Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Uma Idéia Interessante.


Não nascemos com manual de proprietário, de como vivermos. Nossa cultura tem enfatizado a forma de como lidar com crianças e adolescentes. Um novo grupo tem aparecido nestes últimos tempos: os velhos, os idosos eufemisticamente chamados de terceira idade, nestes tempos de politicamente correto. Nós – estou incluído no grupo, felizmente – não sabemos muitas vezes como agir neste mundo. Poucos chegavam aos 60 anos no passado. Hoje somos milhões e seremos mais, muito mais nestes próximos anos. Mas, então como lidar conosco mesmos, com nossos parentes, amigos e conhecidos? Que tal vermos algumas dicas, algumas idéias, ou – quem sabe, mandamentos para os velhos. É possível que muitos dos que me acompanham não estejam nesta fase da vida. Mas conhecem velhos e velhas. Li este texto e gostei. Tirem uma cópia e passem para eles. Eles viverão melhor e, sobretudo, quem vive perto deles terá menos ansiedade e menos carga negativa.



OS DEZ MANDAMENTOS DA TERCEIRA IDADE
1)      Não se aposente da vida para se tornar a praga da família. A vida é atividade e o verdadeiro elixir da vida é o dinamismo. Não despreze as ocupações enquanto tiver energia para as lutas cotidianas. Se não tiver nada para fazer vá passear no shopping, jogar baralho na praça... Qualquer coisa, menos aporrinhar os outros!
2)      Seja independente e preserve sua liberdade, mesmo que seja dentro de um quartinho. Quem renuncia ao próprio lar anda na pontinha dos pés para evitar atritos com genros, noras, netos e outros parentes. Se possível more num flat... Já vi o preço: nas capitais fica cerca de 2 mil e 500 reais por mês ( o casal )- viúvo é mais barato- em alguns bairros tem TV a cabo, internet, piscina, sauna, lavanderia, café da manhã servido na mesa, salão de jogos, sala para ver TV com outros moradores- tudo incluído no preço... Você não paga água, luz, internet... E tem bastante gente para conversar, fazer novas amizades. Melhor usar suas economias para ter um final de vida feliz!!!! Não economize no item “moradia”... A próxima vai ser a última e definitiva! Aproveite a penúltima com tudo a que tem direito!!! Um antigo humorista dizia que não queria ser o defunto mais rico do cemitério.
3)      Mantenha o governo de sua própria bolsa. Ajude financeiramente os seus filhos na medida de suas posses; reserve uma parte para emergências. Tenha o melhor plano de saúde que puder pagar.
4)      Cultive a arte da amizade como uma planta rara cercando os familiares e AMIGOS de cuidados especiais como se fossem flores. Se sua memória estiver falhando, anote numa agenda sentimental as datas mais importantes de suas vidas e compartilhe com eles a alegria de estar presente. Como você é um velho do século XXI, aprenda a mexer com a Internet. Programe todos os aniversários em seu email... Ele informará você com antecedência... Você nunca esquecerá nada! Ou use a agenda tradicional, de folhas de papel. Você usará os dedos para passar as folhas. Já é um exercício
5)      Cuide de sua aparência e seja o mais atraente possível.   Não seja daqueles velhos relaxados que exibem caspa na gola das camisas (ou paletós. Idosos adoram paletós) e manchas de gordura na roupa, que revelam o cardápio da semana. Nunca despreze o uso da água e sabão. Vá ao salão de beleza uma vez por mês, pelo menos. A moça vai fazer sua unha, seu pé, cabelo e barba... Não tem preço ficar com ela te agradando por uma gorjeta!   SE VISTA COMO UM LORD!!!!!!!! NADA DAQUELAS BERMUDAS XEXELENTAS, ROUPAS VELHAS DESCORADAS E PUIDAS, MOLETONS E SAPATOS DE VELHO!
6)      Seja cordial com seus vizinhos. Evite implicar com os latidos dos cães, os miados dos gatos, o lixo fedorento na calçada ou o volume do rádio. O bom vizinho é sempre um tesouro, especialmente se os parentes morarem longe. SEJA ESPERTO. USE UM MP3 E OUÇA MÚSICAS COM FONES DE OUVIDO, PARA SE LIVRAR DOS BARULHOS QUE O INCOMODAM. UM FRANK SINATRA, JOBIM, NAT KING COLE... ACALMARÃO VOCÊ E O FARÃO LEMBRAR-SE DOS BONS TEMPOS... SEM SAUDOSISMO... SE ESTIVER DEPRESSIVO ATAQUE DE ELVIS, BEATLES, CREEDENCE, ROLING STONES... TUDO DO NOSSO TEMPO!!!!
7)      Cuidado com o nariz. E não se intrometa na vida dos filhos adultos. Eles são seres com cérebro, coração, vontade e contam com muitos anos para cometerem seus próprios erros.  FECHE A MATRACA! Gostamos tanto de dar palpites.
8)      Fuja do vício mais comum na velhice que é a “PRESUNÇÃO”. A longa vida pode não ter-lhe trazido a sabedoria. Há muitos que chegam ao fim da jornada tão ignorantes quanto no início dela. FAÇA DE CONTA QUE VOCÊ NUNCA VIVEU NADA! EXPERIÊNCIA NÃO SE PASSA! FIQUE SÓ OBSERVANDO OS ERROS E NÃO SE META, A MENOS QUE ALGUÉM TE PEÇA A OPINIÃO... RESISTA À VONTADE DE DÁ-LA. TUDO QUE É DE GRAÇA, NÃO TEM VALOR !       Deixe que a “humildade” seja sua marca mais forte!
9)       Os cabelos brancos não te dão o direito de ser ranzinza e inconveniente. Lembre-se que toda paciência tem limite e que não há nada mais desagradável do que alguém desejar a sua morte. Aprenda a jogar xadrez, usar o MSN, o ORKUT... Ocupe sua mente com outras coisas. NÃO ENCHA O SACO DOS OUTROS.
10)  Não seja repetitivo, contando a mesma história três, quatro, cinco vezes. Quem olha só para o passado, tropeça no presente e não vê a passagem para o futuro.  FIQUE DE BOCA FECHADA E SERÁ UM SÁBIO!  LEMBRE-SE QUE VOCÊ TEM DOIS OUVIDOS E UMA BOCA SÓ : portanto, procure falar menos e ouvir mais.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Texto para ler e refletir

