Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

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terça-feira, 27 de maio de 2014

Poema de Bukowski sobre querer ser escritor

 Aproveito o lançamento de meu livro pela Livraria Mineiriana (na Savassi, em Belo Horizonte), em 29 de maio 2014 (os leitores estão convidados a irem lá e prestigiarem),  para  postar um belíssimo poema de um escritor "maldito"estadunidense.

Poeta, contista e romancista Henry Charles Bukowski Jr. é considerado o último escritor maldito da literatura norte-americana. Nasceu na Alemanha, mas se mudou para os Estados Unidos aos 3 anos. Bukowski começou a escrever poesias aos 15 anos mas seu primeiro livro foi publicado somente 20 anos depois, em 1955.

Dotado de um humor ferino e comparado a Henry Miller e Ernest Hemingway, sua obra é marcadamente autobiográfica. O estilo obsceno e coloquial e uma aparente forma descuidada com a escrita com temas recorrentes como: prostitutas, alcoolismo, corridas de cavalos, experiências escatológicas, sempre dividiram a crítica. Para alguns apenas um resquício da geração beat de Jack Kerouac e Allen Ginsberg, para outros — como o filósofo francês Jean-Paul Sartre —, o maior poeta da América.

A partir de uma sugestão de uma leitora, resolvi ler os dez melhores poemas de Bukowski, e achei este bem interessante. Algumas pessoas a quem vendo meu livro dizem que gostariam de escrever um livro também.

O poema vai para todos que desejam ser escritores. Pessoas escrevem e reescrevem continuamente. Outros não veem o que escreveram. 

então queres ser um escritor?

(Tradução: Manuel A. Domingos)
se não sai de ti a explodir
apesar de tudo,
não o faças.
a menos que saia sem perguntar do teu
coração, da tua cabeça, da tua boca
das tuas entranhas,
não o faças.
se tens que estar horas sentado
a olhar para um ecrã de computador
ou curvado sobre a tua
máquina de escrever
procurando as palavras,
não o faças.
se o fazes por dinheiro ou
fama,
não o faças.
se o fazes para teres
mulheres na tua cama,
não o faças.
se tens que te sentar e
reescrever uma e outra vez,
não o faças.
se dá trabalho só pensar em fazê-lo,
não o faças.
se tentas escrever como outros escreveram,
não o faças.
se tens que esperar para que saia de ti
a gritar,
então espera pacientemente.
se nunca sair de ti a gritar,
faz outra coisa.
se tens que o ler primeiro à tua mulher
ou namorada ou namorado
ou pais ou a quem quer que seja,
não estás preparado.
não sejas como muitos escritores,
não sejas como milhares de
pessoas que se consideram escritores,
não sejas chato nem aborrecido e
pedante, não te consumas com auto-
— devoção.
as bibliotecas de todo o mundo têm
bocejado até
adormecer
com os da tua espécie.
não sejas mais um.
não o faças.
a menos que saia da
tua alma como um míssil,
a menos que o estar parado
te leve à loucura ou
ao suicídio ou homicídio,
não o faças.
a menos que o sol dentro de ti
te queime as tripas,
não o faças.
quando chegar mesmo a altura,
e se foste escolhido,
vai acontecer
por si só e continuará a acontecer
até que tu morras ou morra em ti.
não há outra alternativa.
e nunca houve.



sexta-feira, 23 de maio de 2014

Erros que podem prejudicar sua carreira.

Ou já passamos por ela - aposentados -  ou estamos passando, mas a carreira profissional é um tema importante para todos. Li estes conselhos em Portal Carreira & Sucesso, e acho que vale a pena dar uma repensada. Fiz algumas colocações .


Já sentiu como se estivesse fazendo tudo certo, mas simplesmente não consegue atingir a satisfação no trabalho? Esse pode ser o sinal de que você está no modo automático da carreira!

O consultor de RH Manoel Constantino Góis esclarece que, aprender a reconhecer alguns maus hábitos e manter as ambições profissionais no caminho certo são atitudes que contribuem para um avanço contínuo, até mesmo pessoal.
Góis também indica os 5 erros mais comuns  que costumam atrapalhar a maioria dos profissionais ao longo da vida corporativa. Confira!

1. Ignorar relacionamentos

Embora pareça racional que as pessoas só devam ser julgadas de acordo com o seu desempenho, a realidade é que as relações interpessoais importam tanto quanto o primeiro item, na maioria dos casos.
Nenhum homem/mulher é uma ilha.
Alguns profissionais acreditam que manter a cabeça baixa e só entregar o que é pedido é o suficiente. Entretanto, isso é apenas parte do trabalho: preste atenção nas relações com os seus colegas durante o expediente!

2. Não vestir-se para impressionar

No trabalho, um profissional não representa a si mesmo, muitas vezes ele é uma propaganda ambulante da companhia. Por isso, a sua vestimenta transmite um pouco da sua personalidade, seus objetivos profissionais e o quanto leva sua imagem a sério.
Gostando ou não dos assuntos relacionados à aparência, tome o cuidado devido com suas roupas, cabelo e acessórios. Lembrando que não é necessário gastar dinheiro com isso, apenas garanta que esses itens sejam apropriados.

