Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

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quinta-feira, 9 de junho de 2011

Casos de Elevador.

Uma vez um amigo me disse que eu alcançara a fama como escritor, pois ele encontrara meu livro no sebo. Era ironia, provavelmente. Aproveitei a deixa e fui comprar meu livro lá. Mais baratinho. Quem não  pode lê-lo vai conseguir ler, aqui no blog, alguma história que escrevi por lá. Como a de hoje, falando sobre elevador.

Casos de elevador

O que acontece dentro de um elevador até Deus duvida! É um objeto estranho este tal de elevador. Reagimos diante dele de formas variadas. Vai desde o desconhecimento completo, como o daquele indivíduo que sai da roça e vai usá-lo pela primeira vez, até o medo psicológico que temos de lugares fechados. O medo do elevador acontece em qualquer camada social. Conheci uma jovem médica que tinha pavor de entrar naquela minúscula caixa. Uma ex-primeira dama de uma prefeitura do interior não optou pela cobertura em um prédio de classe A por causa do elevador. Daí que o consultório de um psicólogo ou psiquiatra não deveria ser em prédios. Já fiquei sabendo de pacientes que não vão consultar, com medo de entrar no elevador. Fora o risco de possíveis suicidas quando vão ao prédio. Eis aqui  algumas histórias sobre elevador.
Um conterrâneo meu, ao chegar a Belo Horizonte pela primeira vez, estatelou os olhos e a mente diante de tanta formosura e gigantismo da capital. Tudo era novidade para ele, inclusive, e sobretudo, o elevador.
- Pode entrar- disse eu. – Não morde.
Estávamos no Edifício Acaiaca, um dos mais altos edifícios da cidade, na década de 70. Ele entrou e se acomodou no canto. No vigésimo quinto andar, saímos. Ele meteu a mão no bolso, tirou a carteira e falou para a ascensorista: - Quanto é a viagem?
De outra vez, foi um empregado do sítio de meu pai. Ao ser perguntado “que andar”, respondeu: qualquer um, menos o trotão, que hoje estou ruinzinho da barriga...
Neste mesmo prédio, subia eu semanalmente, em 1965 e início de 1966, para assistir a programas musicais na TV Itacolomi. Lá também se concentravam grandes empresas. E foi numa dessas idas que o fato se deu. Era uma tarde de muito calor. No elevador, cinco, dez, quinze, vinte pessoas, sem contar o ascensorista. Mal a porta se fechou, exalou-se um terrível mau cheiro do fundo do elevador, atingindo rapidamente as narinas dos presentes. No primeiro andar, a porta se abriu, e todo mundo saiu correndo. Nem o ascensorista ficou no posto. Aliás, foi o primeiro a abandonar o navio. E lá ficou o elevador, coitado, sem ninguém, curtindo o resultado de um tutu com feijão.
Tem também o caso de um jovem. Primeiro a entrar no elevador, ele fica lá no cantinho. O povo vai entrando, vai entrando. De repente, ele se vê espremido. Encostado nele, uma jovem mulher, bonita, charmosa, perfumada. E o elevador subindo lento, moroso. Ninguém arreda o pé dali. Não é só o elevador que sobe...
Mas o episódio que aconteceu comigo em um grande edifício foi interessante. Chamei o elevador e, pacientemente, fiquei esperando. Quando entrei, vi um passageiro (quem entra em elevador é passageiro?) conversando com o ascensorista.
-Como estão as coisas?
-Mal, né, mas não tem importância porque o mundo vai acabar daqui a pouco.
-É mesmo- dizia o passageiro. – tá tudo atrapalhado. Vai acabar mesmo. Deus vai acabar com o mundo. Você viu o que fizeram com o Papa? Até tentaram matá-lo.
-Pois é, sô, por isso é que vai acabar. Deus falou, que de mil passará, mas de dois mil não passará. Passou. Não sei como. Mas de 2012, não passará.  Não só falou, como escreveu.
Não resisti. Entrei na conversa.
-Como é que é? Deus escreveu?
-Sim, tá lá- completou o passageiro. – “De mil vai passar, mas de dois mil não passará.”
-Uai- retruquei  - pensei que Deus era analfabeto. Que ele não sabia escrever. Será que ele fez o Curso Fundamental?
-Aí viu?- disse com raiva um deles- Por isso é que o mundo vai acabar. Que falta de respeito!
Descobri, então, no elevador que o mundo vai acabar no ano 2012.  E tudo por minha culpa.


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