Há escritoras e escritores que são marcantes na vida da gente. Pessoalmente, Octávio de Faria, Manuel Bandeira e Drumond me impactaram fortemente. Entre os mais modernos,Luiz Fernando VeríssimoLispector e Marina Colasanti. Passo para leitura dos que me acompanham este texto-libelo. Doloroso, diga-se, de passagem.

“Eu sei, mas não devia”
Marina Colasanti ( 1972)

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.


quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Pensamentos.

Gostei muito do livro do psiquiatra americano de origem judaica Irvin Yalom, "Quando Nietzsche chorou". O autor já se tinha revelado grande escritor ao publicar, decadas atrás, um alentado livro sobre Psicologia Existencial. Grande leitor, uma cultura extraordinária e bom escritor, ele tem conseguido muitos fãs e leitores pelo mundo afora. Existe um filme sobre o livro, em DVD. Vale ver depois de ler o livro. Pincei algumas frases do livro sobre Nietzsche e as coloco agora em meu blog. A primeira frase, em latim, é reveladora de como as pessoas antigamente tinham mais cultura. Também, não tendo televisão, internet, eles se ocupavam com leituras clássicas. "Primum non nocere", poderia ser: Primeira coisa: não fazer mal a ninguém). Tenham uma boa leitura e uma boa reflexão.

Nietzscheanas


PRIMUM NON NOCERE

Torna-te o que tu és.

TUDO O QUE NÃO ME MATA ME FORTALECE

Morra no momento certo

AMA TEU DESTINO

VIVER COM SEGURANÇA É PERIGOSO

DEUS, O ERRO FINAL NA FALSA BUSCA DE UMA VERDADE DERRADEIRA.


EXPOR-SE A UM OUTRO É O PRELÚDIO DA TRAIÇÃO


AMA-SE O DESEJO, NÃO O DESEJADO

O DESESPERO É O PREÇO PAGO PELA AUTOCONSCIÊNCIA


GRANDE PAIXÃO É NECESSÁRIA PARA DERROTAR A PAIXÃO


QUEM NÃO OBEDECE A SI MESMO É REGIDO POR OUTROS


O ESPÍRITO DE UM HOMEM SE CONSTRÓI A PARTIR DE SUAS ESCOLHAS.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Comentárioos sobre um filme.