3. Não colocar limites entre interesse pessoal e profissional

Muito do que acontece em nossas vidas pessoais, afeta o nosso trabalho, e vice-versa. Os líderes também sabem disso, portanto, não é necessário apontar problemas particulares – especialmente quando está negociando algo profissional.
Quando o assunto for o tão esperado aumento de salário ou uma desavença com um colega de trabalho, por exemplo, é importante que mantenha a sua argumentação sobre como o seu problema impacta a empresa.
(Mas mesmo você atuando assim, a empresa – diga-se o gerente – pode não estar abert  às colocações. Preste atenção nele.)

4. Trabalhar apenas por dinheiro

Se concentrar apenas no retorno financeiro que o emprego pode te trazer faz com que o profissional perca a oportunidade de viver a experiência de crescer na vida e, ao menor sinal de dificuldade, se torne alguém infeliz com seu trabalho.
Cative as pessoas que tenham o poder de ajudar sua carreira a evoluir, independentemente do valor do seu salário. O prazer em trabalhar não está ligado exclusivamente ao dinheiro.
(Lembro-me de um caso em que toda vez que havia possibilidade de sair da área, ele perguntava: vou ganhar mais? Não ganhou, não era promovido e, ao fim e ao cabo, foi demitido.)

5. Não ter iniciativa

Se você é um colaborador que tem uma posição ativa, seus colegas com certeza notarão. Entretanto, se for o contrário, eles notarão ainda mais, principalmente se têm que direcioná-lo ou lembrá-lo constantemente de tarefas a serem concluídas.
Tome medidas para fazer as coisas acontecerem, ao invés de esperar por um convite ou que uma oportunidade caia no seu colo.




segunda-feira, 19 de maio de 2014

Clube dos 99. Uma lenda moderna.

Li esta historinha e achei curiosa. Afinal temos de ter cuidado com nossos desejos e saber o que queremos mesmo de nossa vida. 
Era uma vez um rei muito rico.
Tinha tudo. Dinheiro, poder, conforto, centenas de súditos.
Ainda assim não era feliz.
Um dia, cruzou com um de seus criados, que assobiava alegremente enquanto esfregava o chão com uma vassoura. Ficou intrigado. Como ele, um soberano supremo do reino, poderia andar tão cabisbaixo enquanto um humilde servente parecia desfrutar de tanto prazer?
- “Por que você está tão feliz?”, perguntou o rei.
- “Majestade, sou apenas um serviçal. Não necessito muito. Tenho um teto para abrigar minha família e uma comida quente para aquecer nossas barrigas”.
O rei não conseguia entender. Chamou então o conselheiro do reino, a pessoa em que mais confiava.
- “Majestade, creio que o servente não faça parte do Clube 99″
- “Clube 99? O que é isso?”
- “Majestade, para compreender o que é o Clube 99, ordene que seja deixado um saco com 99 moedas de ouro na porta da casa do servente”.
E assim foi feito.
Quando o pobre criado encontrou o saco de moedas na sua porta, ficou radiante. Não podia acreditar em tamanha sorte. Nem em sonhos tinha visto tanto dinheiro.
Esparramou as moedas na mesa e começou a contá-las.
-”…96, 97, 98… 99.”
Achou estranho ter 99. Achou que poderia ter derrubado uma, talvez. Provavelmente eram 100. Mas não encontrou nada. Eram 99 mesmo.
Por algum motivo, aquela moeda que faltava ganhou uma súbita importância.
Com apenas mais uma moeda de ouro, uma só, ele completaria 100.
Um número de 3 dígitos! Uma fortuna de verdade.
Ficou obcecado por completar seu recente patrimônio com a moeda que faltava.
Decidiu que faria o que fosse preciso para conseguir mais uma moeda de ouro. Trabalharia dia e noite. Afinal, estava muito muito muito perto de ter uma fortuna de 100 moedas de ouro. Seria um homem rico, com 100 moedas de ouro.
Daquele dia em diante, a vida do servente mudou.
Passava o tempo todo pensando em como ganhar uma moeda de ouro. Estava sempre cansado e resmungando pelos cantos. Tinha pouca paciência com a família que não entendia o que era preciso para conseguir a centésima moeda de ouro. Parou de assobiar enquanto varria chão.
O rei percebeu essa mudança súbita de comportamento e chamou seu conselheiro.
- “Majestade, agora o servente faz, oficialmente, parte do Clube 99″.
E continuou:
- “O Clube 99 é formado por pessoas que têm o suficiente para serem felizes, mas mesmo assim não estão satisfeitas. Estão constantemente correndo atrás desse 1 que lhes falta. Vivem repetindo que se tiverem apenas essa última e pequena coisa que lhes falta, aí sim poderão ser felizes de verdade. Majestade, na realidade é preciso muito pouco para ser feliz. Porém, no momento em que ganhamos algo maior ou melhor, imediatamente surge a sensação que poderíamos ter mais. Com um pouco mais, acreditamos que haveria de fato, uma grande mudança. Só um pouco mais. Perdemos o sono, nossa alegria, nossa paz e machucamos as pessoas que estão a nossa volta. E o pouco mais, sempre vira… um pouco mais. O pouco mais é o preço do nosso desejo.”
E concluiu:
--- “Isso, majestade… é o Clube dos 99"

quinta-feira, 15 de maio de 2014

O que é arbejdsglæde?. Não deixe de ler este texto.

