Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

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sexta-feira, 1 de julho de 2011

Por falar em Porcos

Este foi um dos primeiros artigos meus a ser publicado no jornal Dia e Noite em São José do Rio Preto, no final dos anos 70 do século passado. O governo do momento - não muda, sempre tem ideias idiotas - queria proibir a criação de porcos no quintal. Foi um auê danado, mas, apesar de não se ter criado nenhuma Associação de Proteção aos Criadores de Porcos e nem a Socieade Protetora dos Animais ou a Secretaria dos Direitos Humanos terem saido em defesa ou dos porcos ou dos humanos, o assunto morreu logo. E, em nossos dias atuais  surgiu a peste suina, então o artigo fica atual

Por falar em porcos...


As últimas declarações do ministro da Agricultura me deixaram num conflito terrível. “Só será permitida a criação de porcos em ambientes limpos e higienizados.” Logo agora que eu queria criar uns porquinhos no fundo do meu quintal! Porque afinal, os porcos têm seu valor. Se levarmos à risca a declaração do ministro, jamais poderemos xingar alguém de “porco”,pois aí estaríamos elogiando: “Puxa, como você é limpinho e higiênico. E as mães, coitadas, não poderiam mais falar para os filhinhos que chegam da escola bem imundos: “Hoje você está parecendo um porquinho. Quer dizer, seria uma mão-de-obra danada. Teríamos de apelar para o Aurélio para que nos arrumasse outro vocábulo.
Mas falei, falei e não disse o meu problema. Pois bem, estava pretendendo criar um porco, ou mesmo um casal (ninguém é de ferro, principalmente o porco), no fundo da minha casa. Com o preço do boi em pé, deitado, morto ou vivo, teríamos de apelar para outros tipos de carnes. Nesta ocasião, o rango voa, isto é, o preço. O peixe anda muito contaminado, coitado. É maré vermelha, mercúrio, barragens e mais barragens. Os animais domésticos ainda não foram sacrificados; por exemplo, o gato e o cachorro. Dizem as más línguas que carne de cavalo anda a galope, isto é, à solta por aí. Entretanto, vai um aviso aos navegantes: não me falem em cavalos. São animais nobres (ou de nobres). Enfim, teríamos de apelar para os insetos caseiros:
Moscas, mosquitos, baratas. Ah, ia-me esquecendo: segundo cálculos paulistas, há cinco ou oito ratos por habitante da grande São Paulo. Seria uma boa?
Voltando ao meu caso, faria economia com o meu casal de porcos. Os restos das comidas familiares seriam um lauto jantar para os dois. Os porquinhos não enjeitariam alguns petiscos como carne, salsicha ou presunto estragados, e nos livrariam de doenças. (O preço da consulta médica está pela hora da morte!) E, depois, o tempo livre do casal seria preenchido com efusões amorosas, e logo, logo, eu teria alguns porquinhos a mais. (A vantagem é que nunca vem só um, não.) Então surgiria outra grande economia: os brinquedos para as crianças estão valendo uma fábula (com bruxa e tudo), e nada melhor do que um porquinho de alguns dias para um brinquedo útil, educativo. (Até orientação sexual seria possível com eles.) E olha que elas não precisavam ver um porquinho que fala na televisão chamado Rabicó (aliás, não sei como não o mataram, com esta peste suína que assola o País de norte a sul, do Oiapoque ao Chuí) . Se bem que desconfio que o Minotauro era um fiscal da saúde disfarçado que queria degolar o pobre do Rabicó. Bom, então como vou ficar? Mais tarde, quando os filhinhos do casal já estivessem crescidinhos, far-se-ia a matança (um de cada vez) dos porcos, e teríamos toucinho e banha ( o óleo de soja está ou subindo de preço ou sumindo dos supermercados), uma linguicinha jóia para saborearmos com tutu à mineira (não sei se poderíamos colocar couve, por causa dos pesticidas e adubos), uma costelinha deliciosa, um lombo assado, um chouriço, isto sim, uma coisa que a gente não come há décadas (no meu caso). Ah, e o cerimonial para matar o porco? Seria uma festa na rua. Depois de morto, seria coberto por palhas (haja milho!), e sapecaríamos fogo nas ditas.
Enfim, tudo perdido. Nada se poderá fazer.
Mas duas perguntas ficam me martelando a cabeça (a minha, não, a do porco). Primeira: Se criamos há tanto tempo os nossos porcos em fundos de quintais e sem “higiene”, por que só agora surgiu a peste suína africana? Segunda: Não seria melhor que se proibisse a existência de gente em lugares insalubres, pouco higiênicos? Daqui a pouco teremos a peste homínica, se continuar do jeito que está.
Ah, ia-me esquecendo: a bexiga do porco dá uma bola fantástica para as peladas no meio da rua, desde que os meninos não sejam atropelados. E como ficaria a expressão feminista “Você é um porco chauvinista”? Seria mudada? Acho que, na verdade, eu só chamaria alguém aqui de chauvinista.

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