 Uma de minhas paixões é o cinema (as outras duas são livros e chocolate suiço). Anos atrás, quando se completaram cem anos da invenção do cinema, vi cem filmes em um ano. Minha média é de 80 filmes anuais. Prefiro vê-los no cinema, do que em vídeo. Gosto de quase todos os tipos de filmes. Menos os de terror.Do filme de guerra, prefiro aqueles que fazem pensar, refletir e nos escandalizar com a estupidez humana envovida nos conflitos bélicos. Agora, vi, em video, um bom filme.

O Mensageiro . Possui uma trama forte, dramaticamente impactante (trata da morte de milhares de soldados norte-americanos na guerra do Iraque e dos efeitos produzidos por estas baixas nas vidas de suas famílias e principalmente daqueles responsáveis por levar a elas a notícia de suas perdas).  Imagine dois miliares que vão dar a noticia para as famílias de que o filho ou filha morreu. Ou esposo. As reações das pessoas que recebem a notícia são múltiplas. E os dois soldados, frios inicialmente, se modificam com o pasar do tempo e das noticias dadas. O mais velho e mais experiente neste tipo de trabalho ensina ao mais novo. Usa ironia, sarcasmo e crítica. Também vai ripúdiar em cima da glamourização da IDA  dos soldados para a guerra, como se nada fosse acontecer com eles. Há detalhes surpreendentes, mostrando como nos enganamos ao pensar sobre o comportamento de alguém, sem saber o que estava acontecendo minutos antes. O final, mesmo não sendo nem feliz e nem infeliz, deixa no ar uma possibilidade. O  trio de atores está afinadíssimo. E muitas questões são levantadas: é justo se envolver afetivamente com alguém destroçado pela morte? O Exército trata bem seus soldados, como coloca um dos personagens? O soldado que volta ao campo de batalha por mais de duas vezes, ele está fugindo do convívio familiar? Cada visita a uma das famílias enlutadas se torna mais e mais pungente e dolorosa: um grande feito do diretor, Oren Moverman. Um filme triste sobre pessoas tristes. Mas que deve ser visto.




sábado, 18 de setembro de 2010

Em época de Eleições.

Existem várias maneiras de encarar as eleições. Ou participamos atrivamente, quer dentro de um partido politico, ou mesmo se posicionando claramente a favor ou não de um político ou partido. Ou não queremos saber de nada. Afinal, todos os políticos são do mesmo saco (e provavelmente cheio de coisas nojentas). Ou tiramos proveito da situação: só votamos em alguém se ele nos beneficiar direta ou indiretamente (nessa época de corrupção desenfreada, lançamos o libelo: ou acabem com essa corrupção ou nos arrumem uma "boquinha"). Visão crítica também acontece. E também as bem humoradas. Prefiro estas últimas. Anos atrás, escrevi uma crônica, defendendo o psicólogo ou psiquiatra a cargos executivos. Êis a crônica.