Talvez vocês fiquem bravos comigo. Eu fiquei bravíssimo comigo mesmo. Por que não mudo para lá? Para onde? Para o lugar desta estranha palavra. Este lugar tão longe daqui.



Isto é grego para mim (na época que grego era a língua mais difícil, hoje temos o mandarim)? Nada disto. É dinamarquês. Vamos ler este texto e vermos como estamos longe da Civilização. Encontrei-o em Portal Carreira & Sucesso

Quando o assunto é a felicidade da população, a Dinamarca está no topo do mundo. Um relatório elaborado em 2013 pela Organização das Nações Unidas (ONU) apontou o país europeu como o 1º de 156 países quando falamos de pessoas realizadas com suas vidas.
Ser feliz não está apenas na esfera pessoal do cidadão dinamarquês, mas também no trabalho – o chamado “arbejdsglæde”. Praticamente impronunciável por nós, esse termo significa simplesmente “felicidade no trabalho”, o que o profissional na Dinamarca entende por fatores como ter uma jornada de trabalho equilibrada, não trabalhar longe de casa e ter benefícios vantajosos quando está desempregado.
O site Co.Exist fez uma espécie de brincadeira, comparando o ritmo de americanos e dinamarqueses quando o assunto é dedicação e satisfação com o trabalho, e apresentamos os 5 elementos descritos como essenciais:
1. Jornada de trabalho
Os dinamarqueses tendem a encerrar seus expedientes em um horário onde possam fazer mais alguma atividade no dia. Eles também têm direito a cinco ou seis semanas de férias por ano, têm vários feriados nacionais e até um ano de licença de maternidade/paternidade paga. Enquanto o americano médio trabalha 1.790 horas por ano, o dinamarquês atua por 1.540 horas, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Ainda segundo o estudo, na Dinamarca os profissionais possuem mais horas de lazer do que qualquer outro trabalhador do mundo. Em comparação aos Estados Unidos, a diferença é gritante, já que muitas empresas americanas exaltam o excesso de trabalho como um sinal de comprometimento. Organizações dinamarquesas, por outro lado, reconhecem que os funcionários também têm uma vida fora do trabalho e que trabalhar 80 horas por semana é ruim.
2. Autonomia
Nos EUA, se o chefe dá uma ordem, o profissional simplesmente a executa. Em um ambiente de trabalho dinamarquês, pouquíssimas ordens diretas são dadas, e os funcionários, independentemente do nível hierárquico, são mais propensos a vê-las como sugestões.
(No Brasil existe o lema: manda quem pode e obedece quem tem juízo)
Geert Hofstede, sociólogo holandês, quantificou a cultura corporativa em mais de 100 países, em vários parâmetros, e um deles é a chamada “distância de poder”. A distância de alta potência significa que os chefes são reis incontestáveis ​​cuja cada palavra é lei. Locais de trabalho americanos têm uma distância de energia de grau 40, enquanto ambientes dinamarqueses têm pontuação 18, o mais baixo do mundo.
Por lei, qualquer negócio dinamarquês com mais de 35 funcionários deve abrir espaço em seu conselho administrativo para funcionários. Isto significa que profissionais dinamarqueses têm maior autonomia e poder de decisão.
3. Benefícios para desempregados
Na Dinamarca, perder o seu emprego não é o fim do mundo. Na verdade, o seguro-desemprego parece bom demais para ser verdade, dando aos trabalhadores 90% do seu salário por dois anos. Nos EUA, por outro lado, perder o emprego pode facilmente levar a um desastre financeiro. Isto leva ao bloqueio de trabalho, ou seja, ficar em uma empresa ou atividade que você odeia, pois não pode se dar ao luxo de sair.
4. Treinamento constante
Desde meados de 1800 (mil e oitocentos, que fique claro), a Dinamarca tem se concentrado na educação de seus profissionais. Esta política continua até hoje, com um sistema extremamente elaborada do governo, com a presença dos sindicatos e de políticas corporativas que permitem que praticamente qualquer funcionário possa se desenvolver gratuitamente através de cursos e treinamentos.
Esse processo é chamado de “política de mercado de trabalho ativo”, e na Dinamarca se gasta mais com esses tipos de programas do que com qualquer outro país, segundo a OCDE.
Isto permite que trabalhadores dinamarqueses se desenvolvam constantemente, mesmo em um ambiente de trabalho desfavorável ou mercado em mudança.
5. Foco na felicidade
Apesar de ingleses e dinamarqueses terem fortes raízes em comum, há, naturalmente, muitas palavras que só existem em uma língua e não na outra. E aqui está uma palavra que existe em dinamarquês e não em inglês: arbejdsglæde. “Arbejde” significa trabalho e “glæde” significa felicidade , então arbejdsglæde é “felicidade no trabalho”. Essa palavra também existe em outros países nórdicos (Suécia, Noruega , Finlândia e Islândia), mas não é de uso comum.
Muitos americanos odeiam seus empregos e consideram isso perfeitamente normal. Para a maioria dos dinamarqueses, uma atividade profissional não é apenas uma maneira de receber o pagamento: eles esperam se divertir no trabalho.



domingo, 11 de maio de 2014

Dia das Mães. Texto intrigante.

