TV.
- Pera aí, pera aí – contemporizou o bom velhinho. –
Eu sou o Papai Noel e trago presentes para as crianças.
- Pedófilo! – asseverou uma mulher.
- Por acaso tem criança aqui?
Todos olham para um lado e para o outro e não vêm criança alguma.
- Onde estão as crianças?
- Vendo Xuxa, desenho animado na TV ou com os
celulares no ouvido – falou novamente o bêbado.
- Calados! – era o guarda de trânsito que elevou a
voz. – Ele está certo. Trouxe presentes para as nossas crianças. Deixemo-lo
passar... Afinal, estamos na época do Natal.
Todo catita e alegre, Papai Noel subiu no trenó,
afagou as renas e já ia dizer as palavras mágicas que as fazem voar quando
ocorreu uma confusão danada, uma gritaria e outro ajuntamento. Uma voz ficou
alterada:
- Xi, agora ele está perdido.
De fato, um homem, de terno escuro, segurando uma
lista enorme se aproximou do trenó e disse diante do silêncio geral.
- Sou do Ministério número 40 do Governo. O senhor é o
Papai Noel?
- Sim – respondeu ele alegremente.- Sou eu mesmo.
- Pois o senhor está acabado. O senhor é um supérfluo
e dentro de nossa revolução bolivariana esquerdista comunista o senhor não existe.
(Pano rápido e fim do auto. Ao fundo ouve-se Anita
cantando).
Prepara, que agora é a hora
Do show das poderosas
Que descem e rebolam
Afrontam as fogosas
Só as que incomodam
Expulsam as invejosas
Que ficam de cara quando toca
Prepara
Prepara, que agora é a hora
Do show das poderosas
Que descem e rebolam
Afrontam as fogosas
Só as que incomodam
Expulsam as invejosas
Que ficam de cara quando toca
Prepara
Hilário e criativo! Gostei!
ResponderExcluirAntônio Carlos Faria Paz.Itapecerica/MG