PARA GOVERNADOR, UM ANALISTA


         Em uma das eleições americanas, pela primeira vez na história do país um psiquiatra era candidato a governador. Este fato foi saudado por uma série de acontecimentos, desde algumas piadas envolvendo psiquiatras, até um artigo bem humorado de Roger Rosemblatt na revista Times.
            Como estamos vivendo momentos de eleição no país, achei conveniente transpor o ensaio de Mr. Rosemblatt para nossa realidade.
            Desta maneira, um candidato psiquiatra ou psicólogo ao cargo de governador teria várias vantagens e alguns senões. Um dos empecilhos seria se o governador analista (incluindo aí o psiquiatra ou o psicólogo ) cobrasse as audiências    como se fossem sessões e se aquelas demorassem sempre 50 minutos. E, quando houvesse congresso de psicólogos e psiquiatras ele participaria? Porém, as vantagens são em maior número. Vejamos.
            Pode-se dizer tudo a um analista; não se deve esconder nada. Até as coisas mais graves. E sem censura. Ele só ficaria aparentemente chocado se houvesse boas notícias.
            Um analista leva todo mundo a sério. Isto é de extrema importância para as minorias – que já estão se tornando maioria-, e para os prefeitos do interior, que sempre estão achando que ninguém lhes dá o devido valor e nem mesmo os ouve.
            Um analista procura descobrir as coisas subjacentes, inconscientes. Diga-lhe que os professores estão fazendo greve e que os médicos do SUS não querem mais atender os pacientes, e ele dirá: por que está ocorrendo tais coisas com eles? Qual sua motivação inconsciente? O que eles estão querendo dizer com isto, além do óbvio “salário baixo”.
            Os analistas conseguem chegar bem ao fundo do problema: “Fale-me de suas fobias e lhes direi de que têm medo.” Os analistas creem, acreditam piamente, que os problemas serão resolvidos. As enchentes, por exemplo.
            Além dessas características que os indicariam para o cargo os analistas possuem outras peculiaridades de suma importância. São quase que uniformemente liberais, são contra as guerras e possuem uma voz suave, e que parecem que saem de dentro da gente e não deles mesmos. Além do mais, têm o seu próprio linguajar, o que virá trazer novas contribuições ao léxico político: temos como “posicionamento”, “insidioso”, “ complexos”, “fixação”, etc. Eis alguns exemplos de linguagem comum, linguagem política e linguagem analítica : o leitor comum diz “ outros candidatos”; o político , “ adversários” e o analista , “personalidades paranóicas”. O repórter vira jornalista político e acaba sendo “voiaeurista” para os analistas e assim por diante. Mas o bom mesmo é a capacidade que o analista tem de lidar com as pessoas em situação de pressão como acontece com as entrevistas aos repórteres.
Repórter: “ Governador, o que o senhor acha das mordomias ?”
Governador/ analista: “Você poderia me ajudar a entender melhor a sua colocação? “
Ou 
Repórter: “ Governador como vamos enfrentar esta ameaça de depressão “
Governador/analista: “Depressão?????????????? ”
            Para o analista as coisas não são como parecem ser. “O povo está contra o governo.” Diz um de seus secretários.  “É um problema de identificação, e na realidade ele está ambivalente com o governo. Gosta dele, mas diz que não gosta.”
            E tem mais: o analista acredita nos sonhos. Imaginemos um cabo eleitoral do governador/ analista contando para ele o sonho que tem de construir sua casa própria em terreno doado pelo Estado.
            “No seu sonho o terreno fica face sol ou face sombra, ele é inclinado ou é reto?”
            Além do mais, o analista é capaz de perdoar, de esquecer o passado ou, pelo menos de usar o passado para conhecer o presente. E as piadas? Ah, é mesmo esquecia-me delas:
Cliente: “Doutor, tenho a impressão de que quando eu falo ninguém me entende.”
Governador/analista: “Por favor, repita tudo outra vez. Não entendi.”






quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Os Mitos do Comportamento Humano.

Acabou de ser publicado um livro muito interessante: “Os 50 Maiores Mitos Populares da Psicologia – Derrubando famosos equívocos sobre o Comportamento Humano”. Eis os autores: Scott O. Lilienfeld, Steven Jay Lynn, John Ruscio e Barry L. Beyerstein. Editora Gente.
Quer para os profissionais da psicologia, quer para o público em geral, vale a pena dar uma olhada nestes mitos. É através do conhecimento que mudamos nosso modo de pensar.
Escrevo aqui alguns destes mitos, com alguns comentários.

- Mito - Os "gordinhos" são mais alegres e simpáticos do que as pessoas não obesas.
Fato - Existe pouca relação entre obesidade e alegria; na verdade, a maioria das pesquisas sugere fraca associação positiva entre obesidade e depressão. Então, pare de comer, pensando que você será um gordinho agradável e bem humorado. Um novo Jô Soares.

- Mito - Muitas vezes, os antidepressivos transformam as pessoas em "zumbis".
Fato - Os antidepressivos não tornam as pessoas extremamente apáticas ou inconscientes dos acontecimentos ao seu redor. Ministrados por um profissional e de acordo com as necessidades do paciente, eles podem auxiliar o tratamento. O supermoderno “bipolar” pode e deve ser tratado sem medo.

- Mito - A maioria das fobias está relacionada diretamente a experiências negativas com o objeto do medo.
Fato - A maioria dos portadores de fobias não relata nenhuma experiência traumática direta com o objeto de seu medo Então nada de querer justificar o medo de cachorro com aquela sua experiência com  o cachorrão do vizinho.