No dia das Mães, pensando em algo sobre a data, li este texto.  Foi no site Ser em Si. Ainda que se mostre um tanto negativo, é bem interessante. Costumo dizer que, depois de tantas evoluções - na  tecnologia, no pensar - , o comportamento das mães continua no passado, retrógrado, no sentido de muitas vezes não deixarem os filhos viverem por si mesmos. Saindo do lado comercial - horroroso - vamos ao que nos interessa.
 Viva a maternidade madura!

O ser humano, para se tornar uma pessoa madura, precisa de se assentar em um alicerce sólido e sadio. E a estrutura desse alicerce se compõe de 5 pilares, as chamadas fases biológicas: umbilical, oral, anal, genital e sexual. 
Com a ideologia da não referência feminina disseminada pelo saber mecanicista, a tendência é que, progressivamente, a mulher, em seu processo de crescimento e desenvolvimento, não tenha condições de ter a sua fase genital desenvolvida e amadurecida, não ultrapassando, portanto, a fase anal.
Apesar disso, biologicamente ela pode ser mãe. E aqui está a base da principal contradição de nossa cultura! Por isso e para isso, urge uma reflexão mais profunda sobre a função da mãe na construção e evolução dessa cultura.
Cada fase expressa, respectivamente, um dos nossos 5 importantes sistemas autônomos: respiratório, digestivo, excretor, reprodutor e produtor. São eles que sustentam os nossos instintos de sobrevivência e de preservação da espécie. 
Sem seu desenvolvimento natural, normal em toda cultura que busca respeitar as leis da natureza, nossa sobrevivência fica comprometida, como, também, nossa capacidade de reprodução. Se não comprometidas na quantidade, em função dos artifícios que nossa cultura foi criando, certamente bem comprometidas na qualidade, impedindo-nos de viver a dimensão do verdadeiro prazer e de, portanto, gozar a e na vida.
Daí a importância da mãe na construção de uma sociedade mais humana e feliz. As duas primeiras fases, umbilical e oral, estão praticamente nas mãos dela. E como o desenvolvimento correto de uma fase depende do amadurecimento da fase anterior,podemos afirmar que a mãe é a principal arquiteta de nossa estrutura humana. Sem que saibamos respirar e nos alimentarmos de maneira saudável, os demais e subsequentes sistemas autônomos estarão seriamente comprometidos. Talvez por isso a cultura em que vivemos não tenha ainda ultrapassado a fase anal.
E o que mais interfere na evolução de cada uma dessas fases? Cada vez mais estamos convictos de que é a energia material humana produzida pelo casal, que pode ser positiva/vital (fusão genital = sujeito X sujeito) ou negativa/mortal (fissão genital = sujeito X objeto), dependendo, pois, do modelo de relação sexual vivenciado.
Por isso nossa mensagem é sempre no sentido de buscarmos recuperar a verdadeira referência genital feminina, para que a mulher se torne sempre sujeito em suas relações. Só assim nossas mães farão jus a todas as loas que lhes são cantadas. Só assim teremos crianças saudáveis e sadias. Só assim poderemos construir uma sociedade mais justa e mais humana.
A sociedade com que Cristo sonhou, mas que sabendo ser de difícil construção, sob o peso de sua cruz profetizou: “... voltando-se para elas, disse: Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai antes por vós mesmas, e por vossos filhos. Porque eis que hão de vir dias em que dirão: Bem-aventuradas as estéreis, e os ventres que não geraram, e os peitos que não amamentaram!” (Lucas 23,27-31)
Afinal, Ele veio para se contrapor ao saber mecanicista que já estava se fazendo hegemônico e que se alicerça na irreferência feminina, negando a dimensão da energia na matéria. Ele estava consciente de que esse saber iria, cada vez mais, adulterar radicalmente a função da mãe, tirando-lhe o gozo de gerar e de criar os seus filhos.
Porque, mãe é quem gera, mas é, também e sobretudo, quem cuida e zela.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Pobreza e desempenho cognitivo.

O título poderá levar a  pensar  erroneamente que se está reforçando preconceito. Muito pelo contrário. Apresenta-se aqui um conjunto de pesquisas científicas bem sérias. Vamos ao texto.



