Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

QUOTIDIANAS



QUOTIDIANAS

Não, não se assustem meus inúmeros leitores. Não errei a palavra. Pode ser assim ou cotidianas. Como sou mais antigo – muito vivido, ou rodado – prefiro a palavra escrita com “q”. Remete-me ao latim “quotidie” e me faz lembrar meu Missal Quotidiano, na época do seminário. Missal era um livro onde tínhamos todas leituras das missas diárias do ano todo. Aqui, neste texto, quero falar de casos, histórias, fatos do dia a dia (agora, sem hífen) que vi, ouvi ou li.
O Aroma.
Diante do trailer do Xisburger, o mendigo se extasiava com o cheiro. O dia inteiro ele passava lá aspirando ao aroma. O dono um dia saiu do trailer com um prato e foi cobrar dele.
“Você está me devendo algo. Todos os dias você fica aspirando o cheiro do xisburger e não paga nada”
O mendigo não disse nada. Pegou umas moedas, soltou-as no prato, mas pegou-as de volta.
“Isto não é justo”, falou o dono.
“Acho que sim – retrucou o outro -. Sinto o cheiro de seu xisburger, mas não como. Você ouve o barulho das moedas, mas não as leva”.

Diante do Restaurante.
Era na região nobre da cidade. O sujeito pobre mas decentemente vestido arregalava os olhos e as narinas diante do restaurante sofisticado na hora do almoço. Um executivo – apesar da pressa – reparou no homem e como estava de bom humor, deu-lhe 50 reais e disse: Vá comer alguma coisa. Mal o homem deu as costas, o pobre subiu ao restaurante e pediu salmão com alcaparras ( mostrou o dinheiro primeiro, para evidenciar que podia pagar).
Poucos minutos depois, o executivo volta e se espana ao ver o pobre se regalando.
“Uê, te dei 50 reais e você vem comer salmão?”
“Olha – falou lambendo a boca para não perder nada – se não tenho dinheiro não posso comer salmão com alcaparras. Quando tenho, não posso; afinal quando é que posso comer salmão com alcaparras?”

Relógio
L. foi a Buenos Aires e se impressionou com a pobreza da população. Tendo comprado uns relógios lindos e baratos, resolveu dar o seu antigo para a mulher que pedia esmola ao lado do hotel. Ela pegou o relógio, olhou e jogou-o longe.
“Por que você fez isto?”
“Gosto de ver o tempo voar”.

No barbeiro
Enquanto esperava a sua vez, fumava. Com menos de 50 anos, tinha muito cabelo, mas branquíssimo. Quando terminou, perguntou o preço. 12 reais? Uai, aumentou? Pagou, mas emendou: você pode me emprestar 2 reais para eu comprar cigarros?
E o corte de cabelo acabou saindo por 10 reais.

Inauguração do shopping
A mãe, diante da insistência da filha – bonita, muito bonita, por sinal – acabou cedendo, colocou rapidamente um xale sobre os ombros e foram ver o shopping que abria as portas pela primeira vez naquele dia, na região leste da cidade. Andando para lá e para cá, percebeu que todos as olhavam. Ficou orgulhosa. Olhavam para a filha, tinha certeza. E assim foi pelos vários andares. Até que um segurança, negro, de olhos de jabuticaba e dentes alvíssimos, chegou perto dela, dando um sorriso, falou: a senhora podia guardar o soutien que está preso em seu xale? Apressada, não percebeu que, enganchado no xale, estava pendurado aquele soutien antigo, rombudo e de cor desbotada. Guardou-o na bolsa, mas continuou o passeio. Impávida.




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