- Mito - Doenças psicossomáticas estão inteiramente na "cabeça das pessoas".
Fato - Doenças psicossomáticas, agora chamadas transtornos psicofisiológicos, são verdadeiras condições físicas causadas ou agravadas pelo estresse e por outros fatores psicológicos. Incluem a asma, a síndrome do intestino irritável e algumas dores de cabeça. Aqui mora o perigo. Você poderá morrer de uma doença “psicossomática”, se ´pensar que tudo está  SÓ na sua cabeça.

- Mito - "Contar carneirinhos" ajuda as pessoas a adormecer.
Fato - Os resultados de um estudo mostram que instruir insones a contar carneirinhos na cama não os ajuda a dormir. Pare com isto. Vá tomar um chá ou leite morno. Ou leia. Você pode não acabar com a insônia, mas ficará mais culto.

- Mito –Despertar um sonâmbulo é perigoso.
Fato - Despertar um sonâmbulo não é perigoso, embora possa provocar desorientação. Esse mito estava vem arraigado.

­- Mito - As memórias de tudo o que vivenciamos são armazenadas permanentemente em nosso cérebro, mesmo que não possamos ter acesso a todas elas.
Fato - Não há nenhuma evidência para essa afirmação; além disso, o nosso cérebro não é grande o suficiente para armazenar as lembranças de tudo o que vivenciamos. Portanto, não nos preocupemos se não conseguimos nos lembrar de tudo.

- Mito - A satisfação conjugal aumenta após os casais terem filhos.
Fato - A satisfação conjugal despenca consistentemente após os casais terem filhos, embora em geral volte a aumentar mais tarde. Hum... Sem comentários.

- Mito - A maioria dos psicopatas não tem contato com a realidade.
Fato - A maioria dos psicopatas é completamente racional e consciente de que suas ações estão erradas, mas eles não estão preocupados com isso. Ou melhor, não se sentem culpadas. Vejam os casos que saem nos jornais.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Picasso Devasso. Um poema do autor do blog.

Alguns anos atrás, uma colega psicóloga ficou chocada com a exposição das pinturas de Picasso exibidas no Palácio das Artes. E soltou a palavra "picante" para descrevê-las. Isto me dei a idéia de um poema. Anos mais tarde, mostrando para meu professor de Criação Literária, ele se entusiasmou com a forma do poema e insistiu para eu publica-lo. Remeto-o para as considerações dos leitores.


PICASSO DEVASSO



Mário Cleber da Silva





Picasso

picante

devasso

pintante

não viu

os sedosos

longos

e belos

cabelos

dela.

O máximo.

Nem o seu

sorriso

lindo

largo

aberto.

Nem sentiu

a pele

macia

do corpo,

o roçar

da boca

na face

rosada

cansada

do pintor.

Houvesse

visto

sentido

roçado,

iria pro

espaço.

Picasso

devasso.







quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Sobre e de Rubem Alves.

Há escritores ou cronistas que são quase como unanimidade (apesar de o grande cronista Nelson Rodrigues ter dito que toda unanimidade é burra). A Marta Medeiros, por exemplo. Nove entre 10 mulheres gostam dela e a leem - entre os homens, os leitores são em menor número. Com Rubem Alves acontece a mesma coisa. Eu não lia seus textos. Uma vez, o vi na televisão e não gostei de sua voz. Depois, fiquei conhecendo uma fã dele e comecei a ler os seus textos. Sua história pessoal - nascido em Lavras, pastor protestante em Bh, destituido do cargo e convidado a sair da denominação a que pertencia -, tudo isto me cativou. Sobretudo as críticas veladas ou abertas à relilgiosidade tradicional e , diria, tacanha das autoridades religiosas, e também seu lado poético. Fui vê-lo no palácio das Artes, acompanhado daquela "fã" (será que eu queria vê-lo ou ficar perto da fã?). Até comecei a gostar de sua voz. Irônico, cáustico, bem humorado e detonando alguns conceitos ultrapassados da religião, ele me conquistou definitivamente. E daí pra frente não deixei de ler seus textos, de recebê-los com alegria e enviá-los para amigos. Hoje recebi um deles. Ele toca em temas importantes: a morte que se avizinha, o gosto por escrever, o "degustar" da leitura ("degustar também me é muito caro em minha vida pessoal: lembra-me alguém). Passo para vocês agora este belo texto de Rubem Alves. Degustem-no.