A sabedoria popular diz que os ricos ficam mais ricos e os pobres mais pobres. E, nesses últimos anos, neurocientistas e economistas que pesquisam a relação entre a pobreza e o desempenho cognitivo têm encontrado algum fundamento para essa afirmação, bem como alguns fatores tratáveis que podem ajudar a romper com esse círculo vicioso.
O desenvolvimento do cérebro humano é determinado basicamente por dois fatores: a genética herdada dos pais e o ambiente no qual a pessoa é criada, desde a gestação até a vida adulta. O nível socioeconômico de uma família influencia diretamente o ambiente onde a pessoa é criada e, consequentemente, afeta a cognição, o desempenho escolar e a saúde mental.
Pesquisas sobre o nível socioeconômico identificaram alguns pontos que ajudam a explicar o seu efeito sobre o desenvolvimento do cérebro, os quais estão listados abaixo:
·         Cuidados dos pais: a qualidade dos cuidados prestados pelos pais tem demonstrado um efeito principalmente sobre o desenvolvimento emocional da criança.
·         Estímulo cognitivo: devido à plasticidade do cérebro, uma criança que cresce num ambiente onde recebe mais estímulos cognitivos, como jogos, livros, entre outros, consequentemente acaba tendo um melhor desenvolvimento cognitivo.
·         Nutrição: a ingestão de nutrientes e calorias influenciam os mecanismos relacionados à cognição e emoção. Famílias de baixa renda tem menos acesso a comidas saudáveis e possuem um risco maior de falta de comida e deficiência nutricional.
·         Exposição a toxinas: devido às condições mais precárias de moradia das famílias de baixa renda, é maior o risco de exposição a toxinas que afetam o desempenho cerebral, como acontece com o chumbo.
·         Estresse: famílias de baixa renda estão geralmente expostas a ambientes com níveis de estresse mais elevados, provenientes do estilo de vida, vizinhança mais perigosa, barulhos, entre outros fatores. Isto pode levar ao estresse crônico e afetar o desenvolvimento cognitivo de toda a família.
O efeito do estresse sobre o desenvolvimento cerebral tem sido muito pesquisado ultimamente e os seus efeitos sobre regiões específicas do cérebro estão cada vez mais claros. O córtex pré-frontal, mais relacionado a funções executivas, e a amídala, relacionada ao controle emocional, são bastante afetados pelo estresse. As regiões pré-frontais que normalmente regulam a amídala são enfraquecidas pelo estresse, permitindo que o cérebro fique mais sensível ao estímulo emocional. O cérebro essencialmente sai do modo lento, mais pensativo, para o modo rápido, mais impulsivo e instintivo. Felizmente, se o estresse encerra, a habilidade cognitiva poderá retornar ao normal.
Porém, um estresse de longo prazo durante a infância, quando as regiões pré-frontais ainda estão se desenvolvendo, podem deixar importantes funções cognitivas, como o controle do impulso, a capacidade de atenção, e a memória de trabalho,  permanentemente debilitadas. Um estudo recente, com um grupo de pessoas com 24 anos de idade que viveram a infância na pobreza e sob estresse de longo prazo, identificou que elas possuíam na média uma menor habilidade de regular a amídala. Ao comparar essa deficiência com a renda atual dessas pessoas, os pesquisadores não encontraram relação, sugerindo que ela foi causada na infância.
Outra linha de pesquisa tem explicado os efeitos do estresse sobre a habilidade cognitiva através da teoria de que a capacidade cognitiva de uma pessoa é limitada e que pode ser consumida com o uso, pelo menos temporariamente. Em experimentos, pessoas que são forçadas a exercer o auto-controle, um aspecto chave para a tomada de decisão no dia-a-dia, mostram evidências de redução do mesmo em tarefas posteriores. Alguns pesquisadores argumentam que a pobreza, devido à preocupação causada pelo estresse, é um estado que consome tanta capacidade cognitiva que pode exaurir o auto-controle rapidamente.
Essas descobertas oferecem uma oportunidade única para entender como os fatores ambientais podem levar a diferenças no desenvolvimento cerebral dos indivíduos. Também podem servir para melhorar programas sociais e diretrizes governamentais, no sentido de aliviar as disparidades causadas pelo nível socioeconômico na saúde mental e desempenho escolar ou profissional.

Fonte:
Hackman, Farah e Meaney, Socioeconomic status and the brain: mechanistic insights from human and animal researchNature Reviews Neuroscience, 11 (Set 2010), 651-659
Kim e outros, Effects of childhood poverty and chronic stress on emotion regulatory brain function in adulthoodProceedings of the National Academy of Sciences of the USA, Nov 2013, 110(46):18442-7




sábado, 3 de maio de 2014

Poema sobre Mentira de Affonso Romano de Sant´Anna.

Estou tão cansado de ler e ouvir mentiras - vindo de todas as partes - que este poema é um bálsamo.

Publicado em diversos jornais em 1980. apesar do tempo decorrido, face aos acontecimentos políticos que vimos assistindo nesses últimos tempos, ele permanece atualíssimo.

 Segundo Affonso Romano de Sant'Anna, foi publicado também em várias antologias, como "A Poesia Possível", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1987, "mas os leitores a toda hora pedem cópias", afirma o poeta.

 A implosão da mentira
 Affonso Romano de Sant'Anna


 Fragmento 1

                Mentiram-me. Mentiram-me ontem

                e hoje mentem novamente. Mentem

                de corpo e alma, completamente.

                E mentem de maneira tão pungente

                que acho que mentem sinceramente.

                Mentem, sobretudo, impune/mente.

                Não mentem tristes. Alegremente

                mentem. Mentem tão nacional/mente

                que acham que mentindo história afora

                vão enganar a morte eterna/mente.

                Mentem. Mentem e calam. Mas suas frases

                falam. E desfilam de tal modo nuas

                que mesmo um cego pode ver

                a verdade em trapos pelas ruas.

                Sei que a verdade é difícil

                e para alguns é cara e escura.

                Mas não se chega à verdade

                pela mentira, nem à democracia

                pela ditadura.

 Fragmento 2

                Evidente/mente a crer

                nos que me mentem

                uma flor nasceu em Hiroshima

                e em Auschwitz havia um circo

                permanente.

                Mentem. Mentem caricaturalmente.

                Mentem como a careca

                mente ao pente,

                mentem como a dentadura

                mente ao dente,

                mentem como a carroça

                à besta em frente,

                mentem como a doença

                ao doente,

                mentem clara/mente

                como o espelho transparente.

                Mentem deslavadamente,

                como nenhuma lavadeira mente

                ao ver a nódoa sobre o linho. Mentem

                com a cara limpa e nas mãos

                o sangue quente. Mentem

                ardente/mente como um doente

                em seus instantes de febre. Mentem

                fabulosa/mente como o caçador que quer passar

                gato por lebre. E nessa trilha de mentiras

                a caça é que caça o caçador

                com a armadilha.

                E assim cada qual

                mente industrial?mente,

                mente partidária?mente,

                mente incivil?mente,

                mente tropical?mente,

                mente incontinente?mente,

                mente hereditária?mente,

                mente, mente, mente.

                E de tanto mentir tão brava/mente

                constroem um país

                de mentira —diária/mente.

 Fragmento 3

                Mentem no passado. E no presente

                passam a mentira a limpo. E no futuro

                mentem novamente.

                Mentem fazendo o sol girar

                em torno à terra medieval/mente.

                Por isto, desta vez, não é Galileu

                quem mente.

                mas o tribunal que o julga

                herege/mente.

                Mentem como se Colombo partindo

                 do Ocidente para o Oriente

                pudesse descobrir de mentira

                um continente.

                Mentem desde Cabral, em calmaria,

                viajando pelo avesso, iludindo a corrente

                em curso, transformando a história do país

                num acidente de percurso.

 Fragmento 4

                Tanta mentira assim industriada

                me faz partir para o deserto

                penitente/mente, ou me exilar

                com Mozart musical/mente em harpas

                e oboés, como um solista vegetal

                que absorve a vida indiferente.

                Penso nos animais que nunca mentem.

                mesmo se têm um caçador à sua frente.

                Penso nos pássaros

                cuja verdade do canto nos toca

                matinalmente.

                Penso nas flores

                cuja verdade das cores escorre no mel

                silvestremente.

                Penso no sol que morre diariamente

                jorrando luz, embora

                tenha a noite pela frente.

 Fragmento 5

                Página branca onde escrevo. Único espaço

                de verdade que me resta. Onde transcrevo

                o arroubo, a esperança, e onde tarde

                ou cedo deposito meu espanto e medo.

                Para tanta mentira só mesmo um poema

                explosivo-conotativo

                onde o advérbio e o adjetivo não mentem

                ao substantivo

                e a rima rebenta a frase

                numa explosão da verdade.

                E a mentira repulsiva

                se não explode pra fora

                pra dentro explode implosiva.

 

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Um texto polêmico sobre o trabalho no Dia do Trabalho

Foi com empenho e alegria que fiz a tradução do inglês (saiu no jornal The Guardian). Mas adorei.  É um verdadeiro petardo para a ideia romântica e adorável do fazer o que amamos e amar o que fazemos. Meus leitores merecem textos fortes, pesados e de conteúdo. Acho que este tem.


Faça o que você ama. Ame o que você faz.
Bonitas palavras, não? Mas será que são verdadeiras e ou corretas? Não, segunda a colunista Miya Tokumitsu do jornal inglês The Guardian.