OS IPÊS AMARELOS


Rubem Alves



Uma professora me contou esta coisa deliciosa. Um inspetor visitava uma escola. Numa sala ele viu, colados nas paredes, trabalhos dos alunos acerca de alguns dos meus livros infantis. Como que num desafio, ele perguntou à criançada: "E quem é Rubem Alves?". Um menininho respondeu: "O Rubem Alves é um homem que gosta de ipês-amarelos...". A resposta do menininho me deu grande felicidade. Ele sabia das coisas. As pessoas são aquilo que elas amam.

Mas o menininho não sabia que sou um homem de muitos amores... Amo os ipês, mas amo também caminhar sozinho. Muitas pessoas levam seus cães a passear. Eu levo meus olhos a passear. E como eles gostam! Encantam-se com tudo. Para eles o mundo é assombroso. Gosto também de banho de cachoeira (no verão...), da sensação do vento na cara, do barulho das folhas dos eucaliptos, do cheiro das magnólias, de música clássica, de canto gregoriano, do som metálico da viola, de poesia, de olhar as estrelas, de cachorro, das pinturas de Vermeer (o pintor do filme "Moça com Brinco de Pérola"), de Monet, de Dali, de Carl Larsson, do repicar de sinos, das catedrais góticas, de jardins, da comida mineira, de conversar à volta da lareira.

Diz Alberto Caeiro que o mundo é para ser visto, e não para pensarmos nele. Nos poemas bíblicos da criação está relatado que Deus, ao fim de cada dia de trabalho, sorria ao contemplar o mundo que estava criando: tudo era muito bonito. Os olhos são a porta pela qual a beleza entra na alma. Meus olhos se espantam com tudo que veem.

Sou místico. Ao contrário dos místicos religiosos que fecham os olhos para verem Deus, a Virgem e os anjos, eu abro bem os meus olhos para ver as frutas e legumes nas bancas das feiras. Cada fruta é um assombro, um milagre. Uma cebola é um milagre. Tanto assim que Neruda escreveu uma ode em seu louvor: "Rosa de água com escamas de cristal...".

Vejo e quero que os outros vejam comigo. Por isso escrevo. Faço fotografias com palavras. Diferentes dos filmes, que exigem tempo para serem vistos, as fotografias são instantâneas. Minhas crônicas são fotografias. Escrevo para fazer ver.

Uma das minhas alegrias são os e-mails que recebo de pessoas que me confessam haver aprendido o gozo da leitura lendo os textos que escrevo. Os adolescentes que parariam desanimados diante de um livro de 200 páginas sentem-se atraídos por um texto pequeno de apenas três páginas. O que escrevo são como aperitivos. Na literatura, frequentemente, o curto é muito maior que o comprido. Há poemas que contêm todo um universo.

Mas escrevo também com uma intenção gastronômica. Quero que meus textos sejam comidos pelos leitores. Mais do que isso: quero que eles sejam comidos de forma prazerosa. Um texto que dá prazer é degustado vagarosamente. São esses os textos que se transformam em carne e sangue, como acontece na eucaristia.

Sei que não me resta muito tempo. Já é crepúsculo. Não tenho medo da morte. O que sinto, na verdade, é tristeza. O mundo é muito bonito! Gostaria de ficar por aqui... Escrever é o meu jeito de ficar por aqui. Cada texto é uma semente. Depois que eu for, elas ficarão. Quem sabe se transformarão em árvores! Torço para que sejam ipês-amarelos...

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Uma Crônica para Belo Horizonte.

Vivi dois momentos distintos em Belo Horizonte. O primeiro, entre os meus 20 e 27 anos, depois de sair do Seminário Maior de Mariana. Dois empregos neste período, um curso de Psicologia e um Curso de Tradutor em inglês. O segundo, aos 40 anos, quando ingressei na Fiat como psicólogo. Lá, fui instado a participar do Primeiro Concurso de Crônicas e Contos na Indústria. "Pobre de ti, Belo Horizonte" foi um dos cinco finalistas.
De todas as cidades em que vivi, Belo Horizonte é a mais querida. Passo agora, para os que acompanham este blog, a pungente crônica sobre a capital dos mineiros.