Segundo ela o FOQVA (Faça o que você ama) se tornou um mantra para nosso tempo. O problema é que ele não nos leva à salvação, mas à desvalorização do emprego – e, pior, à desumanização da grande maioria dos trabalhadores.
Superficialmente o FOQVA é um conselho que nos joga para cima, nos levando a  pensar no que mais gostamos de fazer e ser parte de uma grande empresa.  Mas por que teríamos prazer (trabalhando) e ainda iríamos ganhar por isto?  E para quem se falam estas palavras mágicas?
FOQVA é uma senha secreta das classes privilegiadas que revela seu elitismo transformando a prosperidade em algo nobre. De acordo com esta maneira de pensar, não se trabalha visando uma compensação, mas como ato de amor. Se não acontece algum ganho financeiro é provavelmente porque o trabalhador não mostrou nem paixão pelo que faz e nem eficiência. O objetivo principal deste mantra é fazer o empregado crer que seu trabalho servirá ao seu ego e não ao mercado.
Aforismos normalmente têm muitas origens e reencarnações, mas a natureza do FOQVA é imprecisa. Confúcio, Rabelais, Martina Navratilova foram alguns que já usaram estas palavras. CEOs adoram repetir a frase.
Mas o mais novo propagandista desta frase foi Steve Jobs. Ao dar uma palestra na Standford University em 2005, o CEO da Apple, falando da criação da empresa, inseriu estas palavras:
“Vocês têm que encontrar o que vocês amam. Isto é verdade tanto para o seu trabalho quanto para seus relacionamentos O trabalho vai preencher uma boa parte de suas vidas e a única maneira de se sentirem satisfeitos é fazerem aquilo que vocês acreditam ser um grande trabalho. E única forma de fazer um grande trabalho é amar o que vocês fazem.
Nestas quatro frases, as palavras “vocês” e “seu” aparecem várias vezes. Este foco no indivíduo não surpreende vindo de Steve Jobs, que cultivou uma auto imagem de trabalhador inspirado, casual e apaixonado – todas características que agradam o amor romântico ideal. Jobs mistura tão bem este impressionante ego-trabalhador com sua empresa que seu jeans e camisa de gola rolê  se tornaram um padrão a ser copiado por todos funcionários da Apple, e a empresa o mantém: Faça o que você ame. Vista aquilo que você ama.
Ao retratar a Apple como o trabalho de seu amor individual, Jobs exclui o trabalho de milhares de pessoas nas fábricas da Apple, escondidas no outro lado do planeta – o verdadeiro trabalho que possibilita a Jobs demonstrar o seu amor.
Esta exclusão tem que ser exposta. Enquanto o FOQVA (Faça o que você ama) parece inofensivo e até precioso, ele é auto focado a ponto de ser narcisismo. As frases de Jobs é antítese depressiva da visão do trabalho para todos de Henry David Thoreau. Em “Life Without Principle” ele escreveu: “ seria uma boa economia para a cidade, se ela pagasse a todos os trabalhadores tão bem que eles não se sentiriam que trabalhavam por objetivos menos nobres, meramente pela sobrevivência, mas por objetivos científicos e até morais. Não contrate alguém que faça o seu trabalho por dinheiro, mas aquele que o faz por gostar”.
Vamos admitir, Thoreau não  tinha lá grandes simpatias pelo proletariado (é difícil de imaginar alguém lavando tecidos para pintura por razões “científicas ou mesmo morais”, ainda que com bom salário). Não obstante, ele  quer uma sociedade que faça um trabalho bem recompensado e significativo. Em contraste, a visão “jobsiana” do século XXI nos pede para voltarmos para dentro de nós mesmos. Absolve-nos de qualquer obrigação e reconhecimento do mundo exterior.
Uma conseqüência deste isolamento é a divisão que FOQVA (Faça o que você ama) cria entre trabalhadores, em quase todas as classes. O trabalho se divide em duas classes opostas: aquele amável (criativo, intelectual, socialmente prestigiado) e a que não é (repetitivo, não intelectual e indistinto). Aqueles que estão no campo dos amáveis são na  grande maioria os mais privilegiados em termos de riqueza, status social, educação, características raciais dominantes e poder  político, abrangendo uma pequena minoria da força trabalhadora.
Ignorando a maior parte do trabalho e reclassificando o resto como amor. FOQVA (Faça o que você ama) pode ser a mais elegante forma anti-trabalhador existente.
Para os forçados em trabalhos não amáveis, a história é outra. Sob o credo de FOQVA (Faça o que você ama), o trabalho que é realizado por outros motivos ou necessidades que não seja pelo amor – na verdade  a maior parte dos trabalhos -  é totalmente apagado. No discurso de Jobs, o trabalho não amável mas socialmente necessário é banido de nossa consciência.
Imaginem a grande variedade de trabalhos que possibilitam a Jobs ser o CEO por um único dia. A comida que veio das plantações, transportada por longas distâncias.  Os produtos de sua empresa são embalados, embarcados, propagandeados, filmados. Processados também juridicamente. As lixeiras que são limpas, os cartuchos de tintas que são enchidos. A criação de Jobs vai por ambos os caminhos. Ora, com a vasta maioria dos trabalhadores efetivamente invisível para as elites, ocupadas em seus afazeres amáveis,  como não é surpresa que a luta mais pesada que os trabalhadores enfrentam hoje em dia – diferenças abismais de salários, custos altíssimos para cuidar dos filhos – nem toca de leve nas notícias políticas, mesmo entre as facções liberais?
FOQVA (Faça o que você ama) disfarça o fato de que escolher uma carreira por motivação pessoal é um  privilégio, sinal de uma classe socioeconômica. Mesmo um  design gráfico cujos pais podem pagar seu curso superior e o apartamento para morar, não pode levar em conta o FOQVA (Faça o que você ama) se quiser ter sucesso na carreira.
Se acreditarmos que ser empreendedor no Vale do Silício ou cura de museu ou cientista pesquisador é essencial para sermos verdadeiros conosco mesmos, o que achamos da vida pessoal e desejos dos que arrumam os quartos de hotéis ou que enchem as prateleiras de supermercados? A resposta é : nada.
Trabalhos árduos e mal remunerados é o que os estadunidenses estão fazendo e vão continuar fazendo. De acordo com as estatísticas do Ministério do Trabalho, as duas ocupações de maior crescimento projetado até 2020 serão o “cuidador pessoal e empregado doméstico”, com salários variando de 19.640 dólares a 20.560 dólares por ano em 2010. Elevando certos tipos de profissões para a categoria de dignos e amáveis vai necessariamente manchar o trabalho daqueles que, sem glamour, fazem  o trabalho que mantém a sociedade funcionando, especialmente o trabalho crucial de “cuidador”.
Se FOQVA (Faça o que você ama) mancha ou torna invisível a grande massa de trabalhadores, que nos permitem viver com conforto e fazer o que amamos, ele também causa um grande dano às profissões que pretende celebrar Mas não há lugar em que FOQVA (Faça o que você ama) seja mais devastador do que nas Universidades A média dos estudantes de PH.D, na metade dos anos 2000, renunciou a um dinheiro fácil, em finanças ou no Direito (agora um  pouco mais difícil) para viver com um magro salário para seguir sua paixão em Mitologia Nórdica e ou História da Música Afro-Cubana.
A recompensa para essas vocações  é um cargo acadêmico, - cerca de 41% das Universidades Estadunidenses têm professores adjuntos e contratam instrutores que recebem menos, não tem assistência, nem benefício, nem salas, nem seguro e nem contratos de longa duração.
Há vários motivos que mantêm estes trabalhadores altamente qualificados com Ph.D com salários baixos, entre eles a queda nos custos de um Ph.D. mas o mais forte é como a doutrina do FOQVA (Faça o que você ama) ficou incorporada no meio acadêmico. Poucas profissões fundem a identidade profissional de seus trabalhadores com o resultado de seu trabalho. Porque a pesquisa acadêmica deve ser feita por puro amor é que as condições presentes e a compensação por este trabalho se tornaram um apêndice, se tanto.
Sarah Brouillett, falando do trabalho acadêmico, afirma: “A fé de que nosso trabalho oferece recompensas não materiais e é mais de acordo com nossa identidade do que um trabalho “regular” nos transforma em empregados ideais, quando o objetivo da administração é tirar o máximo de nós com o mínimo de custos”
Muitos acadêmicos gostam de pensar que evitaram  um ambiente de trabalho corporativo e seus valores padronizados, mas Marc Bousquet, em seu ensaio “Nós Trabalhamos”,   diz que a Universidade pode realmente fornecer um modelo de administração corporativa..
Como incrementar o local de trabalho acadêmico e encontrar pessoas com alto nível intelectual e intensidade emocional por cinqüenta ou sessenta horas semanais pagando um salário de atendente de bar ou menos? Existe alguma maneira de termos nossos empregados desmaiando em cima de suas mesas e murmurando “Amo o que faço” diante da sobrecarga de tarefas e um contracheque menor? Como conseguir que nossos trabalhadores façam parte do corpo docente e negar que eles realmente dão duro? Como ajustar nossa cultura corporativa ao campus de tal forma que a nossa força de trabalho caia de amores com o seu trabalho também?
Ninguém está afirmando  que o trabalho agradável deva ser menos agradável. Mas trabalho satisfatório ainda é trabalho e encará-lo  como tal não o solapa de jeito nenhum. Por outro lado,recusando vê-lo  assim, abre a  porta para a exploração e ofende todos os trabalhadores.
Ironicamente, FOQVA (Faça o que você ama) reforça a exploração mesmo dentro daquelas assim  chamadas amáveis profissões, onde o trabalho fora do expediente, mal pago  ou não pago é a nova norma: repórteres de prontidão e que tem dar uma de fotógrafos, publicitários que têm que trabalhar nos finais de semana: 46% dos trabalhadores têm  que checar seus emails mesmo quando doentes. Não existe nada que torna a exploração mais fácil do que convencer os empregados que eles devem fazer o que eles amam.

Em vez de criar uma nação de trabalhadores felizes e autorrealizados, a nossa era do FOQVA (Faça o que você ama) vê surgir o professor adjunto, o estagiário não pago; pessoas que são persuadidas a trabalhar por menos ou até de graça, ou até por uma perda líquida de riqueza. É o caso de estagiários trabalhando por notas, ou mesmo de pessoas querendo trabalhar nas famosas indústrias da moda – de graça – para ter experiência e para o curriculum  (Valentino e Balenciaga, são duas entre muitas).
Não é surpresa que estes estagiários são abundantes em campos altamente desejáveis socialmente, incluindo moda, mídia e arte. Estas indústrias já estão acostumadas a pagar com moeda “social”, em vez de salários reais, tudo em nome do amor. Excluída destas oportunidades, claro, está a esmagadora maioria da população: aqueles que precisam trabalhar por dinheiro. Esta exclusão não só calcifica a imoralidade econômica e profissional, mas também isola estes indústrias da total diversidade de vozes que a sociedade tem a oferecer.
Não é coincidência que  indústrias que confiam pesadamente nos estagiários – moda, mídia e arte – são justamente as femininas. Ora outra conseqüência danosa do FOQVA (Faça o que você ama) é como este mantra usa o  trabalho feminino por pouca coisa ou até sem compensação nenhuma. As mulheres são a maioria da força trabalhadora não paga ou de baixos salários: empregadas domésticas, professoras adjuntas e estagiárias de graça. Superam os homens. O que une todos estes trabalhadores  é a crença de que os salários não deveriam ser a principal motivação pelo que fazem. Supõe-se que as mulheres devem fazer o  trabalho porque elas são as nutridoras naturais e estão ávidas para agradar; afinal elas têm tomado conta de crianças, dos idosos e dos serviços da casa – sem ganhar nada – desde  tempos imemoriais. E falar de dinheiro não é apropriado, “elegante”.
Faça o que você ama e você não trabalhará um dia sequer em sua vida! Antes de sucumbir ao calor intoxicante desta  promessa, é critico perguntar: “Quem  é realmente que está levando vantagem em transformar trabalho em não trabalho?” “Por que os trabalhadores deveriam  sentir que não estão trabalhando quando na verdade eles estão?”  Mascarando os verdadeiros mecanismos de exploração do trabalho que ele está alimentando, FOQVA (Faça o que você ama) é, de fato, a mais perfeita ferramenta ideológica do capitalismo. Se encararmos todo o nosso trabalho como trabalho, forneceremos limites apropriados para ele, exigindo compensação justa e horários humanos que deixem tempo para família e lazer.

E, se fizermos assim, muitos de nós faremos o que realmente amamos



This piece is adapted from an essay that originally appeared in Jacobin magazine.