Pobre de ti, Belo Horizonte

Não corri por tuas ruas empoeiradas ou enlameadas nos períodos de chuvas quando criança. Nem ao menos joguei “pelada” com outros meninos. Não trepei em árvores, não comi jabuticabas no pé, não chupei mangas no quintal do vizinho nem comi goiaba bichada. Tampouco estudei no Colégio Arnaldo. Não vi o asfalto correndo em direção aos bairros, não fui espectador do crescimento de tuas ruas nem da construção de tuas casas. Não vi a fundação da vetusta Faculdade de Direito e nem da de Engenharia. Não presenciei, triste, a derrubada de tuas árvores ou o surgimento das praças. Enfim, estive ausente por muito tempo. A vida passou por tuas ruas sem mim. Só fui beber de tua água (que às vezes desaparece das torneiras) bem mais tarde, já homem feito, com família para cuidar. Mas ainda encontrei as casas sem os muros altos na frente, cachorro bravo no quintal e espigões cheios de moradores. Mesmo longe, muito longe no tempo, ouviam-se os gritos do verdureiro ou a buzina do padeiro entregando o pão em casa.
Pois bem, de lá para cá tudo se transformou.
Já não ouço os sinos da catedral ou da Igreja São José, com os ouvidos ensurdecidos pelo barulho de motos e carros envenenados.
Já não vejo janelas e portas abertas. As primeiras têm grades: as segundas estão cobertas por muros altíssimos. Cachorros de maus bofes rondam as casas. Já não é a mesma esta minha Belo Horizonte.
Onde estão os teus meninos?
Nos sinais de trânsito, vendendo frutas. Roubando colares das velhas senhoras. Assaltando idosos no meio da rua. Mendigando nas portas dos cinemas, na entrada das lanchonetes. Tomando conta de carros (senão, riscam-nos). Jogando nas casas de videogame, naquelas máquinas infernais. Uns cheiram cola de sapateiro; outros, drogas mais fortes. Alguns morrem atropelados enquanto saqueiam caminhões acidentados nas rodovias, em busca de comida. Têm fome. Assim como aqueles que brigam por frangos (vivos) de uma carreta tombada.
Onde estão teus adolescentes?
Os miseráveis, fazendo o mesmo que os meninos (pilhando, atacando, implorando); os abastados, entulhando os shoppings na paquera descompromissada.
Onde estão teus homens e tuas mulheres?
Desempregados, sem escola para pôr os filhos, com os barracos invadidos pela água da chuva, com suas posses (míseras posses) levadas pela enxurrada e pela lama. Ou em direção ao emprego mal remunerado, presos no trânsito engarrafado.
Enquanto isto, roubam tuas casas. Assaltam teus apartamentos. Seqüestram tuas crianças. Pipocam greves. Os motoristas, os empregados públicos, os médicos, os petroleiros... Greve a-Deus-dará.
Vive-se sobressaltado, amedrontado, preocupado. A qualidade de vida se deteriora.
Teus velhos, abandonados, jogam dama na Praça Sete, sobrevivendo com salários miseráveis.
O centro está coalhado de gente. Vendedores de bugigangas mil fazem de tuas ruas um imenso mercado persa, sem tapetes, mas com produtos paraguaios.
Pobre de ti Belo Horizonte. Teus filhos sofrem. Não mais se alegram, não caminham tranquilamente pelas tuas praças e avenidas.
Há algo de triste no ar.
Há algo de triste na terra.
Belo Horizonte não é mais a cidade vergel, a cidade jardim.
Choro por ti, ó minha pobre Belo Horizonte.
Morituri te salutant. Estas eram as palavras que os primeiros cristãos diziam antes de morrer na arenas do Coliseu ( pelo menos é o que me lembro desta história. Si è vero non lo so). Transformaria a frase em algo como: legendi te salutant: os que vão te ler te saudam. ou mais prosaicamente: sejam benvindos ao meu blog.
Sou psicólogo e, como gosto muito de ler, escrever, ir ao cinema e ficar sabendo das coisas que acontecem ao meu redor, os meus assuntos serão psicologia, inteligência emocional, filmes, contos, crônicas, poesia e discussões de assuntos da atualidade.